De 13 a 15 de abril, aconteceu em Manágua, capital da Nicarágua, uma capacitação de jovens promovida pela Federação Luterana Mundial (FLM) que contou com um representante de cada uma das treze igrejas luteranas da América Latina. Jovens procedentes da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Honduras, El Salvador, Costa Rica, Suriname, México, Nicarágua, Bolívia, uma jovem convidada representante da Igreja da Suécia e também a jovem alemã responsável pelo trabalho com jovens na FLM, que atualmente vive na Suíça.
A IECLB foi representada neste encontro pelo jovem Rodolfo Fuchs dos Santos, que atualmente está como coordenador do Conselho Nacional da JE, a partir de indicação do CONAJE e homologação da direção da Igreja.
Foram três dias de formação e compartilhar experiências da atuação das juventudes em suas igrejas, a partir do tema das mudanças climáticas, comunicação e incidência política. Ainda, foram preparados para a posterior participação na Conferência de Lideranças da região que aconteceu nos dias seguintes, conheceram um projeto da Igreja da Nicarágua (Igreja Fé e Esperança) e tiveram momentos de integração.
Nos intervalos, que eram poucos, mas que se alongaram pelas madrugadas houve uma grande troca de saberes, vivências, experiências e realidades diferentes. A realidade de violência, crises políticas e sociais vivida em alguns países fomentou horas de diálogos e com certeza gerou crescimento pessoal dos jovens, o qual replicará na atuação em suas igrejas. O ambiente extremamente fraterno deixou saudades a todos.
Segue a carta fruto destes três dias, a qual foi apresentada na Conferência de Lideranças, na qual os 13 jovens também eram delegados, no dia 18 de abril:
“’Porque não podemos deixar de falar o que vemos e ouvimos’ (Atos 4.20)
Nós, representantes jovens das igrejas membro da Federação Luterana Mundial (FLM) da América Latina e do Caribe (ALC) tivemos a oportunidade de nos reunir em Manágua, Nicarágua, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, para trocar experiências e nos capacitar durante três dias em incidência publica, mudanças climáticas e comunicação. Deste encontro surge a presente mensagem dirigida a todas as igrejas da ALC e da comunhão em sua totalidade.
Cremos que nosso compromisso para com Deus e com nos mesmos e nos mesmas, é zelar pelo bem estar do povo. Assim refletimos que devemos estar comprometidos e comprometidas com os direitos humanos e com a justiça em todos os seus âmbitos (social, econômica, climática e de gênero). Isso implica que devemos não refletir, e sim ocuparmo-nos com as causa fundamentais do empobrecimento e da exclusão.
Vivemos em um mundo onde as mudanças climáticas estão sendo a cada dia mais evidente: seca, enchentes, furacões, degelo, entre outros fenômenos de maior ou menos magnitude. Tanto as crises ambientais como as crises econômicas afetam principalmente as pessoas mais vulneráveis, todavia são elas as que menos contribuem para o desencadeamento de tais crises.
Ainda, meditamos nesses dias que, como igrejas luteranas na ALC, temos muitos desafios e objetivos em comum. Ainda assim, nem sempre atuamos em comunhão, dado que estamos desconectadas. Localmente estamos agindo para superar esses desafios, mas por falta de comunicação, nos privamos da riqueza de compartilhar e de atuar conjuntamente.
Estamos convencidos e convencidas que devemos dar continuidade a nossos processos de participação na Igreja, fortalecendo nossa fé e espiritualidade; mas ao mesmo tempo, e com a mesma força, estamos chamados e chamadas a cuidar do meio ambiente.
Queremos conscientizar de que ao nos fundamentarmos no Evangelho, somos convocados e convocadas a incidir politicamente nos espaços de decisão, participando ativamente em e com organizações ecumênicas e da sociedade civil, pois a incidência é parte de nossa missão de trabalhar pela justiça.
Sugerimos exercer nossa voz profética, denunciando as causas reais das injustiças sociais, econômicas, climáticas e de gênero; derivadas de um sistema econômico e de decisões politicas insustentável, que muitas vezes no leva em conta as pessoas nem o meio ambiente. Cremos em uma concepção de desenvolvimento centrado no bem estar das pessoas e em sua dignidade, buscando o desenvolvimento integral do ser humano para viver harmonicamente com a criação de Deus, da qual é parte.
Dados os fenômenos climáticos cada vez mais frequentes, temos que atuar o mais rápido possível. É por isso que nos sentimos chamados e chamadas a promover uma mudança na cultura fomentando o consumo responsável e consciente, e que todos e todas considerem as consequências que seus atos tem sobre os e as demais e no meio ambiente.
Propomos especificadamente a construção de planos de ação em nossas igrejas, referentes a ecojustiça, e em especial as mudanças climáticas, para guiar nossas atuação nesta temática, de acordo com os respectivos contextos. Cremos que, para enriquecer os resultados, isso pode ser realizado de forma conjunta com outras organizações, sejam igrejas de diferentes denominações, ou outra forma de participação civil.
Pensamos que nossa identidade luterana na ALC nos anima a conectarmo-nos, posto que, como explicitamos anteriormente, compartimos valores e desafios. Por tanto, como igrejas e organizações juvenis propomos implementar um método efetivo de comunicação e a partir dessa conexão, conhecer os diversos trabalhos, a fim de enriquecer nossa missão.
Nesta Conferência de Lideranças, reafirmamos nosso compromisso com a missão de Deus, e também com a constante reforma de nossas igrejas na América Latina e no Caribe. Assim como Jesus alçou a voz contra as injustiças de seu tempo, e também Martim Lutero protestou contra uma Igreja que havia perdido seu espirito libertador; da mesma forma, hoje não devemos ficar estáticos e estáticas quanto as coisas que vemos e ouvimos.”
Rodolfo Fuchs dos Santos, coordenador do Conselho Nacional da JE
Veja também: Proclamação do Evangelho em meio a sociedades diversificadas