Francisco recebe os delegados da Federação Luterana Mundial e indica a oração como “o combustível da viagem” rumo à plena unidade.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada no jornal La Stampa, 07-12-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco indicou a oração como “o combustível da viagem” rumo à plena união entre católicos e luteranos, para “abandonar os antigos preconceitos, como aqueles sobre Martinho Lutero”, assim como os contrastes, as rivalidades, as feridas, e para olhar com confiança “aos dons que provêm das diversas tradições confessionais e acolhê-los como um patrimônio comum”.
A oração “purifica, fortifica, ilumina o caminho, faz andar em frente”, diz o papa aos delegados da Federação Luterana Mundial, recebidos nessa quinta-feira no Vaticano, liderados pelo arcebispo nigeriano Musa Panti Filibus, eleito em maio à presidência do órgão fundado em Lund.
E é justamente de Lund que se desenrolam as recordações do Papa Bergoglio, que repassa os diversos eventos que marcaram o último ano e que fortaleceram as relações ecumênicas recíprocas, começando pela viagem de 31 de outubro de 2016 para a comemoração dos 500 anos da Reforma.
“Foi importante nos encontrarmos acima de tudo na oração, porque não é de projetos humanos, mas sim da graça de Deus que germina e floresce o dom da unidade entre os crentes. Somente rezando é que podemos nos proteger uns aos outros”, afirma o papa.
A partir daí, da oração, “alma da renovação ecumênica”, e da “caridade que nos aproxima”, surge “a paciência da nossa espera mútua, o motivo da nossa reconciliação, a força para andar em frente juntos”. “Rezando – insiste o bispo de Roma – podemos nos ver todas as vezes, uns aos outros, na perspectiva certa, a do Pai, cujo olhar repousa sobre nós amorosamente, sem preferências ou distinções. E, no Espírito de Jesus, no qual rezamos, nos reconhecemos como irmãos.”
“Irmãos”, reitera Bergoglio, não “adversários” nem “rivais”. Esse é o ponto a partir do qual é preciso começar e recomeçar sempre. “Olhemos também para a história passada e agradeçamos a Deus porque as divisões, até mesmo muito dolorosas, que nos viram distantes e contrapostos durante séculos, nas últimas décadas, convergiram em um caminho de comunhão, no caminho ecumênico suscitado pelo Espírito Santo”, enfatiza o Papa Francisco. “Isso nos levou a abandonar os antigos preconceitos, como aqueles sobre Martinho Lutero e sobre a situação da Igreja Católica naquele período.”
E também levou a resultados como alguns documentos frutos do diálogo, realizado desde 1967, entre a Federação Luterana Mundial e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, como a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação e, por último, o documento Do Conflito à Comunhão.
Para o papa, trata-se de uma “memória purificada”, através da qual “hoje podemos olhar com confiança para um futuro não sobrecarregado pelos contrastes e pelos preconceitos do passado; um futuro sobre o qual pesa apenas a dívida do amor recíproco; um futuro no qual somos chamados a discernir os dons que provêm das diversas tradições confessionais e a acolhê-los como patrimônio comum”.
Antes das oposições, das diferenças e das feridas do passado, existe “a realidade presente, comum, fundadora e permanente do nosso Batismo”, reitera Bergoglio. “Ele nos tornou filhos de Deus e irmãos entre nós. Por isso, nunca podemos nos permitir ser adversários ou rivais. E se o passado não pode ser mudado, o futuro nos interpela: não podemos deixar, agora, de buscar e promover uma maior comunhão na caridade e na fé”.
O convite, portanto, é a “vigiar” para não cair na “tentação de parar ao longo do caminho”. Sempre, na vida espiritual, assim como na eclesial, “quando estamos parados, sempre voltamos atrás”, adverte o papa. Isto é, aceitamos “nos contentar, parar por temor , preguiça, cansaço ou conveniência enquanto caminhamos rumo ao Senhor com os irmãos”. Isso “é declinar ao seu próprio convite”.
Ao contrário, é preciso seguir em frente. “E, para avançar juntos rumo a ele, não bastam boas ideias, mas é preciso dar passos concretos e estender a mão. Isso significa, acima de tudo, gastarmo-nos na caridade, olhando para os pobres, para os irmãos menores do Senhor: são os nossos indicadores preciosos ao longo do caminho. Nos fará bem tocar as suas feridas com a força curadora da presença de Jesus e com o bálsamo do nosso serviço.”
Além disso, católicos e luteranos podem trabalhar juntos para anunciar o Evangelho, “prioridade do nosso ser cristão no mundo”. Nessa missão, há os mártires para iluminar a estrada com o seu exemplo: “Ainda há muitos, nos nossos dias, que sofrem pelo testemunho de Jesus”, diz o pontífice. “O seu heroísmo manso e pacífico é, para nós, um chamado urgente a uma fraternidade cada vez mais real”.
Fonte: Instituto Humanitas UNISINOS