As questões de gênero ficaram por muito tempo esquecidas, guardadas, e agora a grupo de mulheres traz esta questão à tona, começando por um importante alerta: “Gênero também é uma questão de homens” E, foi um homem, o teólogo André Musskopf, que iniciou falando na oficina “Não à violência de Gênero – Recriando relações de paz!” realizada durante o V Fórum Social Mundial em Porto Alegre. Musskopf afirmou que os homens também não estão contentes com este sistema hegemônico de poder instaurado nas relações de gênero, que impõe padrões para o comportamento: “Homem e masculinidade não é a mesma coisa. E é a partir deste equívoco que a sociedade estabelece atributos que fazem de um indivíduo mais ou menos homem – situação que deve ser ao menos refletida. Os homossexuais, por exemplo são vítimas de muita violência”. Propondo a reflexão de como os homens se relacionam com outros homens e também com as mulheres, André sugeriu a leitura de Gênesis 38, trecho do Antigo Testamento que ajuda a desconstruir esta idéia equivocada impressa nos modelos de relacionamento.
A questão de gênero também está fortemente ligada a educação – de como, no processo de socialização, já nas séries iniciais as crianças têm contato com estereótipos - nos brinquedos e brincadeiras, nas cantigas de rodas, nos moldes de comportamento sugeridos, com destacou a educadora Edla Eggert. Ela lembrou um conhecido desafio “aprender a aprender a SER humanos” e a partir disso deixou no ar a pergunta “ser humano é ser menino ou menina?”
A teóloga Marga Ströher trouxe, a partir da perspectiva bíblica, algumas posturas importantes que contribuem para a não violência e lembrou algumas interpretações que devem ser revistas. Mesmo que os textos bíblicos estejam em um contexto patriarcal há muitas brechas, entrelinhas e relatos importantes para a discussão do gênero, como em Juízes 19, quando é relatada a morte da concubina e o desfecho do relato é uma atitude muito importante no combate à violência: “ponderai, considerai e falai”. “O grande tabu da violência é não falar que ela acontece. Para supera-la, é preciso falar, denunciar, sentar juntos, buscando e apontado saídas” – frisou Marga. Um exemplo citado pela teóloga das interpretações equivocadas, é o ensinamento de que ao sermos agredidos em uma face devemos oferecer a outra – isso não deve significar resignação, mas o exercício de se colocar no lugar do outro.
Elaine Neuenfeldt também trouxe importantes elementos bíblicos para a reflexão dos participantes do Fórum: “A expressão O que Deus uniu, o homem não separa não pode ser legitimar a violência, o incentivar o agüentar” – alertou a teóloga, frisando que é preciso buscar na teologia luterana elementos que ajudem as pessoas a dizer “não” à violência e que ao invés de buscar novas respostas, é preciso fazer novos questionamentos, até porque se apresentam novos desafios. Na história contada em II Samuel 13, na qual Tamar, filha do Rei Davi é estuprada por seu irmão, é possível extrair uma boa orientação: ela deixa clara sua posição - diz não – e ao ser desrespeitada denúncia esta transgressão.
A partir destas colocações os participantes reuniram-se em grupos para discutir como estas questões se colocam e podem ser trabalhadas em prol da não violência.
Um dos importantes alertas deixado aos participantes é o de não hierarquizar - ninguém é mais do que ninguém- nem polarizar – o homem não é o oposto da mulher, não há dó o bem e o mal - por isso, é fundamental repensar continuamente as perguntas que se colocam.
A Oficina “Não à violência de Gênero – Recriando relações de paz” foi realizada na manhã do último domingo, 30 de janeiro, durante o V Fórum Social mundial e teve uma ótima participação do público. O evento foi promovido pelo Fórum de Reflexão da Mulher Luterana, da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE) e do Núcleo de Pesquisa do Gênero do Instituto de Pós Graduação da Escola Superir de Teologia ( NPG/IEPG/EST) e pelo Centro de Estudos Bíblicos (CEBI).