Introdução
Os rios nascem pequenos, quase um fio de água, depois começam a correr e encontram-se com córregos e ribeirões. Então crescem. Mas, quando um rio morre, no lugar fica só o seu desenho.
“Essas terras todas eram do meu avô. Agora plantaram eucalipto por aí tudo”, diz Viviane Gonçalves Pereira, 12, ao olhar a imensa plantação de eucalipto.
Lá as crianças não conheceram rios como o Mumbuca ou córregos como o Formosa (Vale do Jequiitinhonha- MG). Só sabem deles pelas histórias contadas por seus pais. Carla Soares dos Santos, 11 diz que antes, os rios “tinham muita água”. “Hoje não cuidam deles.”
Em Turmalina, o sol é intenso, há poucas árvores e os pés afundam na poeira da estrada. Apesar de crescer à sombra dos eucaliptos, todo menino sabe que é preciso recuperar o cerrado, “cobrir a terra”, como dizem por lá, revitalizar as nascentes para que os rios voltem a correr.
Ao ouvirmos da realidade que emoldura a nossa “casa” (oikos) terrestre, assim como é narrada a história do Vale do Jequitinhonha (MG), nossa vontade é de chorar!
Apesar do enorme estrago no mundo de Deus e, contra muitas evidências, a Bíblia testemunha a “bela criação de Deus”. As Sagradas Escrituras falam dos olhos de Deus, testemunham como Deus enxerga “as coisas”. “E viu Deus tudo o que fizera e viu que era muito bom”.
E agora o texto, de acordo com o profeta Isaías 65.17 a 25:
17) “Pois eis que eu crio novos céus e nova terra e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas.
18) Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo.
19) E exultarei por causa de Jerusalém e me alegrarei no meu povo, e nunca mais se ouvirá nela nem voz de choro nem de clamor.
22) Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque a longevidade do meu povo será como a da árvore, e os meus eleitos desfrutarão de todo as obras das suas próprias mãos.
25) O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal, nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor”.
O texto acima não se iguala aquilo que se falou aos habitantes em Sodoma e Gomorra. A notícia do profeta é boa e foi dita a um povo especial.
“Pois eu crio novos céus e nova terra; nunca mais se ouvirá, nem voz de choro, nem de clamor. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, não se fará mal nem dano em todo o meu santo monte”.
Diante do povo de Deus, em frangalhos, o profeta fala da vontade de Deus. E a vontade de Deus é transparente: “não quero só reformar, organizar um mundo melhor, não quero inspirar os políticos ou líderes da nação para que saibam administrar melhor! Não é isto que eu quero”. “Eu crio um mundo bem novo”! - Palavras de Deus.
A novidade anunciada não é só uma música futurista. Se, na IECLB, nos ocuparemos, em 2011, com o tema: “Paz na criação de Deus”, então já existem raios de sol, os quais nos permitem enxergar esta novidade, desde a cruz e a páscoa de Jesus Cristo.
Poderá Deus pensar: “Eu sei que os vossos planos podem falhar, pode haver erros, decepções, mas eu, vosso Deus, coloco pessoas ao seu lado que firmarão a esperança diante da novidade”.
Quando o ser humano se coloca no centro do mundo, ele perde a noção de Deus, deixa de perguntar por sua vontade e o universo sai do eixo. O compromisso de preservar “paz na criação” cede lugar à ganância sem fronteiras.
Sumindo Deus-Criador, o ser humano transforma o mundo em patrimônio sem dono. Em verdade, nada mais somos do que administradores/as dos talentos recebidos; somos gerentes chamados à misericórdia, à prática da bondade. O culto, nesta manhã, permite que festejemos uma ótima notícia. Ao contrário dos profetas do apocalipse catastrófico, exalando a medo e a temor, tenho a liberdade de anunciar que “Deus mantém controle sobre a situação”. Não só isto. Ele cria algo novo.
Em outra oportunidade, o profeta torna-se porta-voz de Deus para assegurar: “Eu te salvei, chamei-te pelo teu nome, tu és meu/ minha.” Ou, no Novo Testamento: “Em Cristo, Deus começou a nova criação”.
Celebramos a Deus, que nos presenteou com um mosaico de imagens de esperança. O Deus da Cruz e da Páscoa põe em ordem, o que está de “pernas pro ar”.
O profeta de Deus desenha um poço inesgotável de esperança. Ele está ciente de que, “acabando a esperança, inicia a processo de morte”.
A Ceia do Senhor a ser festejada, nesta manhã, permite que antevejamos como será o mundo que Deus quer. Assim como Cristo nos serve à mesa, somos convidados a servir ao irmão/ã, prestar serviço, também, à bela criação.
Aconteceu na distante Pápua-Nova Guiné. Um missionário traduzia a Bíblia para a língua do povo daquela terra. Sentia, porém, dificuldades em traduzir o termo “esperança”. Em meio à sua tarefa foi surpreendido com a morte prematura de um filho seu, de poucos anos. Foi confrontado, com a desumana tarefa, de sepultar o seu próprio filho. Um menino morador da vila presenciou este triste episódio. Em conversa tímida com o missionário, o menino impressionado disse: “estou sem palavras porque, em momento algum, vi lágrimas de desespero correndo dos teus olhos”.
“Por que haveria eu de chorar desesperado”? Foi a resposta do missionário. “Estou muito triste, mas tenho confiança de que nosso filho está bem guardado nos braços de Deus-Criador, à espera da ressurreição.” Mais espantado, ainda, o menino reagiu: “agora, eu descobri que vocês, cristãos e cristãs, enxergam para além do horizonte”. “Enxergar para além do horizonte”, repetiu o missionário! Agora sei como traduzir esperança: enxergar para além do horizonte!
Enquanto, na IECLB, olhamos para além do horizonte somos animados a dizer: SIM ... à paz, à criação, ...à vida, Sim à unidade, ... à esperança.
Do começo ao fim, a Bíblia apresenta Deus que fala muito bem sobre a criação, Deus que fala bem sobre a vida das criaturas. Deus nos enxerga com olhos da bênção. Por isto, a bênção de Deus é fonte de esperança, para a criação e para as escrituras todas.
Faz sentido olhar à beleza das Cataratas do Iguaçu ou conhecer projetos a serviço da vida como aperitivo da “nova terra e do novo céu”, conforme o imaginário do profeta.
A vontade de Deus, preservando a vida, a natureza, estabelecendo novos relacionamentos, é muito maior, do que a fúria destruidora do ser humano. É nisto que confio, e é isto que nos dá esperança e que faz apostar em paz na criação de Deus!
Amém.
Pastor Sinodal Manfredo Siegle
Sínodo Norte Catarinense