“Vivemos um cenário de guerra”, contou o pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) em Santa Leopoldina (ES), Rodrigo Seidel. “Foram seis dias de água direto, nas ruas, nas casas, nas lojas. O rio passou mais de 10 metros do seu nível normal. Das outras vezes, a água sempre baixou. Desta vez, não”.
Pastor Rodrigo, que atua na localidade desde 2003, viveu de perto a situação de tragédia que se abateu no Espírito Santo, com as intensas chuvas das últimas duas semanas. Muitas famílias perderam os seus pertences e suas casas estão sendo condenadas pela defesa civil do município e do estado. As estradas estão danificadas. Pontes foram levadas pelas águas.
A casa pastoral foi alagada – o pastor e sua família foram acolhidos em casa de amigos –. A igreja e o espaço comunitário, do outro lado do rio, foram muito afetados. A cozinha, salão, pátio, ficaram cobertos de água e entrou água nas salas de ensino confirmatório e escritório.
Inúmeras famílias luteranas ficaram isoladas, sem estradas, sem pontes, sem energia e sem telefone. Membros de outras comunidades (Caruaru) conseguiram chegar no dia 25 e 26 e ajudaram na limpeza das casas, das igrejas e das ruas. “Em meio a tanta dor, muita solidariedade. Não se olhava a quem ajudar, mas se pensou em aliviar a dor das familias afetadas”, afirmou Rodrigo. “Tenho orgulho da nossa igreja e de nossos membros.”
Natal compartilhado
Com a chegada do dia 25, no meio do caos, com o templo sem condições, o que fazer para comemorar o Natal? “Ouvi os sinos da igreja católica e fui falar com o padre. Combinamos de fazer uma celebração ecumênica”, contou Rodrigo.
As pessoas foram convidadas pelo alto-falante da igreja católica. O povo compareceu. Cerca de 60 crianças também estiveram lá. Todas ganharam brinquedos e um pacotinho de Natal.
“Foi indescritível. Pessoas de várias denominações religiosas, autoridades políticas de diferente partidos, a comunidade em geral, quem consegui chegar, participou. Celebramos a vida. Celebramos a proteção de nosso Deus bondoso e misericordioso. Foi um dos momentos mais emocionantes que já vivi nos meus dezesseis anos de ministério.”
Papai Noel de barco
“’O senhor é o pastor Rodrigo?’, perguntou um menino, de cerca de seis anos, enquanto eu estava organizando o recebimento e entrega de cestas básicas, água e roupas. Quando disse sim, ele pediu – ‘o senhor me dá um carrinho?’ –. Mas por que você quer um carrinho? ‘Por que a mãe disse que este ano o Papai Noel não vem pra Santa Leopoldina.’”
“Olhei e vi um carrinho vermelho sobre as pilhas de coisas. Quando entreguei, ele abraçou a minha perna”, lembrou Rodrigo. “Agradeceu e disse que nunca havia recebido um brinquedo tão bonito.”
O pastor disse ter compreendido, naquele momento, o significado do Natal e da benção “a Paz de Cristo esteja contigo”. “Aquele menino e eu, com certeza, tivemos o Natal mais significativo de nossas vidas. E decidi colocar um Papai Noel no barco e sair distribuindo balas para as crianças. Deus nos abençoou muito. Só podemos agradecer.”
Reconstrução
“Vamos levar muto tempo para reeguer Santa Leopoldina”, avaliou pastor Rodrigo. “O município é pequeno, os recursos vêm da roça. O interior também foi muito atingido. Nós e a Igreja Católica abrimos uma conta conjunta para arrecadar dinheiro.”
No final de janeiro, a ideia é fazer um levantamento das famílias que estão em maior dificuldade. Neste momento, ainda não se tem a dimensão exata da destruição.
“O trabalho está apenas começando. O emergencial foi feito. Agora, precisamos juntar forças para aliviar a dor das pessoas e fortalecê-las para que possam reiniciar suas vidas.”