Jornal Evangélico Luterano

Ano 2021 | número 848

Sábado, 21 de Dezembro de 2024

Porto Alegre / RS - 13:46

Perspectiva - P. DR. Oneide Bobsin

Derruba dos seus tronos os poderosos e exalta os humildes (Lc 1.52)

Destacamos dos comentários de Martim Lutero sobre o Cântico de Maria (Lc 1.46-55), o Magnificat, alguns trechos que permitem uma leitura dos acontecimentos de hoje, especialmente no campo da Política. Não vamos nos deter em comentários extensos, porque consideramos os leitores e as leitoras pessoas sábias.

Jesus – Ao Sereníssimo e Ilustríssimo Príncipe e Senhor, Senhor João Frederico, Duque de Saxônia, Landgrave e Margrave de Meissen, meu Clemente Senhor e Patrono. Vosso submisso capelão D. Mart. Lutero.

Uma parábola - Um assaltante assalta um cidadão e tu te pões a caminho com um exército para castigar a injustiça e oneras o povo inteiro com impostos. Quem causou maior prejuízo: o assaltante ou o príncipe? Davi fez, muitas vezes, vistas grossas quando não podia castigar sem prejuízo para os outros. Assim deve proceder qualquer autoridade (p. 59).

Esta obra e as subsequentes são fáceis de entender a partir das duas anteriores. [Deus] destrói os sábios e os presunçosos em seus próprios desígnios e intentos, nos quais confiam e com os quais tratam arrogantemente os tementes a Deus, que têm que sofrer injustiça e cujos pensamentos e direitos têm que ser condenados, como ocorre, com maior frequência, pela Palavra de Deus.

Da mesma forma, destrói os poderosos e grandes e os destitui do seu poder e da autoridade em que confiam, exercendo a sua arrogância contra os inferiores e os humildes piedosos, que têm que sofrer da parte deles danos, dores, morte e toda a sorte de maldades. Assim como consola os que precisam sofrer injustiça e desonra em função do seu direito, da verdade e da Palavra, assim também consola aqueles que têm que sofrer danos, dores, morte e toda a sorte de maldades.

Isso tudo, porém, tem que ser reconhecido e aguardado na fé, pois não destrói os poderosos tão rapidamente como merecem. Deixa-os por algum tempo até que o seu poder chegue ao auge e ao extremo. Então, Deus não o sustenta. Ele também não consegue sustentar a si mesmo e assim se desvanece em si mesmo sem qualquer barulho e estardalhaço. Então, se erguem os oprimidos igualmente sem estardalhaço, pois o poder de Deus está neles. Este subsiste somente quando aquele desapareceu (p. 64-65).

Nesse caso, destacamos o reconhecimento que o poder de Deus está nos oprimidos. Note, porém, que [Maria] não diz que Ele irá destruir os tronos, mas que derruba deles os poderosos. Também não diz que deixa os humildes na humildade, mas que os exalta. (p. 85).

Nos assuntos divinos, ocorre que sábios e soberbos presunçosos normalmente se associam aos poderosos, instigando esses contra a verdade, como está escrito no Salmo 2.2: Os reis da terra se ergueram e os príncipes conspiraram contra Deus e seu Ungido... (p. 65). O direito e a verdade sempre têm que ter simultaneamente contra si os sábios, poderosos e ricos, ou seja, o mundo com a sua força máxima e suprema, por isso o Espírito Santo os consola pela boca dessa mãe, para que não se enganem nem se atemorizem... (p. 65). [...] Príncipe é ave rara no céu – Rico cá, pobre lá, referindo-se, em nota, ao texto de Lucas 16.19 ss.

Exaltou os que estão por baixo (Lc 1.52) - Quando digo ‘os que estão por baixo’ não significa simplesmente ‘os humildes’, mas penso em todos aqueles que nada valem perante o mundo e que são absolutamente nada. [...] Tudo isso foi dito para consolo dos sofredores e terror dos tiranos, se acaso tivéssemos suficiente fé para acreditá-lo (p.66).

O testemunho de Maria, uma pessoa simples, do povo, revela que Deus escolhe o corpo de uma mulher para trazer ao mundo todo um plano de salvação. Com isso, Deus não exclui nenhuma pessoa da sua obra salvífica, mas podemos, por vontade própria, nos colocar fora ou contra o plano de Deus. Como pai e avô, interfiro quando as crianças maiores agridem as menores e isso não significa que o cuidado com os mais fracos seja uma rejeição aos mais fortes.

De qualquer forma, vale o que Martim Lutero disse: Um príncipe justo é uma ave rara, aqui e no céu.

Obras Selecionadas, Volume 6

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