Cada um de nós recebe cotidianamente uma dose maciça de informações das mais variadas naturezas. A informação inclusive tornou-se um dos principais instrumentos para valorar a relevância de pessoas, da mídia de forma geral. No entanto, a vida de boa parte das pessoas parece escoar entre avalanches de informações absolutamente obsoletas e irrelevantes para a conformação e modelagem da sua felicidade, do seu bem-estar. Portanto, no universo da informação, sobrevive melhor quem garimpa melhor..
Cabe ao ser humano a tarefa sempre saudável e necessária do exercício do discernimento. Faculdade esta que está atrelada a outros dons e habilidades passíveis de serem desenvolvidas, como a racionalidade crítica e autocrítica. Discernir implica a capacidade de avaliar de forma equilibrada a realidade em busca de soluções e respostas satisfatórias para os dilemas e angústias da existência. E esse exercício avaliativo exige a sabedoria de quem sabe diferenciar entre o que é importante e o que não é importante; entre o que convém e o que não convém. E nisso tangenciamos o universo da ética!
Não podemos esquecer que o ser humano carrega em si o potencial da transformação, o potencial da superação de seus próprios limites, de suas próprias fraquezas e fragilidades. Com isso não está dito que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, possa gerenciar ou determinar a sua própria salvação. A salvação é dádiva divina à qual se adere mediante a fé. No entanto, na condição de criação divina, o ser humano é co-responsável pelos rumos da sua vida.
Muitas das informações que recebemos diariamente afetam nossa alegria e nosso ânimo, porque dissecam diante de nossos olhos e demais sentidos manifestações caóticas do espírito humano. E lamentavelmente muitos vão se acostumando. Vão assumindo que esta é a regra e que não há outras perspectivas. E sem que se dêem por conta, começam a reproduzir os mesmos padrões: padrões de violência, padrões de indiferença, padrões de uma exacerbada egolatria, para a qual não interessa o outro, a outra; para a qual cada um se basta a si mesmo.
Não é esse o limite do humano. A dinâmica da criação projeta e lança o ser humano para possibilidades que superam as suas crises, frustrações e vícios. O ser humano é dado à cultura. Por isso convém reafirmar que a cultura da violência pode ser combatida por uma cultura de paz. A cultura da indiferença pode ser combatida por uma cultura de solidariedade. A cultura do vício pode ser combatida por uma cultura do amor, do carinho e do afeto. A cultura do egoísmo e do individualismo pode ser combatida por uma cultura da comunhão, do vivenciar comunidade.
Garimpar. Discernir. Avaliar critica e autocriticamente a realidade. Estas são balizas que podem ajudar a colocar pessoas, famílias e instituições num caminho em que se cultivam positivamente as possibilidades do espírito humano. Convém garimpar informações. Nem tudo que chega a nós como informação importante, efetivamente o é. Convém discernir, ponderar a diferença entre o que serve para edificar a vida e o que não serve; o que aumenta o seu valor e sua dignidade e o que a fere. Convém exercitar-se na crítica e na autocrítica. Nem sempre os outros, por mais importantes que sejam, têm razão. Nem sempre nós temos a razão...
O ser humano pode alçar vôo por sobre suas fragilidades. Pode encontrar caminhos para vencer o que, causado por ele mesmo, o carcome. Isso é manifestação da preciosa graça de Deus que sempre de novo se revela. Bem-aventurados são todos e todas que se tornam instrumentos dessa graça! E que se multipliquem entre nós!
Mauro Alberto Schwalm
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
na Paróquia Cristo Bom Pastor
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 02/08/2002