Nenhuma religião consegue encapsular a revelação de Deus, assinalou a pastora Wanda Deifelt, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e professora no Luther College, de Decorah, Iowa, Estados Unidos. Ela questionou os métodos tradicionais de fazer teologia.
Wanda falou sobre Contexto social, língua e imagens de Deus para os mais de 200 teólogos, dos cinco continentes, reunidos no I Fórum Mundial de Teologia e Libertação (FMTL), em Porto Alegre, de 21 a 25 de janeiro. Só podemos falar de teologia partindo de experiências concretas, reconhecidas num determinado lugar histórico, disse.
A teóloga luterana destacou que o próprio cristianismo foi reconhecido a partir de uma única e restrita perspectiva, que acabou se tornando norma para avaliar a totalidade do falar de Deus. A teologia, enfatizou, não é a doutrina acerca de Deus, mas a revelação deste Deus para a humanidade como um todo. Seria um pecado utilizar uma experiência e torná-la normativa, perpetuando relações de poder assimétricas, criticou.
O reconhecimento da austeridade de Deus, sublinhou Deifelt, poderia emergir a partir da construção de redes entre as diversas teologias aditivadas, num processo de interação face a face. Nós existimos porque a divindade existe e falamos desse divino porque vivemos em mutualidade, acrescentou.
Ao resgatar a mensagem de Êxodo 3,14, que diz Eu sou o que sou, a pastora brasileira foi mais além e propôs: Você deve ser o que Eu sou. Dizer que o homem foi criado à semelhança de Deus, disse a pastora, é tratar o outro com a mesma reverência com a qual se lida com o divino. Nesse sentido, completou, a cada encontro com o outro saldamos o nosso criador.
Para a doutora em teologia, a existência material e corpórea do outro representa a maneira de Deus se comunicar com as pessoas. Dependemos do outro em nossa caminhada. No entanto, em muitos casos, ainda o tratamos como lixo, desabafou.
Ao proferir a metáfora bíblica de que Deus é pai, Deifelt explicou que a teologia feminista não nega a paternidade divina, mas critica o exclusivismo de uma metáfora que fortalece o patriarcalismo. A divindade só pode operar entre nós colaborando para que nos reconheçamos. E complementou: Cada qual fala de Deus na linguagem que conhece.
Fonte: ALC Notícias - Micael B. Vier