Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 830

Sábado, 21 de Dezembro de 2024

Porto Alegre / RS - 13:48

Fé Luterana

Da terra, brota a verdade!

Vivemos tempos de profundas transformações. Elas ocorrem de forma rápida e em todas as dimensões, relativizando valores como verdade e justiça. O resultado é uma sociedade em crise de identidade, de sentido, de valores, de esperança, que acredita no errado, duvida do certo, abandona o verdadeiro e valoriza o falso. Isso gera desconfiança, desorientação e má informação.

Aquelas pessoas que pensam diferente são vistas como inimigas a serem combatidas, gerando uma situação de insegurança e violência. Há dificuldade no diálogo, na convivência harmoniosa, no respeito pela integridade da outra pessoa.

Constroem-se muros, cercas, armas. O que vale é a própria ideia de verdade e de justiça, como se elas fossem uma produção de cada pessoa, individualmente. Diante desse cenário, somos facilmente tentados e tentadas a agir da mesma forma, perdendo o espírito comunitário, o senso crítico e a solidariedade.

As nossas formas de pensar, falar e agir refletem exatamente o que normalmente alimentamos em nossa mente por meio do que vemos, lemos, ouvimos e fazemos. Nunca havíamos tido acesso a tanta informação, mas carecemos de orientação e de critérios.

A sociedade está em crise: acredita no errado, duvida do certo, abandona o verdadeiro e valoriza o falso.

Antes de falar ou fazer qualquer coisa, um bom exercício é você sempre se perguntar: isso que vou falar ou fazer ajuda a dignificar o próximo? Isso que vou falar ou fazer promove a vida? Isso que vou falar ou fazer contribui para o louvor a Deus?

Mais que boas intenções, a sociedade está carente de boas ações. O crescimento da Igreja Cristã primitiva foi marcado por três ações que são desafios atuais: hospitalidade - abertura para acolher o outro, o diferente; presença no sofrimento - colocar-se ao lado dos que sofrem e assumir a sua causa/luta em uma atitude de denúncia de injustiças; anúncio do Cristo vivo e ressurreto - esperança que nos move para uma espiritualidade comprometida com os valores do Reino de Deus.

O nosso desafio também é trabalhar para promover o diálogo e a abertura ao outro, destruindo muros, cercas e armas e construindo pontes entre as pessoas. Construir pontes entre as pessoas significa promover a paz, que, consequentemente virá acompanhada da justiça, da verdade e do amor, que tem como fonte Jesus Cristo.

Promover a paz é o jeito mais bonito de viver bem consigo mesmo, com Deus e com o próximo. Uma espiritualidade comprometida com esses valores qualifica a nossa vida e contribui de forma positiva para uma sociedade mais fraterna e que prima pela equidade em todas as dimensões.

Jesus Cristo nos chama a viver em Comunidade! Comunidade é e deve ser lugar de pessoas que acolhem a diversidade, que são solidárias nas dores e que anunciam o Cristo ressuscitado, promovendo a paz e o respeito entre todas as pessoas.

Para refletir, leia o Salmo 85.8-13

P. Sidney Retz | Pastor Vice-Sinodal do SESB e Ministro na Paróquia de São Sebastião, em Santa Maria de Jetibá/ES

 

A verdade na diversidade

Ensina-me a viver de acordo com a tua verdade, pois tu és o meu Deus, o meu Salvador. Eu sempre confio em ti (Sl 25.5).

A palavra bíblica do Salmo 25.5 tem me acompanhado há muito tempo, pois ela está registrada na minha Certidão de Confirmação e o seu texto está vivo em minha lembrança. Ela é uma oração, com o pedido para que Deus me ensine a viver de acordo com a sua verdade e a prontidão para viver de acordo ela, mas, inúmeras vezes, já me perguntei sobre o que é a verdade. Existe uma verdade absoluta? Como a verdade é compreendida por diferentes pessoas, culturas, tradições ou ideologias? 

Para o grande Filósofo Platão, que viveu há mais de 300 anos antes de Cristo, existia uma única verdade absoluta. Segundo Platão, essa verdade absoluta consistia na existência de um Mundo de Ideias e, nesse mundo, existia o Bem Supremo, cujo conhecimento completo dele é inatingível para os seres humanos que vivem no mundo físico. Para nós, pessoas cristãs, Deus é a verdade absoluta, que não muda, verdade essa revelada em Jesus Cristo, que declarou: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6).

A verdade divina se revela ao mundo por meio da diversidade de experiências de vida na Criação de Deus.

Assim como no pensamento de Platão, o conhecimento perfeito do Bem Supremo é inatingível aos seres humanos. Também para as pessoas cristãs, mesmo que pela fé, é impossível o pleno conhecimento de Deus. O Evangelho de João afirma: Ninguém nunca viu Deus. Somente o Filho único, que é Deus e está ao lado do Pai, foi quem nos mostrou quem é Deus (Jo 1.18).

A verdade divina, porém, se revela ao mundo por meio da diversidade de experiências de vida na Criação de Deus, ou seja, é dentro de diversos contextos, vivências, experiências, culturas ou realidades que essa verdade suprema se incultura, transformando-se em verdades que indicam sempre para o centro da fé, a verdade absoluta. A diversidade de pensamentos, compreensões da vida, culturas, relacionamentos, gêneros, corpos, etc. também faz parte da maravilhosa revelação da graça de Deus.

A revelação da verdade para dentro da diversidade traduz-se em experiências distintas, indicando para a liberdade para a qual Deus nos libertou em Jesus Cristo (Jo 8.32), diversidade que também é possível ser experimentada na Igreja, como indica a Carta Pastoral da IECLB de julho de 2019: ‘Na IECLB, há lugar para todas as pessoas e para diferentes formas de pensar. As pessoas têm direito de defender as suas compreensões sobre a vida e o papel da Igreja, desde que alicerçadas na ética e no Evangelho de Jesus Cristo, o Senhor da Igreja’.

Como ninguém conhece a Deus em sua plenitude, também não há ninguém que possa afirmar conhecer toda a verdade. Antes, como diz a Jornalista Miriam Leitão, ‘deveríamos estar vivendo a liberdade das diferenças, a música das dissonâncias, a beleza dos semitons. O melhor seria apreciar a sinfonia da vida, aquela que jamais será composta por uma nota só’.

Para refletir, leia João 8.32

P. Fábio Bernardo Rucks | Pastor Vice-Sinodal do Sínodo Noroeste Riograndense e Ministro na Paróquia em Giruá/RS 

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