Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e Ecumene



ID: 2676

1º Fórum de combate ao racismo e intolerância religiosa - Pronunciamento do Missionário Felipe Milani

23/03/2022

Missionário Felipe Milani
Participantes do Fórum
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1º Fórum de combate ao racismo e intolerância religiosa

23/03/2022 – Câmara Municipal de Valinhos/SP

Saúdo aos amigos e amigas presentes, pessoas que nos assistem, colegas da caminhada ecumênica, do diálogo inter-religioso, às autoridades políticas...

saúdo todas e todos com um texto bíblico que se encontra na Primeira carta de João (s. João): “Deus é amor”.

Como Ministro Ordenado da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), me sinto no dever de publicamente destacar que somos uma igreja do diálogo, somos naturalmente ecumênicos, fraternalmente interreligiosos, respeitamos a laicidade do Estado e lutamos pela paz irmanada com a justiça, e o amor na sociedade.

Queremos ser cada vez mais uma igreja que reflete, que procura a comunhão diante da diversidade religiosa, étnica/racial, cultural, de gênero; e que se posiciona tendo o Evangelho de Jesus Cristo e o amor ao próximo como prática, ensino, serviço, cuidado e acolhimento.

Dito isso, prossigo a minha fala agora num âmbito particular, pessoal.

A vida, a nossa capacidade intelectual, nosso corpo (e somos tão criativos e diversos), nossa capacidade física, a natureza, são dádivas de Deus para a humanidade. O bom uso disso tudo é de responsabilidade nossa. O que compreende para todas as pessoas, direitos, entre tantos, cito o direito à terra, ao trabalho e saúde, educação e moradia, cultura e lazer, paz, segurança e liberdade (destaco aqui a liberdade de crença ou de não crença).

Mas sempre que um desses elementos é aviltado, desonrado, além de prejuízos pessoais, enfraquecemos a nós mesmos enquanto povo. Perdemos enquanto humanidade. Perdemos o brilho e as cores dos corpos e almas. Tudo se acinzenta.

Obscurecidos e obscurecidas na mente e no coração, destruímos. Destruímos a natureza, desqualificamos a crença alheia, empregamos a violência.

Damos margem à intolerância e ao absurdo do racismo. Este último, estruturalizado desde os primórdios desta sociedade chamada brasileira.

A consciência cristã, essa que se funda na expressão citada no início (o Deus que é amor), se junta às demais consciências lúcidas sobre esta conjuntura,acusa esses males e apela: Mais amor e menos ódio. Mais cuidado e menos negligência. Mais afeto e menos repulsa.

Neste tempo de tão grande sofrimento, empobrecimento de multidões, negacionismo científico, fundamentalismos, neonazismo, o uso da religião para a instrumentalização da corrupção tanto na esfera pública (caso recente do MEC), quanto na esfera privada.

Neste tempo de violências diversas (contra a mulher, contra a pessoa pobre, contra a pessoa negra, contra os povos originários e entre outros), a consciência cristã, essa que se funda na expressão “Deus é amor”, se junta às demais consciências lúcidas, e apela: Mais respeito. Mais bom senso. Mais diálogo.

Como sugestão de encaminhamento prático neste fórum, com o objetivo de que estas e outras temáticas estejam permanentemente em diálogo em nossa cidade.

Com o objetivo de minimizar ou até mesmo erradicar o espírito bélico, racista e intolerante de nossa cultura.

Com o objetivo de Valinhos ganhar um rosto institucionalmente representativo e democrático para agir pela cultura da paz.

Conclamo ao poder executivo municipal que institua o Conselho Municipal da Cultura da Paz, com caráter consultivo. E peço apoio das entidades religiosas e não religiosas, das pessoas de boa vontade, desta Casa legislativa, para que essa proposta se efetive.

Quase finalizando. Me dirijo agora para todas as pessoas, com suas particularidades, crenças, filosofia, cor, identidade de gênero... E o faço em tom fraternal.

Eu gosto muito dos textos de um filósofo judeu chamado Martin Buber.

Ele expressa em sua filosofia o seguinte pensamento: “Eu só posso ser eu, a partir de você”.

Só existimos porque estamos constantemente em uma relação, em uma troca com um outro, uma outra. (ou com o Tu, como Buber coloca em seu livro: Eu e Tu).

Este ‘Tu’ pode ser referente a Deus, ao transcendente, ao numinoso, depende como cada crença denomina o divino. Mas este ‘tu’ não é somente o divino; são pessoas.

E dessas relações que fazem ser quem somos, essas relações ora contraditórias, ora coerentes, surgem as convicções que temos, a interpretação que fazemos do sagrado, do mistério, mas também do humano. Surge a leitura que fazemos da realidade da vida e o mais importante, como vivemos essa vida.

Procurarei neste emaranhado de conexões que a vida nos impõe, procurarei aquilo que pode humanizar a minha, a nossa existência.

Bem-aventurado o religioso e a religiosa, igualmente a pessoa que não professa nenhuma crença, que propõe e tenta viver com todo o seu coração, corpo e mente esse caminho da humanização.

Lembro mais uma vez: Deus é amor! E o amor não se alegra com a injustiça, não maltrata ninguém, não festeja quando os outros rastejam. Este amor nunca morrerá.

Muito obrigado!

Felipe Milani
Missionário da IECLB
Valinhos/SP


 

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