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ID: 2676

Kobia destaca mudanças históricas na América Latina

16/02/2006

O tema da IX Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) - Deus, em tua graça, transforma o mundo - tornou-se realidade. A subida ao poder de Michelle Bachelet, a primeira mulher eleita para a presidência do Chile, e de Evo Morales, o primeiro indígena eleito presidente na Bolívia, constituem avanços históricos, segundo o secretário geral desse organismo, Samuel Kobia.

O líder ecumênico destacou, no relatório que apresentou hoje à Assembléia, que o encontro ecumênico de Porto Alegre coincide com as duas eleições, um fato que mostra que nos últimos dois anos ocorreram significativas transformações na América Latina.

Kobia lembrou experiências vividas na visita que empreendeu a América do Sul em novembro de 2004, de modo especial o encontro que teve com as mães e avós da Praça de Maio, na Argentina. Elas revelaram que na ditadura militar dos anos 70 do século passado naquele país as igrejas e organizações ecumênicas proporcionaram um lugar seguro, onde as famílias dos desaparecidos podiam se encontrar e compartilhar dores e esperanças.

O que mais me impressionou foram os testemunhos dessas mulheres. Durante mais de 30 anos elas mantiveram acesa a chama da esperança, buscando a verdade e a justiça, disse.

A Assembléia do CMI, iniciada na terça-feira, 14, reúne cerca de 4 mil pessoas de 348 igrejas protestantes, ortodoxas e anglicanas em Porto Alegre, representando 560 fiéis de 110 países.

Do evento mais importante do organismo ecumênico internacional participa, na qualidade de observadora, comitiva do Vaticano. Também confirmaram presença na Assembléia os prêmios Nobel da Paz Desmond Tutu, arcebispo emérito da Igreja Anglicana da África do Sul, o ativista de Direitos Humanos, Adolfo Pérez Esquivel, da Argentina, e a líder indígena, Rigoberta Menchú, da Guatemala.

Ao abordar o tema da justiça no mundo, Kobia disse que se abusou do dom da vida dado por Deus. A condição humana e a sede de poder criaram estruturas que obrigam as pessoas a viverem na pobreza e que solapam sistematicamente as bases da vida.

O pastor metodista natural do Quênia explicou que mesmo hoje, quando há alimento disponível para todos, 852 milhões de pessoas no mundo passam fome, a cada dia morrem 25 mil pessoas de inanição, e diariamente morrem mais de 16 mil crianças por causas relacionadas com a fome.

Esse horror não é alheio à América Latina, indicou Kobia, região onde a globalização nos aproxima mais do que nunca, mas exacerba ao mesmo tempo as diferenças de poder e de riqueza. A violência, destacou, continua sendo a causa de sofrimentos indescritíveis: a violência nos lares, nas ruas, nos países, às vezes inclusive nas igrejas.

A assimetria do poder manifesta-se de milhares de maneiras, entre pessoas, entre comunidades, entre países. A lista dos pecados e dos sofrimentos podia continuar, assegurou.

Para Kobia, há razões para suspeitar que algo anda mal no mundo, se em pleno século XXI a fortuna das três pessoas mais ricas da terra é superior ao Produto Interno Bruto dos 48 países menos desenvolvidos. Os argumentos políticos e a racionalização econômica não podem resistir à imoralidade básica de um mundo com tais desigualdades, frisou.

Algo muito mal está acontecendo, insistiu, e existe o perigo real do uso de armas nucleares a qualquer momento. Entretanto, essas armas continuam proliferando e há países que compram a tecnologia que permite fabricá-las.

Também é alarmante e um escândalo que países que possuem vasto arsenal de armas nucleares não querem renunciar ao seu uso, agregou.

Num mundo no qual se vendem crianças e elas são obrigadas a se prostituírem, meninas abortam, e no qual pessoas de certa etnia, raça ou casta continuam sendo oprimidas, é que algo vai terrivelmente mal, reiterou.

Numa espécie de mea culpa, Kobia admitiu que mesmo a Igreja não tem denunciado com suficiente vigor tais horrores, calando-se ou culpando os outros, não reconhecendo nossa própria responsabilidade com os demais.

Devemos passar da resignação para a indignação, a uma indignação justificada, ao nos enfrentarmos com as forças que regem a vida, clamou.


Fonte: ALC Notícias
 


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