Ao longo destes 40 anos, a CESE regou muitas sementes de esperança. Também contou com o apoio e parceria de muitos grupos, igrejas, agências de cooperação, organismos, movimentos que foram parceiros de caminhada, neste chão duro e tortuoso de onde brotam experiências de vida diversificadas.
A CESE é a expressão de uma Igreja que apresenta um testemunho público de fé, colocando-se junto com as pessoas pobres.
A CESE nasce em 1973, durante a Ditadura Militar, como uma ousada articulação ecumênica de resistência ao autoritarismo político, denúncia dos crimes contra os direitos humanos e anúncio profético de uma sociedade livre, democrática, econômica e socialmente justa.
Neste contexto, um importante gesto de ousadia profética foi a publicação e distribuição de mais de 2 milhões de exemplares com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em plena Ditadura.
A resistência ao modelo autoritário e excludente se deu através do apoio, participação e promoção de várias articulações, fóruns, redes e suporte financeiro e político para pequenos projetos. Estes gestos são sinais de que é possível um mundo caracterizado pela distribuição justa da terra, equidade de gênero, de raça e de respeito à diversidade religiosa.
Reconhecemos o papel importante desempenhado pela CESE em desafiar as Igrejas a não se distanciarem de sua função profética e pastoral por uma sociedade justa, caracterizada por um mundo onde todas as pessoas tenham seu lugar e seus direitos reconhecidos.
O caminho percorrido ainda não foi suficiente para vencer as forças do capitalismo que tem a dinâmica de se transmutar e assumir rostos múltiplos para continuar com sua saga exploradora e excludente.
Diante de uma conjuntura tão desafiadora e complexa, precisamos conduzir firmemente esta frágil embarcação que singra por mares revoltos.
Muitos desafios se apresentam para o movimento ecumênico e a luta por direitos. Precisamos redobrar nossa ousadia profética para que as novas agendas de Direitos Humanos, que se apresentam no século XXI encontrem eco. Entre os novos desafios, destacamos:
- Apesar de políticas de transferência de renda, a concentração de riqueza no Brasil permanece perpetuando os índices de desigualdade social, não garantindo transformações a partir de políticas estruturantes;
- A necessidade de uma ampla Reforma Política que amplie a participação social junto ao Estado e supere a lógica de apropriação da esfera pública por interesses privados;
- A nova configuração agrária, fortemente marcada pela dinâmica do agronegócio e que, por sua vez, recebe expressivo apoio do Estado;
- A exclusão das populações tradicionais de suas terras, para a garantia da execução de projetos de grandes corporações financeiras;
- A complexa agenda da defesa e promoção dos direitos humanos e a emergência de novos agentes sociais que reivindicam seus direitos;
- A instrumentalização da política e da religião por grupos fundamentalistas e defensores de interesses privados contrários ao bem comum.
- A necessidade de gestos e ações concretas que contra o extermínio da juventude, especialmente de jovens negros/as.
A CESE, como organização ecumênica e solidária com as pessoas excluídas e com os movimentos sociais se propõe a ser promotora de transformação social na sociedade contemporânea. Sua essência é o diálogo ecumênico e inter-religioso e sua inspiração a defesa, promoção, garantia e efetividade dos Direitos Humanos.
Celebramos nossos 40 agradecendo a história que construímos e afirmando nosso compromisso com uma sociedade democrática e de direitos. O que nos anima é o anúncio profético de Is 41.18: “Abrirei rios em lugares altos e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em lagos de águas e a terra seca em mananciais de água”.