Advento - Natal - Epifania



ID: 2655

QUEM DISSE QUE ADVENTO É TEMPO DE FESTA?

02/12/2018

Jeremias 33.14-16

Prezada Comunidade
Alguns dos meus colegas pastores e pastoras que estudaram comigo no internato e na faculdade de teologia estão começando a se aposentar, depois de 35-40 anos de pastorado. Nas conversas com esses colegas, sempre surge a pergunta: será que valeu a pena ter dedicado a vida para a igreja e ter falado tanto do amor de Deus? Será que o mundo está melhor que a 35-40 anos atrás? Alguém também pergunta: Quantas vezes você pensou em desistir, porque as prédicas e os ensinamentos sobre a Palavra de Deus caiam no vazio? Todos nós lembramos de colegas que ficaram tão frustrados que abandonaram esse caminho e decidiram fazer outra coisa na vida. Mas junto com essas frustrações, também ouvimos muitas histórias que contam muitos momentos de alegria, de perseverança, de confiança e momentos claros em que sentimos o amor de Deus presente na vida de muitas pessoas.

Nessas conversas geralmente nos lembramos do profeta Jeremias. Uma pessoa que sentiu o chamado de Deus queimando dentro de seu peito e que sabia que seguir esse chamado era o seu destino. No entanto, Jeremias resistiu desde o começo. Ele não queria atender esse chamado, talvez porque o seu pai Hilquias era um sacerdote e ele sabia que trabalhar com pessoas é uma coisa muito difícil. Por isso, ele foi arrumando desculpas: Ah, Senhor, eu sou muito jovem e ninguém vai me escutar. Ah Senhor, eu não sei falar. Ah, Senhor, não sei ler nem escrever direito. Jeremias arrumou todas as desculpas possíveis para cair fora, mas Deus não deixou. Deus disse que ele seria um “profeta de ferro”(1.18) para pregar o arrependimento aos empedrados corações do pecaminoso reino de Judá. Jeremias atuou como profeta por 40-50 anos, durante o período de pelo menos 4 reis, entre os anos 630-580 a.C. E sua mensagem era que os reis deveriam governar com justiça.

Talvez tenha sido nesse tempo que surgiu a história sobre um rei que tinha três filhos. Os três já estavam brigando pelo trono antes da morte do pai. Por isso, os conselheiros do rei pediram que o velho rei decidisse qual dos filhos deveria ser o novo rei. O velho rei então mandou que os três filhos percorressem o reino por três anos e depois voltassem para contar o que tinham aprendido. Um filho passou o tempo todo no exército junto aos guerreiros e aprendeu tudo sobre o uso de armas e táticas de guerra. O outro filho foi estudar com os sábios e aprendeu tudo sobre comércio. O terceiro filho passou os três anos disfarçado no meio da gente mais humilde. Aprendeu muito sobre as dificuldades da vida e a solidariedade. O velho rei, escutou o relato dos três filhos e decidiu escolher como novo rei o filho que tinha vivido no meio dos pobres. Os outros dois filhos perguntaram Porquê? E o velho rei respondeu que o dever sagrado de um governante é ser sensível aos sofrimentos e as necessidades do seu povo. Da mesma forma, o profeta Jeremias insistia que as pessoas se voltassem para a vontade de Deus e que o exemplo deveria vir de cima. No entanto, quanto mais pregava, mais desprezavam a sua pregação.

Até o capitulo 20, o livro de Jeremias contém quase só repreensões e queixas no tocante à maldade dos judeus. Como não havia nenhum sinal de arrependimento, Jeremias então prega a punição, ou seja, a destruição de Jerusalém. O que havia acontecido em 597 a.C., quando os assírios destruíram o reino do Norte de Israel, o mesmo aconteceria também com o reino do Sul, o reino de Judá, que seria invadido e destruído pelo exército da Babilônia. Mas como é de costume, quanto mais próxima a punição, tanto piores ficam as pessoas. Jeremias anunciava o iminente castigo de Deus, mas o resultado disso na vida das pessoas era quase zero.

Por causa disso, Jeremias muitas vezes se queixou a Deus. De que adianta insistir com o arrependimento, se Deus permite que as pessoas más vivam cada dia melhor?

