Na África do Sul, assim como no Brasil, existe uma associação entre HIV/AIDS e grupos sociais marginalizados, o que reafirma a ideia de que o enfrentamento à epidemia passa pela discussão de questões sistêmicas, inclusive nos campos da religião e da teologia, que muitas vezes reforçam determinadas compreensões e práticas estigmatizadoras.
A consideração é do professor da EST, Dr. André Musskopf, que ao lado do Dr. Rudolf von Sinner, do doutorando Ezequiel de Souza e da doutoranda Elisa Fenner Schröder participou, ao longo da última semana de março, do quarto encontro do edital Pró-África, realizado na Escola de Religião, Filosofia e Clássicos da Universidade de Kwazulu-Natal, em Pietermaritzburg, na África do Sul, e que conta com o financiamento do CNPq.
Ao apresentar artigo intitulado Para sair dos armários: HIV/AIDS e Teologia no Brasil, Musskopf relatou que a AIDS chegou ao país como uma doença associada a homossexuais e que o seu enfrentamento exige o confronto da sociedade frente a preconceitos e a estigmas originários de sistemas que promovem a desigualdade e a violação de direitos.
A visita à Comunidade de Mount Elias e a conversa com mulheres que integram um grupo de apoio a pessoas infectadas e afetadas pelo HIV/AIDS foram momentos importantes para perceber os desafios que a epidemia coloca e como atinge a vida de mulheres, particularmente mulheres negras num contexto de alta vulnerabilidade como é o entorno dessa comunidade, relatou.
Na avaliação de von Sinner, o silêncio, inclusive por parte das igrejas, impede a realização de ações incisivas de combate à proliferação do vírus e de diminuição da discriminação. O professor da EST relatou que algumas igrejas sul-africanas inclusive proíbem a ingestão do coquetel antirretroviral, alegando a possibilidade de cura meramente espiritual.
Há certa assistência pastoral, porém é frouxo o apoio a campanhas de prevenção, especialmente quando incentivam o uso da camisinha, afirmou von Sinner.
Para o doutorando Ezequiel de Souza, o debate sobre cidadania, interculturalidade e HIV/AIDS junto aos pesquisadores sul-africanos propiciou momentos de enriquecimento mútuo, com partilha de conhecimentos e experiências. O modo como os desafios contemporâneos têm sido enfrentados no Brasil e na África do Sul traz lições para a continuidade da cooperação, pois ao se caminhar conjuntamente, os frutos possuem outros sabores e os saberes se complementam, afirmou.
Durante a viagem, os pesquisadores brasileiros também tiveram a oportunidade de visitar a favela de Kennedy Road, local que evidencia o desafio do acesso à moradia no país.