“As comunidades de fé, em quase todos os contextos humanitários, são as fontes primordiais do capital social capaz de salvar vidas, transformar realidades e gerar esperança, afirma Rudelmar Bueno de Faria, em entrevista dada após sua nomeação, em 16 de fevereiro, como novo secretário geral da ACT Aliança, uma organização parceira do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Nos últimos 3 anos, de Faria tem trabalhado como representante do CMI junto à Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenador do Escritório Ecumênico para a ONU (EEONU), em Nova Iorque.
De Faria assumirá o cargo secretario geral de ACT no dia 1 de junho, sucedendo a John Nduna, que vem atuando no cargo desde a fundação da Aliança, em 2010.
Sua carreira profissional inclui vários anos de serviço na FLM Serviço Mundial, uma das maiores organizações cristãs engajadas no trabalho de ajuda humanitária ao redor do mundo. “As comunidades locais de fé estão entre aquelas que respondem primeiro em caso de emergência, pois elas estão inseridas na vida cotidiana das pessoas afetadas por desastres”, afirma.
Falando sobre a capacidade das igrejas de mobilização social e suas formas de posicionamento moral, de Faria acredita que as redes das comunidades de fé tem profundo alcance em comunidades rurais e podem oferecer acesso constante às comunidades e mobilizar voluntários quando necessário.
Tanto o CMI como a FLM contribuíram para a fundação da ACT Aliança com o objetivo de estabelecer uma plataforma coordenada para a diaconia ecumênica, expressando a visão comum do movimento ecumênico com suas igrejas-membro e organismos para atender os necessitados.
De acordo com de Faria, esta visão é apoiada por muitas outras organizações ecumênicas ao redor do mundo. “Por isso, todos queremos uma aliança de igrejas e organismos de igrejas que reúna diversas capacidades e experiência para trabalharmos juntos por dignidade, justiça, paz, direitos humanos e proteção do meio ambiente”, afirma.
De Faria acrescenta que sonha com “uma aliança que é reconhecida por seu trabalho eficiente e responsável nos campos humanitário, de desenvolvimento sustentável e de ações de incidência e que trabalha em parceria com diferentes parceiros, incluindo a ONU e governos”.
Igreja de origem
De Faria é membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Como secretário executivo do Serviço de Projetos, passou a engajar-se no movimento ecumênico. “Naquela época, a IECLB já era muito ativa no ecumenismo nacional e internacional, e acabei participando de alguns espaços nos quais o trabalho diaconal tinha relação com o trabalho de outras igrejas e organismos ecumênicos”, ele diz.
Em 1995, de Faria era o representante da IECLB no Comitê de Emergências de ACT International.
“O forte perfil diaconal da IECLB e seu compromisso com a diaconia profética ajudou a forjar minha compreensão e ações para abordar as raízes da pobreza, exclusão e desigualdades no mundo”, acrescenta.
Parceria entre CMI e ACT
Refletindo acerca do trabalho que vem sido feito por CMI e ACT e Nova Iorque, de Faria vê “crescentes oportunidades para colaboração em questões de paz e segurança”.
O trabalho desenvolvido pelas duas organizações no EEONU enfoca os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), igualdade de gênero e religião e desenvolvimento.
De Faria fala sobre a necessidade de se entender os papéis distintos que CMI e ACT desempenham nesta área. “Nem todas as estratégias de incidência podem ser usadas universalmente”, diz. “Em alguns lugares, uma ação direta que tem como objetivo sensibilizar uma esfera-chave de tomada de decisão pode ser politicamente perigosa, pode enfraquecer ou até reduzir o potencial de mudanças em longo prazo”, acrescenta.
“Contudo, os membros de ACT Aliança que trabalham em países em conflito podem ser instrumentais para o CMI no seu trabalho junto ao Conselho de Segurança da ONU em torno dos temas de paz e segurança”.
Diaconia profética
“Para mim, a diaconia tem que ser tanto política quanto profética, como o ministério das igrejas de denúncia de injustiças e anúncio da Boa Nova”, afirma. “Ela transcende as estruturas das igrejas e torna-se o apoio incondicional a todos os seres humanos. É feita através de ações simples e compassivas, iniciativas que salvam vidas e cujas ações são motivadas por minha fé”, adiciona.
O crescente reconhecimento do papel da religião no desenvolvimento também representa uma oportunidade para a diaconia ecumênica, pois afirma a identidade própria e a competência dos atores baseados na fé e agrega energia ao compromisso de salvar vidas e à luta por justiça”.
De Faria entende que a agenda 2030 para os ODS oferece “uma estrutura política e transformadora para abordar muitas das causas de problemas que estão abreviando vidas de pessoas e destruindo a criação de Deus”.
“Meu trabalho é diaconal. Por isso, ele exige de mim que eu caminhe lado a lado com os pobres e oprimidos, denuncie a injustiça sistêmica e promova a dignidade humana, a justiça e a paz”, conclui de Faria.
* O Dr. Marcelo Schneider é oficial de comunicação no Conselho Mundial de Igrejas.