ESTUDO BÍBLICO 7
Pastora Izani Bruch
Iglesia Evangélica Luterana en Chile
Tradução: Sabrina Senger
Olhando para o evangelho de Mateus 15. 21-28 em busca da inclusão em tempos de pandemia.
Convido-as a ler a história bíblica de uma mulher sem nome que encontramos nos evangelhos de Mateus e Marcos, neste tempo de pandemia, onde vemos na América Latina juntamente a crise sanitária o aumento da violência, racismo, discriminação e da fome.
1. Ler Mateus 15.21-28 e também o texto paralelo no evangelho de Marcos 7. 24-30
- Que diferenças podem ser observadas entre os dois relatos?
- Qual é o problema que aparece nos textos?
- Que sensação, sentimentos e imagens são produzidos pela história desta mulher neste tempo?
2. Olhar para o texto
- Nosso texto de estudo trata de um tema fundamental para as comunidades primitivas, a pergunta pelo lugar dos gentis ou pessoas pagãs no ministério de Jesus e na comunidade.
- Nos versículos 21 e 22 observamos uma mudança geográfica, Jesus se dirige com seus discípulos para a região de Tiro e Sidom, região pagã nas fronteiras norte e noroeste da Palestina (Fenícia).
- Enquanto Jesus ia até aquela região uma mulher que vinha desta região, sai, cruza a fronteira e se apresenta a Jesus clamando ajuda para sua filha. Mateus nos fala de uma mulher Cananéia e Marcos a chama de siro-fenícia.
- Outra diferença que podemos observar é que em Mateus a mulher se apresenta em um espaço público e em Marcos em uma casa.
- Em Mateus a mulher Cananéia (não judia) tem um comportamento que chama atenção, segue a Jesus e os discípulos com gritos: Senhor tem compaixão de mim. Logo expressa o motivo do clamor: Minha filha tem um demônio que a atormenta.
- Em Mateus aparece a intervenção dos discípulos que pedem que Jesus pare os gritos de clamor da mulher.
- Jesus em um primeiro momento não responde, permanece em silêncio. Logo relembra seus discípulos que foi enviado “unicamente às ovelhas perdidas de Israel”.
- A mulher insiste e Jesus abre um diálogo com ela onde “estabelece uma nítida distinção entre filhos e filhas e os cachorros (os judeus costumavam chamar de cachorros os gentis, por sua idolatria e pela corrupção de seus costumes)” (Comentário bíblico latino-americano, p.351).
- A atitude de Jesus com essa mulher é oposta à mostrada com pessoas pobres e aflitas. A mulher responde com coragem as duras palavras de Jesus, relembrando que até aos cachorros é permitido que comam as migalhas que caem da mesa dos filhos.
- A resposta da mulher provoca uma mudança de atitude de Jesus. E nosso texto termina com Jesus ressaltando a fé desta mulher que recebe Dele o milagre, a inclusão dela e de sua filha em sua missão, em sua obra salvadora.
3. Refletir
A história desta mulher siro-fenícia ou Cananéia, que atravessa fronteiras para clamar pela vida e libertação de sua filha é uma história que se repete em nossos países. A crise sanitária e social da pandemia do COVID-19 deixa em evidência os problemas de fronteiras que ainda não conseguimos atravessar: a igualdade e inclusão que nos interpela o evangelho.
Neste tempo as fronteiras de nossos países estão fechadas. Milhões de estrangeiros e estrangeiras clamam voltar a seu países, pois em nossos países parece já não haver lugares para eles e elas. Na verdade nunca houve, sempre foram pessoas forasteiras. Filas enormes nas diferentes embaixadas nos mostram a crua realidade da população migrante. A maioria são mulheres, mulher s que hoje são as primeiras a serem despedidas de seus trabalhos informais e miseráveis. Elas em um momento se atreveram cruzar as fronteiras, e estiveram dispostas a comer migalhas que caíam de nossas mesas para sobreviver e poder enviar recursos, o pão de seus filhos e filhas em seus países de origem. Hoje elas novamente devem atravessar as fronteiras de volta a seus países por causa da fome e da exclusão. Nosso texto mostra o relato de uma mulher que com fé, coragem e audácia cruza as fronteiras e desafia as convenções que excluem e discriminam.
A atitude de Jesus frente o clamor, resposta e fé da mulher foi transformada. Nossas atitudes para com “os e as de fora” também necessitam ser transformadas, também temos que fazer com Jesus este processo que permita acontecer o milagre da inclusão para que entre nós não exista nenhum tipo de exclusão e discriminação.
4. Para pensar e dialogar
- Quais fronteiras nós necessitamos atravessar como igrejas para viver a proposta inclusiva do Reino de Deus revelada em Jesus?
- Como podemos promover neste tempo de pandemia os valores de equidade, compaixão e inclusão?
- Que ações da mulher Cananéia ou siro-fenícia servem de exemplo para nos atrevermos a cruzar as fronteiras que negam a dignidade de todos e todas como filhas e filhos de Deus?