Conseguimos praticar a nossa fé cristã?
Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus (Gl 3.28).
Em maio, participei de uma Ciranda Ecumênica. Foi um encontro de parte da diversidade religiosa brasileira. Havia pajé indígena, representantes da religiosidade de matriz africana, denominações cristãs, espíritas, entre outras. Nesse espaço de fraternidade espiritual, somaram-se vozes em um único objetivo: pedir a bênção de Deus às pessoas e ao Brasil.
A celebração iniciou-se com todos e todas de mãos dadas, dançando uma ciranda, em um embalo suave e cadenciado que lembrava o ritmo do coração e foi cantado assim: Vou construindo uma rede solidária/Que vive o sonho de uma vida melhor! / A rede cresce no sonho da liberdade / De unir nossas utopias, vidas, mãos e corações! / Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós, ela é de todos nós! / A utopia é que nos uniu, para viver e cantar o sonho em uma só voz. /Para esta ciranda, juntamos mãos com mãos / Unimos sonho e vida / Na força da ação. Envolvimento profundo!
Em seguida, quem quisesse, externava o seu desejo: foram feitos pedidos por paz, saúde, educação, respeito, solidariedade, valorização da agricultura familiar, não à intolerância religiosa, busca do diálogo fraterno, moradia e alimento no prato de todo mundo.
Ao se pronunciar, uma das participantes disse que carregava tudo aquilo que a sociedade julga preconceituosamente: é negra, mulher, a sua religião é de matriz africana, é filha de mãe solteira e, na sua certidão de nascimento, está escrito ‘pai desconhecido’. Ela traz muitas dores imputadas por aqueles e aquelas que ainda não conseguiram ver em cada pessoa um filho amado e uma filha amada por Deus.
Como se a pele, a religião e o gênero determinassem quem pode fazer parte da sociedade: as pessoas escolhidas! Escolhidas não por Deus, mas, sim, por uma soberba enorme daqueles que pensam que a cor da pele determina quem é melhor ou pior, por aqueles que acham que o homem é superior à mulher, por aqueles que não conseguem respeitar uma fé diferente da sua. Deus, em Jesus, escolheu justamente as pessoas excluídas: crianças, mulheres, estrangeiras, menosprezadas pela sociedade, empobrecidas. Quem estava à margem, Deus acolheu!
Quanto a nós... Quais são os nossos posicionamentos em relação às dores que essa mulher carrega e está em muitas pessoas bem perto de nós? Temos julgado com mão forte ou conseguimos praticar aquilo que é determinante na nossa fé cristã? Somos ou não somos pessoas cristãs: não existe meio termo! Não existe aceitar tal situação em determinado momento ou espaço, pois, para Deus, não há acepção de pessoas (Rm 2.11).
Profa. Dra. Ema Marta Dunck Cintra | Docente no Instituto Federal de Mato Grosso e Presidente do Concílio da Igreja