
Pastor e professor Dr. Martin N. Dreher
“Liberdade” é palavra que nos é muito cara e querida. Poucos, no entanto, sabem da importante contribuição dada pelos cristãos luteranos para que “liberdade” se concretizasse. No século 16, o clamor por “liberdade” era generalizado. Os camponeses clamavam por ela. Quando se endividavam eram reduzidos à escravidão.
Não foi por acaso que aconteceram muitas guerras camponesas. Como havia muitas guerras, surgiram epidemias e pestes que dizimavam a população. As muitas mortes causavam medo. Naquele século também estava surgindo novo modelo econômico, era o capitalismo incipiente. Não se fazia mais riqueza a partir do trabalho na terra, mas com especulação financeira. Surgia, assim, o medo de se perder o pouco que se tinha.
O maior medo, contudo, era o medo de Deus. Deus era descrito como um Cristo, sentado sobre o arco-íris, com as mãos apoiadas sobre as pernas e tendo em sua boca uma espada de dois gumes. De seus olhos saíam raios e relâmpagos. Era completamente juiz. Para torná-lo favorável ao ser humano pecador, era necessário que se fizesse muitas boas obras e se comprasse da Igreja cartas de crédito, designadas de indulgências, cujo valor substituía os castigos impostos pelo padre confessor. Morrer sem ter feito o suficiente para aplacar a ira de Deus levava à certeza do inferno ou do purgatório, estágio intermediário entre o céu e o inferno, de onde só se saía, caso outros por nós comprassem indulgências, mandassem rezar missas.
Destes medos e angústias participou Lutero. Por mais que se esforçasse para agradar a Deus, mais se descobria pecador, mais prisioneiro de seus temores ficava. Maior ficou seu desespero ao ler em Romanos 1.17 a frase que diz que “a justiça de Deus se revela no Evangelho”. Como entender que o Evangelho, palavra que significa notícia de alegria, fala de um Deus justo? Para ele essa afirmação era horrível. Ele sabia que justiça significa recompensar quem é bom e castigar quem é mau. Qual a boa notícia que está contida na afirmação de que Deus é justo?
Lutero só o descobriu quando continuou na leitura do versículo e descobriu que a justiça de Deus é diferente da justiça humana. Como o ser humano não consegue agradar a Deus, Deus dele se agrada e o aceita assim como ele é. A certeza disso temos em Jesus, que assume sobre si nossos pecados e nossa culpa, libertando-nos de todos os nossos temores e nos anunciando que somos amados por Deus. Isso é uma troca maravilhosa. O juiz se deixa condenar no lugar do réu e o réu passa a ser o justo.
Tornados justos por Deus, temos paz com ele. Quem é luterano anuncia essa liberdade e é capaz de intervir para que outros alcancem liberdade.
Texto publicado na Revista Sinodal 2013, Sínodo Nordeste Gaúcho
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