Eis o momento de Luz. Voz que clama do deserto: Preparai o caminho do Senhor (Mt 3,3).
Sim, já Isaías a seu tempo proferia estas palavras (Is 40 1ss), e até aos dias de hoje, ouve-se este clamor.
Advento. O anúncio da boa nova, a preparação espiritual da cada cristão para o memorial natalino. Popularmente, ou comercialmente, esta atmosfera santa foi para planos secundários, e logo surgiram junto com todos os belos enfeites, as guirlandas, coroas, sininhos, e inclusive a árvore. Nos países nórdicos, a coroa de Advento é um símbolo significativo, pois quer lembrar a boa nova que se anuncia.
Esta palavra vem do latim “Adventus” e significa “notícia”, “anunciar”, mas também foi utilizada como “olhar para trás, para o passado” e de lá trazer as notícias...
A Coroa de Advento. Seu primeiro arranjo se deu no ano de 1833 quando o teólogo evangélico Johann Wichern (1808-1881), fundador da instituição diaconal “Das Rauhe-Haus”, em Hamburgo-Alemanha, utilizou uma montagem circular com velas para ilustrar suas meditações a partir do 1º. Advento naquela casa. Os anos se passaram e este símbolo se popularizou e após 1850 este arranjo ganha em seu adorno os ramos de cipreste, mas somente depois da 1ª. Guerra Mundial, o “movimento jovem” de então, compôs esta estrutura conhecida até hoje.
Não se trata de um elemento venerativo, mas de um símbolo importante que antecede o momento festivo da data magna. E' dos símbolos natalinos o mais significativo depois da árvore de Natal. Sua apresentação popularizou-se nas formas mais criativas: redonda; quadrada; linear; em palha seca; em ramos; com flores; e dispostas nas portas e janelas; vitrines comerciais e mesas. Simplesmente para alegrar e enfeitar. Mas seria apenas para enfeitar ou teria algo mais em seu significado? Ela é construída a partir de um aro de sustentação, um anel como uma aliança. Este aro faz recordar a união, a aliança de Deus com os homens. (Gn 9, 11-13) porei nas nuvens o meu arco; será por aliança entre mim e a terra. Lembra a aliança de Jesus na Santa Ceia: (Lc 22, 19-20) depois de cear, tomou o cálice dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue.... Sim, uma aliança de paz, comunhão e amor entre os homens. A este arco, unimos uma quantidade grande de ramos, através de um fio; um arame, forte o bastante para sustentar esta união; forte o bastante como nossa fé que nos une e mantém em Cristo, assim como Jeremias disse: (Jr 50, 5b) vinde unamo-nos ao Senhor, em aliança eterna que jamais será esquecida. Estes ramos são ciprestes, verdes e exuberantes e de aroma suave. O cipreste é citado na Bíblia, como exemplo revigorante: (Is 55,130) em lugar de espinheiro crescerá cipreste... e será para a glória do Senhor. Ou ainda, (Os 14,8) eu te ouvirei e cuidarei de ti; sou como o cipreste verde; de mim se acha o teu fruto, diz o Senhor. Cada ramo destes, por pequeno que seja, representa uma vida; a sua, a minha, a do pobre e a do rico. Mas, observe: colocamos também ramos de videira e galhos secos e, alguns enfeites. Cristo diz: (Jo 15, 1-10) eu sou a Videira, vós sois os ramos. Almejemos ser estes ramos de aroma suave, que produzem frutos de amor, de fé e comunhão. E os galhos secos nos lembram as palavras do Senhor: todo ramo que estando em mim não der frutos ele (o Pai) o corta; e todo aquele que der fruto, limpa, para que produza mais fruto ainda (Jo 15,2).
Depois de montada com os ramos, a envolvemos com uma fita vermelha. Esta fita simboliza o ato da aliança pelo sangue de Cristo, que nos enlaça a cada Ceia, na remissão dos nossos pecados. Que mesmo havendo aquele arame da união, nos mantém unidos e seguros.
Observe os pratinhos, que sustentam as velas. Tão insignificantes! Estes simbolizam o sustento da vida, assim como no Salmo 54, 4: eis que Deus é o meu ajudador, o Senhor é quem me sustenta a vida. É bom saber que nossas vidas têm Deus e Seu amado Filho como amparadores.
As velas geram luz e resplendor. Significam a Vida por excelência. Não faltam citações na Bíblia para esta simbologia: (Jo 1, 1-5) e a vida era a luz dos homens; (Mt 5,14) vós sois a luz do mundo. E somos constantemente lembrados e exortados: (Jo 12,36) Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da Luz. Viver na Luz, é entregar-se à vida como um sol que nasce e se põe, mas brilha sempre.
Os enfeites são pequenos símbolos que mostram o quanto somos amados por Deus que nos enriquece a vida com tantas coisas belas, com tanto carinho, com tanto amor. São as marcas das Belezas do Criador nas veredas pelas quais caminhamos.
A Boa Nova: Cristo veio, vem e virá. Pois é, não bastam tantos símbolos contidos em nossa coroa, que querem nos lembrar de tantas mensagens antecedendo ao Natal. Que querem lembrar o verdadeiro sentido desta vida que Deus nos concedeu.
Advento é momento de reflexão, de revisão, de busca do perdão. É momento de preparar-nos para o que haverá de vir em plenitude de glória. Voz que clama do deserto: Preparai o caminho do Senhor (Mt 3,3).
Nos quatro domingos que antecedem ao Natal...
No primeiro Advento, acendemos a primeira vela. (Mq 5, 2) E tu Belém, Efrata, pequena demais... de ti sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da Eternidade. A boa-nova profética da vinda do Messias.
No segundo Advento; no segundo domingo surge mais uma luz a brilhar: (Lc 1,19) O anjo traz as boas-novas de Zacarias, anunciando um filho que será o precursor de Cristo, a voz que vem do deserto... João Batista. Aquele que nos conclama à preparação, à acolhida.
No terceiro Advento. Ah! A terceira vela é acesa e anuncia antecipadamente: (Lc 2,10) eis aí vos trago boa-nova... é hoje que vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador. Polêmica antecipação? Ou remete-nos à anunciação de um fato já realizado? Cristo nos nasceu. Preparemo-nos ao memorial da Graça.
No quarto Advento. Sim esta é última vela, sem que seja a última luz... (Hb 4,2a) porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles.... Fato vivido, fato narrado. O testemunho de ontem através dos tempos até nossos dias. Deus se revela a nós através da história, a história de cada pessoa individualmente; de cada povo... de cada época.
E depois, vem o Natal... (só depois!).
Especulações sobre um fato real já vivido? Cristo veio, vem e virá. Estas boas-novas, hoje, significam não apenas ver belos enfeites, lindos presentes, antecipar ou abreviar fatos... Mas, enxergar a verdadeira mensagem de Deus. Estar atento ao significado de cada símbolo presente nesta época. Estar atento ao verdadeiro sentido da vida que Deus nos confiou, para sabermos administrá-la num permanente Advento no testemunho do viver em Cristo. Tenhamos portanto, em nossos corações esta Coroa da Aliança e da Boa-Nova, que junto com a Coroa do Calvário selam o verdadeiro sentido do Natal.
Walter Leonardo Berner
(Foto - Coroa de Advento 2001