Nós, cristãos e cristãs de diferentes confissões nos reunimos nos dias 7 a 10 de junho de 2007, no Convento São Boaventura, no Município de Imigrante/RS, em torno do tema “Ecumenismo e Graça: quando/onde nada é de graça”. Este ambiente acolhedor onde o amor à natureza, legado por São Francisco de Assis, nos inspirou uma profunda reflexão sobre o presente momento da nossa caminhada. Dando-nos as mãos para partilhar, nos sentimos fortalecidos mutuamente.
Fomos impactados pela leitura que nos foi dado fazer da realidade atual. Como irmãos e irmãs nos angustiamos ante a clara desmobilização social e enfraquecimento dos movimentos que, historicamente, sempre foram solidários com a causa dos excluídos. Entendemos esta desarticulação como fruto tanto do poder do capital financeiro, em sua forma neoliberal, quanto dos equívocos daqueles que ainda hoje, representam as classes populares, mas que se deixam enredar no emaranhado processo de cooptação com promessas de cargos e outras benesses.
Esse enfraquecimento na luta social tem produzido, como conseqüência, falta de sentido e expectativa, principalmente para a juventude, e produzido, com isso, a tragédia da desagregação familiar e da violência generalizada.
Reconhecemos e confessamos diante de Deus nosso momento de descenso e desarticulação. Iluminados pelas reflexões bíblica e teológica e pelo olhar sobre as nossas práticas, as quais queremos que sejam alternativas e populares, nos propomos a renovar nossa fé e nossas forças, assim como, construir novos referenciais para juntos, reconstruirmos nosso poder de articulação e luta. Isso, a partir das seguintes idéias força:
Que nossa relação com os seres humanos não ocorra da mesma forma que nossas relações com os objetos. Pessoas não são mercadorias nem nossas relações interpessoais podem ser pautadas por princípios mercantilistas.
A palavra de Deus, como luz para nossa caminhada, nos chama à inconformidade e à indignação diante de toda situação de injustiça, a exemplo da teimosa indignação de Jó e de tantos companheiros e companheiras que, gratuitamente, colocam sua vida a serviço da cidadania e da dignidade humana.
Reafirmamos a dádiva como elemento fundamental sobre o qual repousa a vida. Reconhecemos que a vida é graça, dádiva de Deus. Viver a dádiva da vida é não aceitar a sua mercantilização. Que nossos projetos individuais ou grupais estejam firmemente articulados com o projeto de sociedade das classes populares, ou seja, que contribuam para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Refletindo sobre diferentes realidades, durante as oficinas, nos sentimos provocados e provocadas a assumir os seguintes compromissos:
- vivenciar a espiritualidade na força da comunidade.
- acompanhar, de forma crítica, as audiências públicas, defendendo o zoneamento ambiental do Rio Grande do Sul feito pela FEPAM.
- buscar conhecimento da realidade amazônica, principalmente, do ser humano amazônida reconhecendo sua alteridade e identidade.
- desencadear a cultura do consumo consciente de produtos ecológicos, a começar por nós mesmos.
- manter permanentemente a formação das lideranças como forma de alimentar a consciência crítica diante das desumanas relações de trabalho e dos injustos interesses do mercado.
A partir de tudo que descobrimos, construímos e sentimos não podemos nos submeter à idolátrica ditadura do mercado e do deus capital em suas falsas promessas de felicidade através da riqueza e do consumo. Queremos investir nossas vidas e nossas forças na construção de uma nova realidade fundamentada no amor, na solidariedade, na partilha e no afeto como única forma de construir, especialmente, com os jovens, um mundo verdadeiramente HUMANO.
Assim, “não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos renovando vossa mente”.(Rm 12.2a).
Imigrante, 10 de junho de 2007