Jeremias então se lembrava que as pessoas de Sodoma e Gomorra não apenas desprezavam o piedoso Ló, mas o perseguiram e tentaram matá-lo, porque ele chamava as pessoas ao arrependimento. Jeremias também se lembrou que o faraó do Egito, antes de perder uma grande parte do seu exército afogado no mar, torturou os filhos de Israel duas vezes mais do que antes. Jeremias sabia: quanto mais duro se torna o coração das pessoas, mas próximo está também a sua punição. Quanto mais cabeça-dura, mais perto está a morte. Desta forma, a maioria dos 52 capítulos do livro de Jeremias são de pura repreensão ou de apelos ao arrependimento. Mesmo assim, o resultado de seu trabalho foi mínimo. Ao invés de ouvir o profeta, certo dia os soldados jogaram ele num poço. As pessoas passavam pelo poço debochando dele. Em outro dia o povo se revoltou tanto contra ele que começaram a atirar pedras contra o profeta e quase o mataram.

Mas, no meio do livro de Jeremias – quatro capítulos se destacam como um raio de luz no meio da escuridão. São os capítulos 30 até 33. Eles estão repletos de palavras de consolo e de esperança sobre a presença salvadora de Deus, defendendo os que permaneceram fiéis a Deus em meio as duras provações. Vamos ouvir uma parte conforme Jeremias 33.14-16.

Ler o texto de Jeremias 33.14-16

Jeremias diz que Deus não fala em arrependimento porque quer castigar o seu povo. Se Deus insiste no arrependimento e na mudança de vida de seu povo, é porque Deus mesmo quer ir morar com eles. Deus quer estar no meio deles. E Deus está lá onde se pratica a justiça, a misericórdia, o perdão, a compaixão.

Desta forma as palavras de Jeremias chegam também a nós e chamam nossa atenção para a necessidade de avaliação, arrependimento e fidelidade à vontade de Deus. Assim como o governo e o povo de Israel se desviaram da vontade de Deus, assim também nós devemos avaliar nossa conduta à luz dos ensinamentos de Jesus Cristo. Também hoje nossas convicções tornaram os nossos corações empedrados a tal ponto que não conseguimos ver nada de bom em quem nos questiona. Isso acontece também em nossas igrejas. Não gostamos de ser questionados. Até mesmo quando a Palavra de Deus nos questiona através da prédica, então nos chateamos e deixamos de ir ao culto ou rebatemos dizendo que o pastor ou pastora não nos podem dizer nada, porque eles também têm seus defeitos. É verdade, os pastores e pastoras não somos pessoas perfeitas e Tiago 3.1 nos alerta que por ser pastores e pastoras seremos julgados por Deus com mais rigor do que os outros.

O profeta Jeremias nos diz que quando ouvirmos algo da Palavra de Deus questionar a nossa vida, não endureçamos o nosso coração e nem tratemos de encontrar desculpas para justificar a nossa conduta. Usemos esse questionamento que Deus nos faz, como uma oportunidade de arrependimento e de mudança. Se a Palavra de Deus nos questiona é porque Deus quer nos salvar. O castigo virá somente sobre aqueles que não se arrependerem. Somente as pessoas que não quiseram perdoar e pedir o perdão uma as outras e a Deus, é que entenderão a vinda de Deus para a terra como um tormento.
Hoje é o primeiro domingo de Advento. Iniciamos a primeira semana de Advento. Cantamos: Advento é tempo de preparação, de abrir caminhos para o Deus criança. É estar disposto a ajudar um irmão e a uma irmã encher de esperança. Advento é tempo de avaliação, de unir caminhos e acertar estradas. É tempo certo pra pedir perdão e perdoar seguindo de mãos dadas.

Advento é a oportunidade que Deus nos oferece para iniciar uma grande mudança em nossas vidas. O anúncio da chegada do Filho de Deus quer que nós nos preparemos. A vida de Deus não deve tomar ninguém de surpresa. A partir desse primeiro domingo de Advento, vários sinais anunciarão a chegada do Filho de Deus. Ele já está chegando.

No entanto, também para muitos de nós isso parece ser algo totalmente indiferente. Entramos na época de Advento sem ânimo para esperar algo novo.
Talvez porque sabemos que nenhuma mudança será possível se não começar conosco mesmos. Somos nós mesmos que devemos crescer no amor de uns para com os outros.

Por isso, advento não é um tempo de festa. Não se trata de “festejar” o advento. A cor litúrgica desse tempo não é o branco e nem o vermelho. Essas são as cores de festa. A cor litúrgica desse tempo de advento é a cor violeta. A cor violeta é usada no Advento e na Quaresma. Simboliza que é tempo de avaliação, de arrependimento e uma oportunidade em que Deus nos chama para dar um rumo mais solidário e com mais tolerância às nossas vidas. 

Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 33 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 50219
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Martim Lutero
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