Que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo sejam conosco. Amém.
Bem-aventurados os que choram, por que serão consolados (v.4). Bem-aventurados os misericordiosos por que alcançarão misericórdia (v.7).
Nas bem-aventuranças Jesus apresenta o Reino de Deus, onde a pauta entre as pessoas é a paz, justiça, dignidade para a criação, vida em sua totalidade e comunhão.
Três palavras se destacam nos versículos: choro, consolo e misericórdia. Deste modo estamos diante de uma palavra para situações concretas da vida. Chorar é humano, tal como ocorre no nascimento. Chorar é humano quando perdemos pessoas. Há choro que não precisa de consolo pois vem por motivo de alegria, como em Gn 45.5 quando José se reencontrar com os seus irmãos e Gn 50.1 quando reencontra o pai. Há choro em nossas comunidades. Há choro que não é ouvido, como é o caso de mulheres e crianças vítimas de violência dentro de casa.
Sl 137.1 mostra choro de saudade. Hoje vemos, milhões de pessoas pelo mundo que choram de saudade de seu país de onde fugiram de conflito e guerras insanas como vemos na Ucrânia.
Estamos na Rondônia. Aqui a IECLB chegou a 52 anos. O livro do Pastor Geraldo Schach, Rondônia, a Terra Prometida – Migração e fé Luterana evidencia muito choro. Luteranos e luteranas de diferentes regiões do país, especialmente do Espírito Santo, chegaram aqui em busca de terra e sonhos. Encontraram desafios. Inimaginável quanto choro, dor e saudade tiveram. Choro de saudade, de sofrimento, de alegria pela terra e pelos desafios vencidos. Choro de alegria pela sua igreja, a IECLB que os acompanhou e sustentou na fé e na esperança. Por isso realizar o XXXIII Concílio tem muitos significados: as comunidades luteranas daqui são parte da IECLB, acolhem irmãos e irmãs de muitos lugares!
Por que são bem-aventurados os que choram? A resposta diz: porque serão consolados. Então os que choram por sofrimentos e tristezas são bem-aventurados. Não porque precisamos passar por sofrimentos para chegar a salvação/consolação. Mas choramos porque somos humanos, temos sentimentos, nosso coração não é de pedra, ele se comove com as injustiças, com as guerras cruéis, com pessoas enlutadas, com pessoas doentes, com a destruição da criação de Deus, e promovem cuidado, consolo, diaconia.
Deus consola os que choram. Jesus deixa isso claro em Mateus 5.4. Deus consola ao afirmar que nos ama (Jo 3.16). Deus consola e se assenta conosco e chora. Deus consola transformando vidas e situações. Deus consola e transforma quando levanta pessoas que colocam dons a serviço e se engajam na luta por justiça, paz, vida e dignidade. Nisso reside o papel da IECLB e suas comunidades que devem ser, por meio da Diaconia braços estendidos de Deus, sal da terra e luz do mundo, comunidades e igreja que inclui pessoas, que não julga de modo rasteiro.
O que é misericórdia? Favor feito a alguém que necessita de algo; atender as necessidades de uma pessoa frente a uma situação. Jesus ensina a nos preocupar com o próximo, com a criação. Misericórdia é dádiva que recebemos de Deus que age com amor pelo seu povo.
Misericórdia é atitude de compaixão. Nasce no coração e se concretiza nos atos como no caso do Bom Samaritano. Aqui na Rondônia, conforme ouvimos, a IECLB atuou, em Ariquemes e região, a partir da Casa Brasil, de modo firme, intenso e determinado no combate à malária. Hoje a Casa Brasil é a base para a Escola para a Vida que atende dezenas de crianças. Ser misericordioso é ser semelhante ao agir de Deus frente as dificuldades, promovendo transformação.
Ser misericordioso é olhar ao próximo sem julgar. Olhar com os olhos de misericórdia que Jesus olhava e saber que misericórdia é o oposto do egoísmo. O misericordioso sofre com o próximo. O egoísta se vangloria consigo mesmo. O Misericordioso faz a diferença no mundo. O egoísta atua para perpetuar o mundo como está. O Misericordioso age não esquecendo de ser dependente de Deus. Misericórdia é graça. Ser misericordioso é viver a dinâmica do perdão, do recomeçar. Ser misericordioso é se envolver na transformação, promovendo vida.
Mt 5.4 e 7 Joga por terra o entendimento de que na vida não temos problemas. Desejamos alegria e felicidade, sem dificuldades. Jesus aponta o contrário. Declara bem-aventurados os tristes e aflitos, os que choram e levam a vida adiante. Jesus declara bem-aventurados as pessoas que em dificuldades erguem a cabeça, colocam a confiança em Deus, não se conformam com o que contraria a vida, a paz, a justiça e o respeito.
As bem-aventuranças se opõe ao jeito com que o mundo ensina que devemos seguir. Apontam para o desejo de Deus e são princípios éticos para a vida. As bem-aventuranças são uma proposta de testemunho para a comunidade e são perpassadas de desafios que devem incomodar. Bem-aventurados são os que percebem e vivem conforme Reino de Deus.
Jesus olha com os olhos e com o coração. Vê o sofrimento, necessidades, medos, angústias. Vê aquilo que marca a vida das pessoas. Ele vê e desafia a olhar de modo misericordioso, como feito por Jesus. Somos desafiados a olhar com olhos de esperança, a sair deste concílio, voltar para as comunidades e nos envolver em ações de paz e justiça, de diaconia que promove vida.
As bem-aventuranças trazem olhar de solidariedade e amor. Trazem o futuro de Deus para perto das situações de vida. Isso é e deve ser semente de esperança. Por isso, as bem-aventuranças desafiam a olhar com o coração e olhos de solidariedade. Se assim for teremos química ideal para promover ações de esperança.
Em sua paixão, morte e ressureição Jesus fez tudo para a nossa redenção. Isto é a grande bem-aventurança que recebemos e por isso podemos, na continuidade, alegres celebrar a Santa Ceia.
Pessoas bem-aventuradas são humildes e seguem Deus. Sofrem e se preocupam com o gemido da criação. São alegres e põe dons a serviço. Ouvem e seguem a vontade de Deus. Ser bem-aventurado chama para derrubar muros, transformar armas em paz, promover a justiça. Ser bem-aventurado é trabalhar pela inclusão, se colocar ao lado dos enfermos, trabalhar pela paz.
Aos bem-aventurados pertence o Reino de Deus. Por isso, repetimos como consta em 2 Co 1.3-4: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o pai de Misericórdias e Deus de toda a consolação. É ele que nos consola em toda a nossa tribulação, para que, pela consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que estiverem em qualquer tipo de tribulação. Amém.
