SAN JOSÉ, Costa Rica - Dá para fazer missão com o esporte? A Igreja Luterana Costarriquense (ILCO) entende que sim, incentivou o programa Futebol pela Vida e está em plena sintonia com a compreensão missionária definida pela Federação Luterana Mundial (FLM).
A missão da Igreja engloba três aspectos básicos - anúncio da Palavra, serviço (diaconia) e advocacia dos mais fracos na sociedade - que fazem parte do Evangelho, frisou o pastor norueguês Kjell Nordstokke ao analisar o documento da FLM sobre o tema para líderes luteranos do Caribe e da América Latina.
O documento enfatiza que missão não é assunto de um grupo de pessoas, mas tarefa da Igreja, disse Nordstokke na Conferência de Bispos, Presidentes e Lideranças (COP) das igrejas luteranas da América Latina e do Caribe filiadas à FLM. O encontro, iniciado na segunda-feira, terminou hoje.
O Programa Futebol pela Vida coloca-se junto a crianças e adolescentes de classes menos favorecidas de uma maneira lúdica, enfatizando a prevenção às drogas e violência, e trazendo a esperança de que um outro mundo é possível. O futebol é uma ferramenta essencial, pois cativa a atenção e abre o coração de jovens para discutir esses e outros temas essenciais do seu meio, explicou o coordenador geral do projeto, Roy Arias Cruz.
Mais de 50 colaboradores, a maioria pais e amigos da comunidade, envolvem-se voluntariamente no Futebol pela Vida, que tem o apoio do organismo de ajuda Pão para o Mundo, da Alemanha. O programa ganhou tal amplitude que hoje é uma ONG independente, mas que continua sob a coordenação da igreja.
Os 52 líderes luteranos que participam da COP e convidados visitaram três programas de diaconia da ILCO: a comunidade de La Carpio, a comunidade de Alajualita, um bairro pobre da capital com 15 mil pessoas e onde se desenvolve o Futebol pela Vida, e a comunidade indígena de Quitirrisí.
Além do Futebol pela Vida, a congregação luterana de Alajualita oferece a Pastoral Casa Aberta, uma creche para crianças de mães trabalhadoras. Mas também proporciona aulas de inglês, de computação, música, incentiva grupos folclóricos e desenvolve trabalho com migrantes nicaragüenses.
A xenofobia é o grande estigma que pesa sobre a comunidade de La Carpio, no distrito de Uruca, nascida em 1993 com a ocupação de uma área do governo, e que abriga, hoje, um grande número de nicaragüenses, migrantes ilegais no país, boa parte deles sem documentos.
Nessa comunidade, onde também moram costarriquenhos de baixo poder aquisitivo, a congregação luterana local oferece capacitação para mulheres na confecção de peças do vestuário e encaminha migrantes aos devidos setores na busca de documentos e legalização.
A uma hora de viagem da capital, de carro, está localizada a reserva Quitirrisí, da comunidade indígena huetar, que sofre com o êxodo dos jovens em busca de melhores oportunidades de estudo na cidade, perdendo, na maioria dos casos, as suas raízes autóctones.
A Associação de Mulheres e a ILCO iniciaram, em conjunto, a difícil tarefa de resgatar a parte cultural e educativa da comunidade, partindo de temáticas simples como alimentação, vestimenta, linguagem e medicina natural, relataram Evelyn Heck, da Argentina, e Rodrigo Covarrubias, do Chile, participantes do encontro da COP.
Já não se separa mais o trabalho social da vida da igreja, destacou o pastor Melvin Jiménez, da ILCO, e coordenador da Rede de Diaconia das igrejas luteranas da região. Dizemos que a missão da igreja é integral, e, por isso, deve ser um ministério da Palavra, do sacramento e da diaconia. Não pode haver ação sem reflexão, nem reflexão sem ação. A fé deve encarnar-se no cotidiano das pessoas, frisou.
Fonte: ALC Notícias