Concílio da Igreja



ID: 2273

Uma Igreja para um novo tempo

10/10/2008

Constituir-se como uma só Igreja, de matriz evangélica luterana, foi um marco histórico na vida da IECLB. Isso se deu em 1949, quando os quatro Sínodos formaram a Federação Sinodal. Outro marco destacado foi a decisão dos Sínodos históricos de abdicarem da sua personalidade jurídica para formar um só corpo eclesiástico, com um só estatuto e uma só direção e administração central. Esse processo teve o seu ápice no Concílio Extraordinário de São Paulo, realizado de 23 a 27 de outubro de 1968 na Igreja da Paz, em Santo Amaro.

A busca por união e unidade

Nos primeiros decênios depois da imigração alemã, com a qual aportaram evangélicos luteranos, predominou o individualismo de pastores e o independentismo das Comunidades. Mas havia pastores e Comunidades que sabiam que união e unidade significariam proteção e fortalecimento da vida eclesiástica. E quando os Sínodos se constituíram entre 1886 e 1912, verificamos que eles deixavam aberta uma janela para o relacionamento e até para uma caminhada conjunta com os outros Sínodos. O Pastor Dr. Rotermund, por exemplo, dirigiu o convite para a reunião de fundação do Sínodo Riograndense (1886) “aos pastores ordenados nas Comunidades Evangélicas no Brasil”. Mesmo assim, o caminho foi longo até a constituição da Federação Sinodal-IECLB e a inauguração da nova “casa eclesiástica”, em 1968, na qual as Comunidades ocupam o espaço, como membros constitutivos da IECLB, no lugar dos antigos Sínodos. Estes, tinham cumprido a sua tarefa de “preceptoras” (educadoras e formadoras). O passo da retirada de cena foi dado sem reservas, mas com alegria e na certeza de que era chegada a hora de ser uma Igreja para um novo tempo.

De que tempo estamos falando?

Falamos da conturbada década de 1960. No Brasil, vivia-se sob o regime militar. Na IECLB, era o tempo das “escolas de líderes” da JE. Jovens da JE começavam a realizar encontros intersinodais. Falavam em ser uma só Igreja, sem as restritivas fronteiras sinodais. Os estudantes da Faculdade de Teologia da IECLB realizavam “semanas acadêmicas” no recinto da Câmara de Vereadores de São Leopoldo, com palestras e discussões abertas ao público. Os migrantes estavam pondo os pés na estrada. Entre eles, muitos membros da IECLB. Em Brasília, membros da IECLB se reuniram em comunidade, e a IECLB criou a pastorado da nova capital federal. O Seminário de Pregadores foi construído em Araras-RJ, como sinal claro de que o lugar da IECLB não era de confinamento regional, mas de abrangência nacional. A Igreja sentia o desafio da responsabilidade social. O trabalho da Academia Evangélica, direcionado principalmente aos membros da Igreja, realizava encontros de estudo sobre temas relevantes para a vida política, social e eclesiástica. O serviço da Mordomia Cristã abordava a questão do compromisso entre fé e dinheiro, pensando-se especialmente na manutenção dos serviços eclesiásticos com recursos próprios. Foi criado o Pastorado da Diaconia. A Legião Evangélica incorporara a Legião dos Construtores da Faculdade de Teologia e se tornara um trabalho intersinodal. Havia muitas comissões intersinodais. Ações de abrangência nacional se sobrepunham sempre mais às questões domésticas dos Sínodos. A Igreja assumia uma participação crescente em organismos ecumênicos mundiais, latino-americanos e brasileiros, como Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Federação Luterana Mundial (FLM), Confederação Evangélica do Brasil, Sociedade Bíblica do Brasil. A Assembléia da FLM estava marcada para 1970 em Porto Alegre (em última hora transferida por razões políticas para Evian, França). Estas são algumas facetas do tempo que se vivia na IECLB. Os Sínodos já não eram instâncias suficientes para corresponder ao que se passava no Brasil e na IECLB. A sua fusão atendia ao imperativo da hora.

Fatores que favoreceram o processo de fusão dos Sínodos.

Destacamos, aqui, apenas três fatores. Primeiro: Bom número de pastores obtivera a sua formação teológica na mesma Faculdade de Teologia de São Leopoldo. A grande maioria já se conhecia do tempo de internato no Instituto Pré-Teológico, também no Morro do Espelho. Eram naturais de diversos Estados e Sínodos. Aqui, firmaram amizades profundas, que persistiram quando foram servir nos diferentes Sínodos. Segundo: A experiência de ser inexpressivo e viver isolado, feito durante as duas Guerras Mundiais, fortaleceu o desejo por união. Os evangélicos luteranos já vinham com aquela experiência negativa de “cidadania tolhida” pelas leis do Império. E nas Guerras Mundiais sofreram muitas injustiças por causa da sua origem étnica. Era chegada a hora de superar todos esses traumas, enfrentar a realidade de ser minoria na diáspora e assumir, de cabeça erguida, a missão de ser Igreja de Jesus Cristo no Brasil. Terceiro: A presença de um líder inconteste e confiável. A autoridade do Dr. Ernesto Th. Schlieper, Pastor Presidente da IECLB desde a morte de Dohms (04.12.1956), era reconhecida em todos os Sínodos. Era pessoa serena, de grande fé, teólogo profundo, paciente nas negociações e firme nas decisões. Dedicava atenção especial às Comunidades, à formação de obreiros, à missão e à responsabilidade ecumênica da Igreja. No entanto, não lhe foi dado participar do Concílio. Esteve hospitalizado em Porto Alegre, gravemente enfermo. Veio a falecer um ano depois, no dia 31 de outubro de 1969. Mas seu nome foi várias vezes lembrado durante o Concílio. Substitui-o, na direção dos trabalhos, o Pastor Karl Gottschald, Pastor Vice-Presidente da IECLB.

A pergunta para hoje.

Entrementes, passaram-se 40 anos desde o memorável Concílio de São Paulo. Relembrando o que ali foi dito e decidido, não é difícil ouvir a pergunta: E nós, estamos preparados e organizados para ser Igreja no nosso tempo?
 


Autor(a): Rolf Droste
Âmbito: IECLB / Instância Nacional: Concílio
Natureza do Texto: Artigo
ID: 16984

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