Como interagimos com a diversidade regional?
Grotões e colônias: preconceitos em todos os seres humanos
É frequente ouvirmos que as pessoas que moram nos grotões ou nas colônias seriam umas ‘coitadas’, que teriam limitações culturais e que a língua que falam estaria errada. Infelizmente, houve uma colonização do nosso ser e saber e as pessoas terminaram reproduzindo esses pensamentos e tendo atitudes preconceituosas.
Na história contada pela classe dominante, o que se fez foi associar a língua à gramática normativa e também que o melhor lugar para se viver seria na cidade. Quando se tem o preconceito linguístico, o que termina ocorrendo é enfatizar os demais preconceitos, caso do regional, observado sobre as palavras grotões ou colônias. Grotões: lugar muito afastado das grandes cidades. Colônia: que habita uma colônia, que emigra para povoar e/ou explorar uma terra estranha.
Esse preconceito decorre, em grande parte, porque as pessoas que vivem nas cidades e as que possuem uma situação financeira mais favorável acreditam que aqueles que trazem no falar os sotaques ou os regionalismos comuns de áreas mais carentes e ou do interior seriam pessoas inferiores. É preciso entender que esses modos de falar representam os contatos entre línguas diferentes e a influência da língua materna sobre a que se aprendeu. É só pensar um pouco em como se deu a interação entre a Língua Alemã, trazida pelos nossos antepassados e a Língua Portuguesa. É fato que o Português falado por essas pessoas terá marcas do Alemão. Isso é linguisticamente explicado, mas não é motivo para pensar que essas pessoas seriam inferiores às outras.
Paulo Freire, renomado Educador brasileiro, valorizado internacionalmente, aponta que ‘Não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes’. Marcos Bagno, Linguista, diz que o preconceito linguístico decorre, principalmente, porque associamos a língua à condição social das pessoas e também aos locais onde vivem. É o que podemos relacionar com as palavras grotões e colônias.
É importante saber que a língua é muito mais que a Gramática e que, acima de tudo, a língua serve às pessoas que a falam, que serve àquela Comunidade. Além disso, não se pode imaginar que falar diferente seja motivo para se pensar que, por isso, as pessoas sejam inferiores. Outro aspecto é pensar que os conhecimentos e os saberes das pessoas que vivem nas cidades seriam melhores.
É preciso reconhecer que as pessoas são diferentes, que falam diferente, que têm saberes diferentes e que tudo isso não é motivo de preconceito. Pelo contrário, são formas de mostrar como o nosso país é multicultural, multilinguístico, com saberes e conhecimentos os mais diversos. Está na hora de rever esses conceitos e preconceitos. Como nós temos interagido com a diversidade regional e linguística dos nossos membros? Também reproduzimos esses preconceitos ou acolhemos todas as pessoas com os seus jeitos de falar e os seus saberes? Pensemos nisso!