Textos Bíblicos: Salmo 113 e João 17.1-21
Irmãos e Irmãs em Cristo, o Senhor:
No contexto do XXVIII Concílio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, estamos realizando essa celebração ecumênica com a participação de irmãos e irmãs de diferentes Igrejas. Queremos neste momento louvar e agradecer a Deus pelo caminho percorrido até aqui na busca da unidade dos cristãos. Queremos também pedir forças, luzes e coragem para continuarmos a caminhada que por vezes se apresenta íngreme e até mesmo desalentadora. Neste momento vamos refletir sobre o que significa a proposta ecumênica.
A unidade dos cristãos, segundo o Evangelho há pouco proclamado, é expressa vontade de Cristo. E se é vontade de Cristo, deve ser também nossa vontade. A busca da unidade entre os cristãos não é algo acessório, como um apêndice do ser cristão. Trata-se de acolher ou não acolher a vontade do nosso Salvador. A causa ecumênica, portanto, é constitutiva do ser cristão. O cristão e a fé cristã, não importa a Igreja a que pertençam, estão convocados, pelo fato de serem cristãos, a abater todo e qualquer muro de divisão e a superar qualquer tipo de obstáculo ou preconceito que impeçam o anúncio do Evangelho da Salvação.
Ainda segundo o Evangelho proclamado, a unidade dos cristãos é uma exigência da missão. A Igreja nasceu missionária. Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Há dois mil anos nos foi dado este mandamento. No entanto, dois terços da humanidade continua sem conhecer a Boa Nova do Evangelho e sem ser batizada. É quase certo que este insucesso tem sua causa na divisão entre os que se dizem seguidores do Evangelho. Missionários que estão em desacordo entre si, embora façam apelo a Cristo, não lograrão êxito. A unidade dos cristãos, portanto, está no cerne da missão da Igreja. Aliás, o movimento ecumênico teve início, em determinado sentido, da experiência negativa daqueles que, anunciando o único Evangelho, se apelavam cada qual à própria Igreja ou Comunidade eclesial: uma contradição que não podia passar despercebida a quem escutava a mensagem da salvação. Infelizmente, muitas lideranças de nossas Igrejas ainda não se aperceberam disso, e continuam com atitudes e práticas proselitistas.
Não podemos esquecer, porém, que a unidade dos cristãos, antes de tudo é um dom de Deus que se alcança pela oração. Se os cristãos, apesar de suas divisões, souberem unir-se cada vez mais em oração comum ao redor de Cristo, crescerá a sua consciência de como é reduzido o que os divide em comparação com aquilo que os une. Se se encontrarem sempre mais assiduamente diante de Cristo na oração, os cristãos poderão ganhar coragem para enfrentar toda dolorosa realidade humana das divisões. (,,,) A comunhão na oração induz a ver com olhos novos a Igreja e o cristianismo. A oração em favor da unidade traz credibilidade à causa. Nossa oração deve ser de louvor e agradecimento por tudo aquilo que já foi alcançado. Mas, deve ser principalmente de súplica. Precisamos pedir em primeiro lugar a conversão pessoal de cada um e de todos nós, pois os anseios de unidade nascem e amadurecem a partir da renovação da mente. Muitos preconceitos e desconhecimentos mútuos nos separam. A oração tem a força de nos purificar e de nos fazer voltar à verdade evangélica das palavras: Um só é vosso Pai. O mesmo se diga quanto a afirmação: um só é vosso Mestre e vós sois todos irmãos. A oração ecumênica descobre esta dimensão fundamental da fraternidade em Cristo que morreu para derrubar os muros que separavam as pessoas e os povos (Ef 2.14). Quanto mais nos voltamos para Deus, mais próximos estaremos uns dos outros. À semelhança dos raios de uma roda. Quanto mais próximos do eixo, mais junto se encontram.
Nossa oração deve ser também pela conversão das estruturas que impedem ou obstaculizam o processo da unidade. Sem dúvida, em nossas Igrejas existem estruturas que clamam por mudanças. Nós católicos, por exemplo, precisamos fazer significativas mudanças estruturais, pastorais e canônicas, se quisermos abraçar com sinceridade e seriedade a busca da unidade entre os cristãos. Entre tantas outras, precisamos repensar as questões da colegialidade, da participação do laicato e da forma de exercer o ministério petrino. Estas mudanças não acontecem com simples conscientização. Temos necessidade de mudar o coração. Precisamos de conversão, fruto da graça que se alcança pela oração. As Igrejas irmãs, com certeza, também terão que se converter. Que o bom Deus dê a todos nós, como graça desta celebração, a luz do discernimento e a coragem da conversão.
Dom Manuel João Francisco
Bispo da Diocese de Chapecó e Presidente do CONIC.