O ser humano vive da necessidade constante de mudança. E estas mudanças devem ocorrer de maneira ordenada e planejada. Pelo menos era assim até a pouco tempo. A gente tinha bem definido a realidade rural, a sua cultura, religiosidade e costumes. Assim era também com o ambiente urbano. Tanto o interior quanto a cidade sofreram mudanças nos últimos anos. Perderam o seu jeito de ser.
A pequena cidade tinha um jeito. Começava pela Igreja no centro. A Igreja regulava a vida, o ritmo e oferecia uma lógica e uma organização na vida das pessoas. A realidade atual desfez essa lógica. Quanto mais avança a tecnologia, mais se desfaz a centralidade da Igreja, sua orientação na vida de fé. A Igreja como templo continua se localizando no centro, mas cultural e religiosamente ocupam-lhe o lugar outras tendências e outros valores da sociedade moderna.
A religiosidade das pessoas não desapareceu. Modificou-se. Em vez das práticas religiosas e condutas éticas virem da Igreja, deslocam-se para o indivíduo, para a esfera de suas escolhas livres e autônomas. Em termos de religião, as pessoas procedem como se fossem às compras no mercado: compram o que desejam, o que se oferece como a solução dos problemas. Assim, em vez de testemunhar Jesus e o Evangelho, passa-se a oferecer um mercado de ritos religiosos. A fé cristã tem uma resposta radical a tal sedução ou tentação.
Quando Jesus iniciou sua atividade de pregação do Evangelho, ele não se acomodou às expectativas de seu tempo nem se sujeitou ao mercado religioso dominante. Contrariou radicalmente a cultura religiosa de seu tempo. Sem rodeios anunciou: “Convertei-vos. Credo no Evangelho”. Essa é a resposta que a fé cristã necessita anunciar hoje. A vivencia da fé não poder estar aprisionada à esfera dos desejos pessoais. A fé cristã remonta a manifestação da graça de Deus, da gratuidade, da liberdade. Aceita a pessoa na sua condição humana, justa e pecadora. E por levar em conta a experiência do convívio com o outro, respeitando a sua condição humana, a fé cristã é essencialmente comunitária. E vida em comunidade faz da experiência da fé um serviço ao próximo.
Assim, temos muito que dizer e a fazer como comunidades cristãs. A experiência da resistência ativa contra os modismos religiosos vai permitir um anuncio coerente do Evangelho de Jesus Cristo. Na atualidade, cada vez mais, o Evangelho de Jesus Cristo necessita ser anunciado como o caminho, a verdade e a vida. Por isso não podemos deixar de testemunhar e agir.
P. Renato Küntzer