Jornal Evangélico Luterano

Ano 2021 | número 846

Sábado, 21 de Dezembro de 2024

Porto Alegre / RS - 13:35

Perspectiva - P. DR. Oneide Bobsin

2020, o ano que não terminará tão cedo...

Dai, pois, a Deus o que é de César e, o que é de César, a Deus. Conscientemente, fiz uma inversão dos termos de Mateus 22.21 para caracterizar o pensamento fundamentalista e religioso que grassa em nosso mundo e faz avanços no Brasil.

Para questionar a inversão dos termos da palavra de Jesus, transcrevo a seguir alguns parágrafos do Teólogo protestante Karl Barth (1886-1968). Os textos citados encontram-se na obra Dádiva e Louvor (2006). Teólogo suíço, Barth propõe ‘Comunidade Civil’ como sinônimo de Estado. Vejamos algumas teses da sua palestra proferida em Berlim, na Alemanha, em 1946.

Sob ‘Comunidade Cristã’, entendemos o que normalmente se entende por ‘Igreja’ e, sob ‘Comunidade Civil’, aquilo que normalmente se chama ‘Estado’. A utilização do termo ‘comunidade’ para caracterizar ambas as grandezas quer indicar a a relação e a ligação positiva existente entre as duas (p. 189).

A ‘Comunidade Cristã’ (Igreja) é a entidade a congregar aquelas pessoas de um lugar, de uma região, de um país, que estão especialmente convocadas dentre as demais como ‘cristãs’ e como tais reunidas pelo reconhecimento de Jesus Cristo e no intuito de professá-lo. A causa, o sentido e a finalidade dessa ‘reunião’ (ecclesia) é a vida em comum dessas pessoas em um Espírito Santo, isto é, na obediência àquela Palavra de Deus em Jesus Cristo, que todas elas já ouviram e que todas novamente desejam e precisam ouvir (p. 289).

Se olharmos da Comunidade Cristã para a sociedade civil, percebemos a diferença que ali os cristãos não mais estão entre si como tais, mas na companhia de não-cristãos (ou de cristãos duvidosos). A Comunidade Civil simplesmente abrange todas as pessoas da respectiva área. Concomitantemente, ela não tem uma consciência comum a todos sobre a sua relação com Deus. Esta, portanto, não pode constituir um elemento da ordem de direito nela instituída e válida. Em suas questões, não se pode apelar para a Palavra de Deus ou para o Espírito de Deus. A Comunidade Civil é espiritualmente cega e ignorante. Ela não tem fé, nem amor, nem esperança. Ela não tem confissão, nem mensagem. Nela não se ora e nela ninguém é irmão ou irmã do outro (p. 290).

Não existe, portanto, nenhum Estado cristão correspondente à Igreja Cristã, nenhuma réplica da Igreja na esfera política, pois, mesmo que o Estado seja efeito de disposição divina, mesmo que ele seja a forma em que se apresenta uma daquelas constantes da providência divina e da história do mundo por ela regida no Reino de Cristo, isto não implica que Deus se revele, seja crido e reconhecido em uma comunidade estatal em si (p. 296).

Aquilo de próprio com que ela entra nessa arena tampouco será direta e simplesmente o Reino de Deus. A Igreja chama à lembrança o Reino de Deus, mas isto não significa que ela espera do Estado que ele vá se transformando no Reino de Deus. [...] No Reino de Deus, não há Legislativo, nem Executivo, nem Judiciário. A Comunidade Civil em si, a Comunidade Civil neutra, pagã, ainda ou novamente ignorante, nada sabe do Reino de Deus (p. 301).

Na área da Política, a Comunidade Cristã se encontra como Comunidade Cristã e, portanto, a se empenhar e lutar pela justiça social. Na opção entre as diversas possibilidades socialistas (socialliberalismo, cooperativismo, sindicalismo, livre-monetarismo, marxismo moderado ou radical?), ela, em todos os casos, fará aquela escolha da qual julga poder esperar o máximo de justiça social, relegando para o segundo plano todos os demais critérios.

Barth era membro da Igreja Confessante, que protestou contra o governo nazista, não por ser governo, mas por ser governo que ocupa o lugar de Cristo na fé. Vejam um trecho da Declaração Teológica de Barmen:

A Escritura nos diz que, segundo disposição divina, o Estado tem a incumbência de cuidar da justiça e da paz dentro do mundo ainda não redimido, no qual também se encontra a Igreja, segundo o critério do discernimento humano e da capacidade humana, mediante ameaça e uso da força. Com gratidão e reverência perante Deus, a Igreja reconhece a bênção dessa sua disposição. Ela chama à lembrança o Reino de Deus, o mandamento e a justiça de Deus e, concomitantemente, a responsabilidade dos governantes e governados. Ela confia na e obedece à força da Palavra, mediante a qual Deus sustenta todas as coisas.

Continuo com o meu lema de Pastor e Professor de Ciências da Religião: Deus não é religioso. Graças a Deus! 

Ultima edição

Edição impressa para folhear no computador


Baixar em PDF

Baixar em PDF


VEJA TODAS AS EDIÇÕES


Gestão Administrativa

Ser Igreja de Jesus Cristo em contexto de pandemia

Em perspectiva de balanço do ano que passou, compartilhamos, de forma adaptada e atualizada, partes da Carta Pastoral da Presidência, de Pastoras e Pastores Sinodais, publicada em agosto de 2020. A partir de março de 2020, passamos a conviver com a pandemia do Covid-19, (+)



Educação Cristã Contínua

Igreja que valoriza o Sacerdócio Geral (parte 3/3)

Desafios Com base nas atividades que estão sendo realizadas e considerando o cenário atual, a Coordenação de Educação Cristã (CEC) vislumbra os seguintes desafios para a efetivação da Meta Missionária 1 (Áreas de prioridade (+)

AÇÃO CONJUNTA
+
tema
vai_vem
pami
fe pecc
A fé exalta a pessoa e transporta-a para junto de Deus, de tal modo que Deus e o coração humano tornam-se uma só realidade.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br