No dia 15 de junho tive a alegria e a honra de comparecer a uma missa de Ordenação ao ministério diaconal na catedral. Embora eu fosse o único com veste talar preta no meio de tantos padres com as vestes brancas, me senti bem vindo e bem aceito. Em outras palavras, me senti em casa. Sentir-se em casa é o sentido da palavra ecumenismo. Na raiz desta palavra está o termo grego oikos que significa exatamente casa. Portanto, minha presença foi ecumênica no sentido original da palavra.
Nem sempre a gente se sente em casa quando está na casa dos outros. Às vezes a gente está lá por obrigação, às vezes por razões sociais e/ou formais e o resultado é que a gente não vê a hora de ir embora de novo. Não é assim que me sinto quando participo de celebrações com irmãos e irmãs da Igreja católica. Já na preparação as coisas fluem com naturalidade, respeito e boa vontade (sempre regada a um bom chimarrão, que puxa um papo que conduz a outro e o tempo passa sem que se note).
Quando se compartilha o sentimento ecumênico no real sentido da palavra, a gente sempre quer e busca o bem das pessoas que nos recebem em sua casa ou que recebemos em nossa casa. A gente se alegra com suas vitórias e se entristece com suas derrotas. Não procura fazer dos infortúnios dos outros uma oportunidade para tirar membros da sua família, mas, ao contrário, faz de tudo para que haja paz e harmonia nesta casa. Para isso, é necessário incrementar o sentido da oração ecumênica, bem como o diálogo franco e aberto. Dialogar com alguém de fora da família pode ajudar a vislumbrar uma dimensão esquecida, um ângulo escondido. Onde o diálogo acontece com amor e respeito, todos crescem, todos aprendem e Cristo certamente se alegra.
Sempre existiram e existirão dificuldades e problemas em cada casa. Mas, como membro de outra família, devo sempre lembrar da orientação de Jesus: antes de apontar para o cisco no olho do outro, devo reparar na trave que está no meu próprio olho. Tendo este pressuposto como método, posso me despojar de soberba, de arrogância e de uma falsa visão de mim mesmo. Sabendo reconhecer minhas próprias limitações, vou à casa do outro não mais como um estranho, mas como um amigo, um companheiro de jornada.
Mas, também é bom pensar no diálogo inter-religioso. Um bom exemplo para isso é o Conselho Estadual do Ensino Religioso - CONER -, no qual nossas Igrejas tomam parte. Ampliando o diálogo ecumênico que se dá na família cristã, dialogamos com todas as religiões do mundo representadas em nosso Estado. Aprendemos de sua história, de suas convicções e livros sagrados. Aprendemos de seus ritos, valores e formas de convivência.
Na região de Joinville, estamos empenhados em criar um Conselho Regional do Ensino Religioso, que venha a auxiliar as professoras em sua difícil tarefa de ensinar o surgimento das mais diversas práticas religiosas e as diferentes formas de relacionamento com o sagrado e com o transcendente surgidas na história humana. Investir no diálogo inter-religioso é uma atitude séria e madura de pessoas e igrejas que tem história, tem tradição e sabem respeitar a história e a tradição de outros movimentos
Carlos Musskopf
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diocese Informa - 09/2003