XXVI Concílio da IECLB
Panambi, 12 de outubro de 2006
PRÉDICA NO CULTO DE ABERTURA
Dr. Rolf Schünemann
Pastor 2° Vice Presidente
Pastor Sinodal do Sínodo Sudeste
Mateus 11.28-30
“Esta Palavra – Mateus 11.28-30 – foi Evangelho – boa notícia para irmãos e irmãs que nos antecederam. Homens, mulheres, jovens e crianças, pessoas de carne e osso como nós, pessoas com suas dores e seus cansaços, pessoas com derrotas e frustrações, pessoas com ideais, com expectativas e muita esperança, pessoas que se voltaram para Jesus e atenderam este convite. Acolheram esta boa nova, formaram comunidades e estabeleceram Igreja neste lugar, nesta localidade.
Abrimos este Concílio da Igreja e ouvimos novamente, tal qual nossos antepassados, esta Palavra de Deus. Ela se torna uma Palavra muito atual, Palavra viva porque é Evangelho vivo de nosso Senhor Jesus Cristo ressurreto presente entre nós. Jesus no início deste Concílio estende de forma amiga e calorosa o convite a todos nós para voltar a nossa atenção para a sua voz, para a sua proposta, sua oferta de vida nova.
Sua voz, o seu convite ecoa em meio a uma religiosidade difusa e confusa. De um lado, negada e rechaçada por uns, por ser entendida e assimilada coisa chata ou pesada, invasiva e controladora da privacidade e, de outro lado, aceita como salva-vidas por falta de alternativas em meio a precariedade da existência. Ou então como religião, desejada e defendida como aquele freio que segura as pessoas, que dita normas de comportamentos na lei e na marra porque liberdade demais não funciona e é perigosa.
Vinde a mim... cansados e cansadas e sobrecarregados e sobrecarregadas, diz Jesus. Estamos aqui e trazemos as nossas mochilas com pesos muito diferentes e cheias com os conteúdos dos mais diversos. Pode ser o peso da culpa pelo dever não cumprido, da responsabilidade e expectativa não correspondidas. Pode ser a frustração com os ideais não alcançados e com os sonhos que ficaram pelo caminho, abatidos que foram pela realidade dura e cruel. Cada um e cada uma tem sua carga que enrijece os ombros, deixa as costas doloridas e arqueia a espinha dorsal.
Vinde a mim... diz Jesus e vos aliviarei. A mochila que eu ofereço não contém o chumbo das leis e dos regulamentos, dos falsos moralismos, dos controles excessivos que limitam a mobilidade e dificultam a vida. Eu ofereço uma mochila recheada de plumas. O meu fardo é leve. O seu conteúdo se inscreve no coração e na mente, no íntimo da existência que direciona e leva a um novo jeito de pensar, de ser, de agir, de viver. A minha proposta libera para uma nova atitude de vida.
Sim, irmãos e irmãs, em sua mansidão e em sua humildade Jesus compreende as pessoas oprimidas a ponto de dar graças ao Pai porque ele ocultou esta novidade aos sábios e instruídos e a revelou aos pequeninos. As pessoas simples, desprezadas, massacradas, pisoteadas, recebidas com preconceito e humilhadas pelos poderosos de plantão acolhem o convite de Jesus.
Nisso a mensagem de Jesus se torna profundamente atual. Quando olhamos para o cenário de nosso mundo e de nossa sociedade constatamos que milhões de pessoas estão sendo espremidas pela idolatria do mercado – este ente divino, sujeito impessoal com atributos de pessoa – para o qual o que importa e conta é rentabilidade, ganho e acumulação. A exacerbação do lucro faz com que as pessoas – homens, mulheres, jovens e crianças – e a natureza, a criação divina tenham um valor secundário. Esta idolatria do mercado invade inclusive instituições religiosas sob a forma da ideologia do crescimento a qualquer custo. Esta ideologia parece um bezerro de ouro contemporâneo, cultuado nos altares do sucesso .
Vinde a mim... eis o convite que ecoa qual onda sonora emitida pela antena Jesus. Quando sintonizamos na mesma freqüência da proposta oferecida por Jesus, quando movimentamos o dial de nosso coração, nós compartilhamos dos valores do Reino dos céus, anunciado e vivenciado por ele.
Sabemos que esta sintonia, esta comunicação não é perfeita. Sempre há ruídos, chiados, interferências, tempestades, posicionamentos equivocados da antena do receptor que dificultam a sintonia. Daí porque ser necessária uma constante mudança de mentalidade, um morrer diário de nossos interesses para dar vez e voz ao que Jesus tem a dizer.
Sabemos quanto peso acumulamos na mochila quando nós mesmos queremos resolver tudo sozinhos a partir de nossa perspectiva, a partir das variáveis que dominamos e conhecemos, com a nossa visão limitada, com a nossa ignorância. Felizmente a graça de Deus e o seu Espírito nos socorrem. Deus em sua amplitude, sua enorme abrangência acolhe, acompanha, orienta e guia seu povo, seus filhos e filhas, para tomar decisões no dia-a-dia da existência, no planejamento e execução de ações na comunidade e na igreja.
Começamos este Concílio da Igreja com uma imagem muito bonita – a imagem da borboleta. Por isso, deixemos um pouco de lado a figura do barco, do navio como símbolo da igreja, e olhemos, neste ano do centenário de Santos Dumont, para o vôo gracioso da borboleta. Seu par de asas se movimenta sincronicamente numa sintonia perfeita. Repito: Seu par de asas porque uma asa só não resulta em vôo algum.
Olhemos para a fragilidade, a suavidade, a elegância, a beleza e, em especial, para a leveza da borboleta. Ela tem um movimento gracioso porque não carrega mochila pesada. Ela transporta, no seu constante ir e vir, no seu pousar de flor em flor, o pólem gerador de nova vida. O pólem não lhe pertence e nem é produzido por ela. Ele adere de forma gratuita em partes do seu corpo e, em sua movimentação, num espaço determinado e em determinadas épocas do ano, a borboleta participa da promoção e reprodução da vida.
Pessoas isoladas, grupos isolados, comunidades isoladas tem dificuldades em frutificar. Carecem de comunicação entre si. Carecem de “borboletas” que polinizam. Estamos aqui como Concílio de Igreja, encontro de Sínodos, caminhada comum e reunião de uma vasta rede de comunidades que se inter-comunicam, promovem inter-câmbio, trocam e partilham de dons e recursos, em grande parte do Brasil. Estamos aqui em Panambi – Vale das Borboletas Azuis – como borboletas que estabelecem inter-conexão e inter-locução. Borboletas que criam uma inter-face - a comunhão de jornada de irmãos e irmãs que atendem o chamado de Jesus e deixam as mochilas pesadas do isolamento e da auto-suficiência. Buscam uma estrutura e uma organização de igreja que seja leve e favoreça mobilidade, graciosidade e beleza de vôo .
Vivemos no tempo e o tempo não nos pertence. No atendimento do convite de Jesus, sejamos borboletas leves e graciosas a aproveitar o tempo de Deus – o kairós, tempo oportuno – para carregar o pólem gerador da fraternidade, da justiça e da solidariedade, sabedores e sabedoras que o crescimento vem de Deus. Para tanto entreguemo-nos pacientemente nas suas mãos e confiemos nele com sobriedade e muita esperança.
Que o Espírito de Deus, que é também o Espírito de Jesus, atue graciosamente neste Concílio, inquiete e aquiete, fortaleça vínculos e compromissos e ilumine decisões e encaminhamentos. Amém.”