Nenhuma religião tem, hoje, a receita da dignidade humana, disse o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos ao abrir as conferências do Fórum Mundial de Teologia e Libertação, que ocorre de 21 a 25 de janeiro, em Porto Alegre. Sousa Santos destacou a necessidade de uma articulação entre as diversas expressões da religiosidade.
Os direitos humanos, destacou, já não suportam o sofrimento das populações marginalizadas do hemisfério Sul. Ele disse que a chamada mãe das democracias, a estadunidense, é uma democracia doente, minada pela revolução da direita reacionária conservadora, pelos poderes econômicos e a religião.
Como alternativa àquilo que caracteriza de sociedade incivil, em que o mais poderoso tem o poder de veto sobre a vida do mais fraco, o sociólogo citou o orçamento participativo e todas as demais iniciativas capazes de ampliar a participação dos cidadãos, a transparência do poder e a implementação de uma democracia de alta intensidade em nível local. Essa é uma luta entre os que querem estreitar a democracia e os que querem radicalizá-la.
Em entrevista à ALC, Sousa Santos afirmou que a própria teologia contribuiu para a imposição do que denominou de monoculturas, processos pelos quais as experiências sociais são desacreditadas. A expansão européia e o capitalismo trouxeram para as Américas a verdade cristã, e não a verdade da ciência, anotou. No século XVI, completou, a verdade cristã se impôs sobre as demais, praticando aquilo que chamou de epistemicídio - processo de destruição cultural.
Salientou, contudo, que via no próprio padre Antonio Vieira, jesuíta que atuou no Brasil colônia, ambigüidades e diferenças em relação à expansão colonial. Vestígios, arrolou, de uma teologia que pouco a pouco se transforma em elemento de resistência e troca de experiências da espiritualidade, e que hoje já pode ser chamada de teologia guarani, teologia indígena, teologia africana.
Para o Fórum Social Mundial (FSM), que estará reunido em Porto Alegre de 26 a 31 de janeiro e que será celebrado, segundo Sousa Santos, em meio a um período de colapso das expectativas, o sociólogo vislumbra um espaço para o debate sobre o princípio da equivalência e fortalecimento das ações de resistência.
Na entrevista à ALC, Sousa Santos recomendou que os movimentos sociais façam no Brasil, de forma construtiva, pressão ativa sobre o governo. Penso que estamos no grau zero entre o medo e a esperança, e há possibilidade da esperança vencer o medo, afirmou.
Fonte: ALC Notícias - Micael B. Vier