A PUCPR acolheu no dia 18 de novembro o Simpósio Religiões e Ecologia: a água como dom, direito e bem comum. Alinhado à programação do X Encontro Nacional de Ensino Religioso e organizado em parceria com a Rede Ecumênica da Água (REDA) – do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)-, o evento reuniu lideranças religiosas e acadêmicos para um diálogo propositivo sobre o compromisso das tradições religiosas em torno da ecologia, com especial destaque à questão da água.
O primeiro momento do Simpósio considerou a abordagem do tema a partir das tradições religiosas, tendo como premissa que o empenho das mesmas no cuidado ecológico se radica na experiência e nos princípios fundamentais dos credos. Representantes do Islamismo, Judaísmo, Umbanda, Budismo e Cristianismo – sendo este representado pelas tradições luterana, anglicana e católica - puderam partilhar com os/as simposistas os olhares ecológicos de suas respectivas tradições, vinculando-os com a espiritualidade, doutrinas e práticas.
De acordo com o P. Werner Fuchs, pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e um dos mobilizadores da Campanha Renovar Nosso Mundo no Brasil, “quanto mais autênticas às suas raízes, tanto mais as religiões desenvolvem e preservam sensibilidade e valores pelo equilíbrio do planeta e pela defesa da vida, que é ao mesmo tempo frágil e resiliente”. Fuchs também considera que “diante da insuficiência e imperfeição humanas os diversos credos professam Deus como fonte de toda a perfeição e justiça, e assim podem se unir na luta contra a dominação de uns sobre os outros e sobre a natureza, que gera poluição e esgotamento da água e dos demais recursos naturais”. Nesse sentido, um primeiro movimento passa pela disposição das próprias religiões em integrar atitudes de conservação e cuidado ecológico em seu cotidiano, como salienta Andreia Guiraud, Mãe de Santo e dirigente do terreiro de Umbanda Mensageiros da Luz que, ao destacar a base elementar dos elementos da natureza de sua religião, falou desse aspecto ligando-o, de modo especial, à prática ritual.
De modo específico, as reflexões com enfoque à água destacaram a ligação intrínseca das religiões com este elemento, a qual se vincula a momentos fortes de ritualidade e significação espiritual. Assim, a justiça hídrica se apresenta não somente como uma exigência para a manutenção da vida no planeta, mas expressam o cuidado zeloso das mulheres e homens de fé em torno das experiências basilares de suas vivências religiosas.
Em reflexão pautada sobre a encíclica social Laudato Si’, do Papa Francisco (2015), o Prof. Dr. Afonso Murad, da Faculdade Jesuíta (FAJE), de Belo Horizonte/MG e líder do Grupo de Pesquisa Ecoteologia, apresentou sete chaves para uma consciência planetária, as quais articulam informação, indignação, mística, encantamento, atitudes individuais, ações coletivas e visão sistêmica. Segundo o teólogo, é preciso superar a compreensão equivocada de que os processos de mudança se operam primeiramente no âmbito subjetivo e pessoal, e depois se estendem para o plano macro. Na perspectiva da conversão ecológica, os processos são simultâneos e complementares: a realidade da Casa Comum e suas causas são imperativos para uma mudança interior, ao mesmo tempo em que a sensibilidade do coração move a engajamentos efetivos. Murad enfatizou a importância do encantamento como uma chave de leitura para o cuidado da Criação e a preservação das águas, dimensão essa de acesso singular das tradições religiosas.
No aspecto prático, Prof. Dr. Elias Wolff, líder do Grupo de Pesquisa Teologia Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso, da PUCPR, e membro da REDA, socializou o programa de ação assumido pelo referido organismo surgido na IX Assembleia do CMI (Porto Alegre, 2006). Olhando para essas experiências consolidadas em nível internacional, refletiu-se sobre as possibilidades de articulação de uma iniciativa similar em nível nacional e vinculada às experiências ecumênicas locais, bem como engajar a universidade, no caso a PUCPR, em projetos de visibilidade e reconhecimento do compromisso ecológico, tais como a obtenção do selo Blue Community.
Por ocasião do evento foi lançado o livro “Águas para a Vida! Apelo aos povos e seus credos”, organizado por Prof. Elias e publicado em parceria com a REDA. A obra reúne textos de autores e autoras brasileiras que refletem o acesso justo e preservação das águas sob as interfaces bíblicas e teológicas, sociopolíticas e técnicas, indicando, assim, a necessidade de um compromisso conjunto e colaborativo entre a sociedade organizada e as instâncias governamentais, com a participação ativa e esclarecida das tradições religiosas e espiritualidades.