Na sociedade atual, seguir o Evangelho seria uma afronta!
Se observarmos o que correu com a humanidade a partir das últimas três décadas do século passado, percebe-se que houve uma mudança da subjetividade-identidade humana, pois o verdadeiro eu passou a ser o corpo. As casas e os espaços públicos ficaram e estão repletos de espelhos (antigamente, não era assim). Isso faz com que a pessoa se autoqualifique como alguém que tenha valor à proporção que satisfaça às carências ligadas ao corpo.
Ora, se o nosso corpo é a satisfação pessoal, a academia e os espaços em que posso ‘aprimorá-lo’ serão cultuados. Não é por acaso que temos tantas pessoas com sérios problemas de aceitação, porque não têm o corpo que a mídia propagou como sendo o ideal, o correto, o aceitável. Não é raro ouvir diálogos em que a pauta é sobre academia, suplementos alimentares, enfim... e isso tudo tem um custo financeiro.
Se se é corpo, na educação o que se preconiza é o treinamento, o adestramento. Assim, o, a Docente seria aquele, aquela que desenvolveria técnicas e habilidades (que melhor se adaptam à ideia do sujeito como corpo) em seus estudantes. Isso é bastante perceptível também no discurso empresarial e comercial, porque já não se fala mais em formação para o pessoal, mas, sim, que se fará um treinamento para o seu ‘corpo de colaboradores e colaboradoras’. As palavras não surgem no vazio. Elas estão carregadas dos sentidos que o contexto e a situação lhe condicionam.
A criança também será vista como um corpo que consome e a construção da sua identidade está dependente do ato de consumir. Não é de se admirar a quantia de propagandas em que elas são personagens. A sua formação integral como alguém que tem sentimentos, que tem vida além do consumo, que vive em um contexto social, que precisa se perceber como alguém a partir do que ela é não são importantes. Nessa perspectiva, imagine o que significa quando não tem como possuir aquilo que daria satisfação para seu corpo e pela qual a sua identidade seria construída perante a sociedade.
Diante de tudo isso, seguir o Evangelho seria uma afronta! Se sou o que consumo, se sou o corpo perfeito, como posso amar e ver aqueles e aquelas que não estão nesse conjunto estabelecido? Como olhar as pessoas desfavorecidas economicamente?
Ora, se elas não consomem, não fazem parte das que merecem o nosso apreço. Não raro, reproduzimos discursos, inclusive, de quais políticas públicas seriam para essa ou aquela determinada classe social, como se ‘as pessoas escolhidas’ tivessem mais direitos, e continuamos assim, enganando-nos sobre o que seria essencial nas nossas vidas, afrontando o Evangelho.