Alocução por ocasião do
Culto de Ação de Graças pela
Assinatura da Declaração Conjunta sobre
Justificação por Graça e Fé
31 de outubro de 1999
Igreja Martin Luther
Centro-SP
Estimados/as irmãos e irmãs !
Este, de fato, é um dia histórico na vida das Igrejas cristãs. Chegar a este dia tão especial significa dizer em primeiro lugar que: Somos todos carentes diante de Deus. Esta condição de carentes nos iguala a despeito de nossas diferenças. Pelo fato de sermos aceitos incondicionalmente por Deus, podemos reconhecer todas as pessoas em sua dignidade. Ficam descartadas todas as pretensões de afirmação humana que geram tanto sofrimento no mundo. Esta pretensão produz vítimas em todos os níveis, no religioso, cultural e econômico.
Sem a graça, como seria o mundo e a sociedade? Sem misericórdia e generosidade, qual seria o valor e a dignidade do ser humano? Como nós abordaríamos a fragilidade e o fracasso das pessoas?
A graça de Deus estabelece padrões para a ética. Se Deus justifica, aceita as pessoas e as reveste da mais alta dignidade, como podemos nós desprezar e marginalizar? A graça está no cerne, no centro da vivência e pregação de Jesus. Pela sua atitude de gratuidade ele chamou sobre si toda a ira das instituições religiosas e políticas de seu tempo, pois considerou a dignidade das pessoas antes e acima de tudo.
Vivemos ainda sob o impacto da crise da FEBEM, onde percebemos que algo está profundamente podre em nossa sociedade. Trata-se de um sintoma de algo bem profundo que acontece na humanidade: Existem milhões de sobrantes e excluídos.
Isso nos remete para as conseqüências da justificação, para a atitude diferenciadora dos filhos e das filhas de Deus na sociedade e no mundo, a saber, a vivência da gratuidade. Se é possível após 482 anos assinar esta Declaração, somos chamados a ser construtores de uma cultura de paz e de não-violência.
Irmãos e irmãs de famílias confessionais diferentes não precisam mais se tratar como inimigos/as, levantando muros e barreiras, mas podem construir pontes de reconciliação sobre o fosso separador. Após 32 anos de diálogo específico sobre este tema doutrinário, é possível reconhecer que ele se constitui num tesouro não só de luteranos ou católicos, mas um tesouro do próprio Evangelho, um Dom de Deus para toda a humanidade.
Esperamos que se tenha fechado um capítulo obscuro da cristandade e que batizados/as possam construir com base em sua motivação evangélica uma nova sociedade em que haja tolerância para com o diferente e respeito para com os excluídos
Vivemos num época de profundas mudanças, uma época de transição na história da humanidade. Queremos receber com profunda gratidão a Deus a assinatura desta Declaração Conjunta e rogar a Deus que ele nos sustente com o seu Espírito para prosseguir no caminho da reconciliação. Novos desafios nos serão colocados e Deus nos conceda sabedoria e paciência para enfrentá-los. Que sua graça e seu amor nos acompanhem. Amém!
Pastor Sinodal Rolf Schünemann