A rua é o espaço de (não?) vida de muitas pessoas
Se a rua é para ser um caminho, permitindo a circulação de pessoas, ela também mostra ser mais que isso: a rua é o abrigo de muitas que não foram acolhidas em seus lares, na sua família.
O nosso olhar para as pessoas moradoras de rua costuma ser, na maioria das vezes, de menosprezo e de questionamentos ‘Por que a pessoa não sai dessa vida?’, ‘Por que não procura um emprego?’. Raramente, as perguntas são: ‘O que levou a pessoa a acreditar que a rua é o único espaço de acolhimento que lhe resta?’, ‘Quem é essa pessoa e o que ela sente?’, ‘Ela é capaz de amar?’.
Além disso, surgem os preconceitos e o desejo que o Governo resolva a situação. Afinal, esse pessoal da rua ‘emporcalha’ a cidade e nos ‘mete medo’. Talvez, o que mais mexa conosco seja o fato de ali estarem representadas a injustiça social e a falta de dignidade humana. Enfim, pessoas moradoras de rua nos afrontam, porque são o espelho da sociedade, do ser humano e do seu egoísmo. Vemos nelas o desprezo pela vida de um ser humano.
Quantas pessoas se preocupam com aquelas outras durante a noite? Será que há um espaço para descansar de modo que não apanhem de cassetete de Policiais? Será que se abrigam, de modo a não serem assassinadas (quantos casos no Brasil de violência e assassinatos de moradores de rua!)? É só observar para perceber que elas ficam em grupos e em espaços mais visíveis.
Já pensou que isso significa uma forma de se proteger? Se ficarem em locais mais afastados, essas pessoas têm mais riscos de sofrer com a violência que grande parte da população pensa que a ela pode ocorrer, afinal estão na rua. É como se a rua permitisse sobre essas pessoas toda a forma de violência, inclusive institucionalizada.
Aquilo que é inerente ao ser humano, viver em sociedade, ocorre com as pessoas moradoras de rua também, pois, na rua, formam grupos, partilham espaços, criam relações de afeto, cuidam umas das outras e celebram datas. São seres humanos que gostam de viver junto com outras pessoas e precisam disso. A lição que nos passam é que as pessoas necessitam de amor, vida em Comunidade e reconhecimento de outras pessoas, outros seres humanos.
Se nos propusermos a mudar a forma de olhar e agir em relação e a favor das pessoas moradoras de rua, os nossos julgamentos e preconceitos podem também mudar. Ao fazer isso, seguimos o que Cristo nos ensinou na passagem de Mateus 25.40 e 45: Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram (ou não fizeram) isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizeram (ou não o fizeram).
Foi com as pessoas mais necessitadas que Jesus Cristo se identificou... e quanto a nós?