“Deus não está distante da criação ou não é transcendente a ela, mas a mantém nas nervuras de sua realidade. Deus é fundamentalmente um Deus imanente”. Com estas palavras, o Pastor Dr. Haroldo Reimer encerrou sua palestra na Consulta entre IECLB e Igreja na Baviera, realizada nos dias 29/09 a 02/10/2009 em Vitória/ES. Reimer, que é pastor voluntário em Goiânia, e, entre outras funções, professor no Departamento de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Goiás, esclareceu que na década de 70 iniciou a lenta conscientização de que os recursos naturais não eram infinitos. A partir de então foi-se estabelecendo gradativamente a relação entre as ações humanas, suas formas de organização, de produção e de consumo com as alterações ambientais. Questionamentos se multiplicaram. Entre os primeiros encontra-se o do norte-americano Lynn White que, segundo as próprias palavras do palestrante: acusou frontalmente o paradigma judaico cristão como responsável pela gênese e tradição de um pensamento que propunha o ser humano como senhor do ambiente, devendo este manifestar sua condição de imagem e semelhança de Deus por meio de ações de domínio e subjugação no ambiente. Apenas no final da década de 70 surgiram as primeiras reações, inserindo os problemas ambientais no universo teológico e no labor exegético, momento em que se destaca a obra de Jürgen Moltmann Deus na Criação – Uma doutrina ecológica da criação.
Os desafios que as alterações climáticas nos colocam hoje, tanto em termos práticos como filosóficos e teológicos, exigem ações mais efetivas e posicionamentos cada vez mais claros. Segundo Reimer, em termos filosóficos ou mesmo éticos há que se fazer urgentemente a pergunta sobre quem defenderá no tempo os direitos das gerações futuras. Igualmente há que se travar a disputa filosófica se ao ambiente, que é destituido de personalidade e vontade, podem ser atribuídos direitos. Em termos teológicos, o desafio implica, p.ex. na releitura da Bíblia na perspectiva ecológica. Segundo Reimer, a exegese de matriz européia nos ensinou que o homem é a medida da criação. Tudo o que foi criado teria sido criado em função do humano. Esta leitura foi revista nas últimas duas décadas. Exegetas tem demonstrado que a própria estrutura do relato da criação indica que o sétimo dia, o shabbat, é o ponto de chegada do relato. O ser humano, portanto, não seria o ponto central e sim parte de um todo interdependente. A bênção da fertilidade, da multiplicação e do “domínio” da terra, carecem de releitura, considerado o avanço populacional e suas consequencias, como a distribuição desigual dos recursos naturais. Também o mandato humano precisa ser entendido que uma forma nova, muito mais na direção de Gênesis 2,7 – cultivar e guardar”, do que de Gênesis 1,28 “dominar e sujeitar”.