Jesus Cristo diz: Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles. (Mateus 18.20)
São palavras de estímulo à oração e de intercessão. Jesus anima a orar em pequenos grupos, duas ou três pessoas são animadas a pedir ou agradecer a Deus. O texto é por demais conhecido em nossas comunidades. Às vezes até é lido com leviandade para justificar o pequeno número de pessoas presentes nos encontros. Mas o destaque numérico que Mateus dá aposta na unidade ou unanimidade daquilo que se quer, se pede. A oração no contexto antigo como atual está ligado e depende da prática comunitária. Em oração pede-se o perdão, a reconciliação de pessoas que pecam e com isso causam o sofrimento e a divisão na comunidade. A oração faz parte da liturgia celebrativa. E, a celebração não depende do número reunido, duas ou três pessoas reunidas em nome de Deus são suficientes para que o culto aconteça. Na verdade para Jesus não importava a quantidade, mas a qualidade.
A presença de Cristo não se restringe ao número reunido dominicalmente em nossas comunidades ou paróquias, mas ressalta o jeito como celebramos a vida, resolvendo conflitos cotidianos, movidos por diálogo pessoal e comunitário, que promovem processos de perdão, reconciliação, de inclusão. Assim, como Deus, também nós devemos alegrar-nos somente com a inclusão, com o “encontrar e ganhar quem está perdido”, e não com sua condenação e exclusão. (Pa. Ivone Richter Reimer).
Reunidos na comunidade com Cristo e em Cristo, não me coloca em lugar superior ou inferior. A comunidade coloca-me em convívio constante com outras pessoas, diferentes, não apenas iguais. Esta convivência também causa transformação na pessoa que vive em comunhão com Cristo.
Saulo de Tarso, o arquiinimigo dos Cristãos, religioso radical que matava, encerrava no cárcere e constrangia os que pensavam diferente da sua religiosidade, ao tornar-se seguidor de Jesus abriu o leque da sua inteligência para compreender os diferentes.
Além disso, Paulo elevou a tolerância religiosa ao mais alto patamar no segundo capitulo da Carta aos Romanos. Ele teve a ousadia de dizer que os que julgam e excluem os outros condenam-se a si mesmos. E completou afirmando que Deus olha para a consciência humana, perscruta os pensamentos, as intenções, e não a prática religiosa exterior.
Convívio em comunidade que confessa Cristo requer tolerância. Pois vejam, aquele que mais atacou e descriminou os cristãos teve que aprender também e chega a dizer que o projeto de Deus inclui toda humanidade. Indica dessa forma que o Deus dos cristãos se entrelaça com o Deus dos judeus, muçulmanos, dos budistas, dos que não professam qualquer religião.
Interpreto o convívio e a tolerância como se fosse o clamor do Pai-Nosso afirmando que Deus enxerga muito além dos rituais religiosos e da adoração formal. Nós nos acostumamos com culturas religiosas e formas, mas Deus é um Pai que compreende a linguagem profunda de cada ser humano, mesmo aquelas linguagens que jamais ganharam sonoridade.
Paulo não deixou de defender o que pensava. Discorria sobre Jesus Cristo com todas as letras e ia pouco a pouco dissipando seu radicalismo e incorporando a sublime tolerância do próprio Jesus. Temos muito que aprender no convívio tolerante, sem, no entanto perder a nossa identidade cristã.
Pastor Sinodal Inácio Lemke