Celebração Ecumênica pelos 500 Anos da Reforma
As faces femininas de Deus
Texto: Lc 10.25-37
Introdução
Agradeço imensamente pelo convite recebido para a pregação nesse mês onde rememoramos 500 anos da Reforma Protestante. Hoje não quero enfatizar as palavras, uma dimensão tão cara em nosso dia a dia e tão envolvida com o clima de reforma, em que as palavras também estão nas mãos do povo, mas os gestos, o não-dito, o não pronunciado e pronunciável, Acredito que talvez por esse caminho também encontremos as faces femininas de Deus que tem sido redescobertas a cada momento em nossas reflexões teológicas atuais. Faces essas que já foram e ainda são consideradas heresias, absurdas e proibidas. Deus vai além de nossas palavras e de nossos vocabulários e coloca o que é invisibilizado pela sociedade e por nós no centro do seu Amor. O texto que nos inspira nesta manhã é bem conhecido, a Parábola do Bom Samaritano, mas a palavra de Deus sempre nos renova, por meio de Cristo, no toque do Espirito.
Amor
O Evangelho de Lucas tem como foco principal as pessoas que eram excluídas das ações de amor, compaixão e misericórdia ou pelo Império Romano e também pelo mundo religioso da época. O texto inicia com uma pergunta feita pelo Intérprete da Lei (Lc 10.25). A vida eterna é um tema que acompanha a vida cristã desde seus primórdios. Embora hoje, algumas pessoas não se importam com a mesma ênfase com o que vem após a morte, esse mistério nos envolve com maior presença vez ou outra. A pergunta do intérprete da Lei sobre a vida eterna e depois sobre quem é o próximo tem uma vinculação muito estreita. Não existe vida eterna sem sairmos de nós mesmos/as. Ou seja. não é um prêmio de quem seja melhor, mas é Graça de Deus que é encarnada na tríade do amor a Deus, ao próximo e a si mesmo/a. Ganhar vida eterna é viver o amor que doa. que respeita. que perde, que ganha, que partilha. A vida se eterniza em gestos de amor. O amor a Deus é movimento que nos coloca diante do/a outro/a e diante de nós mesmos/as.
Compaixão
O texto vai com a intensidade do diálogo para uma história contada por Jesus A tão famosa e tão interpretada Parábola do Bom Samaritano. A compaixão é uma capacidade de ampliar nossos horizontes diante do/a outro/a, por meio da partilha do sofrimento. Como história, podemos não somente nos atentar ao contexto da época em que ser bom era uma virtude tão defendida pelos religiosos da época. Mas Jesus defendia urna bondade que transcendia nossas barreiras étnicas, de conhecimento. O desafio que Jesus coloca diante daquele intérprete da Lei é que descobrir no cotidiano o próximo. Essa descoberta gera vida e amplia os sinais do Reino. como espaço para todos/as. Por isso. que na fase da compaixão como face feminina de Deus, tarefa como interpretadores/as da Palavra não é de julgamento do Sacerdote e do Levita. mas de percepção de quem no seu cotidiano tem explicitado mais essa compaixão que é muito mais fácil quando praticada, vivenciada entre iguais.
Misericórdia
A misericórdia é a outra faceta da face feminina de Deus. A palavra tem vínculo, em sua raiz com o útero. a gestação. o que é gerado por nós. É oferecer nosso coração aqueles/as que estão desprovidos de proteção, estão na miséria. O Evangelho de Lucas nos lembra insistentemente que o Reino de Deus olha e inclui quem é excluído, invisibilizado/a pela sociedade, dentre eles/as: crianças, enfermos/as, pobres, mulheres. A face feminina da misericórdia envolve a capacidade de gerar novos espaços para o acolhimento das pessoas no Reino, mesmo que para isso tenhamos que revisitar nossa forma de interpretar a Palavra. A misericórdia é a encarnação do amor e da compaixão, pois ela em si, acolhe todos/as. A misericórdia inclui pessoas que geralmente estão fora dos nossos cenários, como os hospedeiros, os salteadores, o Sacerdote e o Levita.
Palavras de Desafio
Vai tu e procede tu de igual modo: Esse é o desafio que o texto coloca, não somente para o intérprete da Lei, mas também para todos/as nós. O cuidado de Deus que acolhe, se compadece espalha misericórdia, ama pode gerar em nós novas interpretações da Palavra, aquela que incluem a face feminina de Deus,
Pra. Blanches de Paula