Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 825

Sábado, 21 de Dezembro de 2024

Porto Alegre / RS - 14:15

Sínodos

Quem permanece no amor, permanece em Deus

Deus torna-se definitivo para quem a Ele está vinculado. Deus é amor, diz o texto apostólico, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele (1Jo 4.16b). Assim, o amor é o fundamento da existência cristã. Entretanto, na palavra amor são penduradas as mais diferentes ideias, experiências e definições, por isso é saudável complementar o texto acima com outra palavra bíblica.

A parábola do Filho Pródigo (Lc 15.11-32) especifica que a prática do arrependimento e do perdão concretizam o amor. Nela temos, por um lado, o pai que persiste, que se recusa a abandonar o filho, mesmo que este lhe tenha ofendido. Ele não se deixa envolver pela amargura da ofensa, mas se nutre de um amor constante pelo filho amado. Por outro lado, o filho que, mesmo arrependido, não sabe como pedir perdão. Finalmente, é o amor que acolhe sem reservas, que outorga o perdão, que já tinha acontecido antes do encontro e do abraço. É por isso que nada há para cobrar ou censurar. Desta forma, pelo perdão e a reconciliação, foram criadas novas chances para dar continuidade a uma vida em paz.

O apóstolo Paulo escreve: Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação (2Co 5.18). A reconciliação, a mediação que busca pacificar, é apontada como uma das formas do amor. Esse impulso de unir duas partes em conflito surge do próprio Deus, que, em Cristo, busca reconciliar o ser humano nas suas mais diversas relações: com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com a Criação. Não é por acaso que uma das bem-aventuranças diga: Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos (Mt 5.9).

Outro texto que ajuda a entender a palavra amor é a parábola do rico e Lázaro (Lc 16. 20-31). Ela diz que o amor é muito mais que o fiel cumprimento do dever. O próprio Mestre Jesus apontava: Se vocês amam aqueles que os amam, que recompensa terão? Porque até os pecadores amam aqueles que os amam (Lc 6. 32). Na parábola, o rico possui uma vida que esgota toda a sua criatividade, devoção, fidelidade e compaixão no fiel cumprimento do dever, segundo as normas estabelecidas. Mesmo sendo uma pessoa rica, tem uma vida empobrecida, que se satisfaz com as conquistas obtidas pelo cumprimento da norma.

A história do homem rico e do mendigo Lázaro aponta para essa realidade. Este homem fez tudo segundo as normas da sua sociedade e nada além disso. Será exatamente essa atitude que condenará o resto da sua existência. O relato diz: você recebeu na sua vida todas as coisas boas, porém Lázaro só recebeu o que era mau (v. 25). Tendo tudo ao seu dispor, o homem rico fez o mínimo necessário para aliviar a vida do mendigo Lázaro. O fato é que a prática do amor vai além do simples cumprimento do dever. Amar implica doação daquilo que me pertence por direito – e isso envolve sacrifício e dedicação.

Mais uma palavra bíblica sobre o amor: no Salmo 146, vemos que o amor de Deus não é imparcial. Para o salmista, esse amor se concretiza em fazer justiça às pessoas exploradas, dar comida às famintas, libertar as aprisionadas, dar visão as que estão cegas, endireitar as curvadas, amar as justas, proteger as estrangeiras, encorajar as viúvas e as órfãs e fazer fracassar o plano das pessoas que planejam maldades. Trata-se de um texto sobre as pessoas marginalizadas deste mundo e que são ajudadas por Deus. O Salmo diz que a desgraça do mundo comove Deus, que não é indiferente, que se solidariza com as pessoas em situações de fragilidade e vulnerabilidade. Para o salmista, o amor tem a ver com a misericórdia e a compaixão que mobilizam para o serviço.

Em resumo, a Missão de Deus, da qual cada pessoa batizada faz parte, tem a ver com amar e amar, para a Comunidade Cristã, significa oportunizar o arrependimento e o perdão, promover a reconciliação, ir além do cumprimento do dever, servir, sob os impulsos da misericórdia e da compaixão, às pessoas em situação de vulnerabilidade.

Eis as balizas para a Missão: uma vida orientada para o amor!

P. Dr. Pedro Puentes | Secretário de Missão da IECLB 

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