Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco.
E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. (João 20.19-20)
As mãos contam histórias. Ao cumprimentar alguém, você toca na mão daquela pessoa. O que você percebe? Se a mão for suave e lisa, você logo pensa: esta pessoa deve trabalhar no escritório, num computador. E se a mão for calejada e áspera? Talvez seja alguém que trabalha na roça, segurando o cabo da enxada.
O jeito como a gente vive deixa marcas nas nossas mãos e nos nossos corpos. Pessoas carregam cicatrizes, machucados que revelam acontecimentos da vida e contam como aquela pessoa viveu.
A nossa mão e o nosso corpo contam e revelam a história de nossa vida.
Jesus ressurreto apareceu aos discípulos e mostrou as suas mãos. Ele mostra as marcas que revelam os acontecimentos da sua vida. O corpo de Cristo carrega os ferimentos, as marcas da violência sofrida na morte na cruz. As mãos feridas, que carregam as marcas da crucificação, se estendem em nossa direção para trazer a paz.
Como entender que Jesus foi vítima de violência, sofreu tortura e uma morte injusta, mas aparece ressurreto e deseja a paz? Não pede por vingança, não estimula o ódio, a raiva ou qualquer tipo de retaliação.
Estamos acostumados a querer pagar com a mesma moeda. Ou seja, se alguém me ofender, eu vou ofender de volta. Se alguém me dá um tapa, eu bato de volta. É uma ideia de retribuição, na qual eu devolvo para a pessoa aquilo que ela me deu. Jesus sofreu a morte na cruz, mas não deseja mais morte e violência. Ele deseja a paz.
A ressurreição de Cristo é a vitória do amor de Deus, que se revela maior e mais forte do que o ódio, a injustiça e a violência. Este amor traz paz, ensina o perdão, faz com que as pessoas se encontrem como irmãos e irmãs, reafirmando o valor da vida.
As nossas mãos contam histórias, revelam os acontecimentos da vida. As mãos de Cristo, sofridas, marcadas pela morte violenta da cruz, nos convidam, nos chamam, nos conduzem para a paz.
A paz que vem do Cristo crucificado, a paz que vem do Cristo ressurreto, desperta em nós a fé e nos move a viver em esperança. A violência, a injustiça, as dores deste mundo não determinam o nosso jeito de ser e de agir. Somos conduzidos e vivemos a partir da paz que vem do Cristo crucificado e ressurreto. Uma paz que toma conta da nossa vida e nos coloca em movimento. Nos coloca de pé. Abre os nossos olhos para a verdade. Abre os nossos ouvidos para escutar a dor e o grito de socorro das pessoas ao nosso redor. Uma paz que abre as nossas mãos para abraçar e acolher. Uma paz que nos faz anunciar por meio de palavras e ações que Cristo vive e nos faz viver.
Oração:
Prepara-nos Senhor!
Prepara Senhor, nossas mãos para um toque diferente.
Para despertar ternura, afeto, consolo e amizade.
Que nossas mãos possam fortalecer, proteger, alcançar quem está longe.
Prepara, Senhor, nossos ombros para uma carga diferente.
Que nossos ombros possam carregar os filhos e filhas, os cansados e sobrecarregados.
Prepara, Senhor, nosso coração para um pulsar diferente.
Que o nosso coração possa se alegrar, festejar, perdoar, ser salvo da falta de amor.
Prepara, Senhor, nossa mente para uma verdade diferente.
Para pensar em como viver de outra maneira, com pureza, justiça, sabedoria, humildade e confiança.
Prepara, Senhor, nossos pés para um caminho diferente.
Para vencer estradas tortuosas e o medo, que os nossos pés nos sustentem com coragem e nos conduzam pelo caminho da verdade, da vida e da paz.
Amém
P. Me. Eduardo Paulo Stauder
Pastor Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho
