Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 829

Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024

Porto Alegre / RS - 08:45

Fé Luterana

Perdão sem limites, como assim?

Você já parou para pensar quantas vezes Deus já lhe perdoou? Talvez essa pergunta nem seja tão corriqueira, porém, se quisermos acolher a mensagem do Apóstolo Paulo (1Co 11.1) de sermos imitadores e imitadoras de Cristo, precisaremos refletir sobre o perdão sem limites de Deus e a sua incansável oferta de reconciliação, ofertada a mim e a você, para, então, imitarmos tal perdão em nossas vidas.

Na qualidade de filhos queridos e filhas queridas de Deus (Ef 5.11), cabe-nos fazer a vontade do Pai e amar e perdoar, indistintamente, pelo fato de todas as pessoas serem também imagem e semelhança do Criador, afinal é assim que Ele procede conosco.

A alegria de se sentir perdoado, perdoada, reconciliado e reconciliada com Deus a cada vez que erramos, reconhecemos o erro e pedimos pelo seu perdão é tão grande que transborda a paz em nossas vidas. Se a paz transborda, por que não estender à vida das pessoas à nossa volta? Essa proposta já foi feita pelo próprio Jesus, quando nos ensinou a oração do Pai Nosso: perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam (Mt 6.12), ou seja, o perdão e a reconciliação ofertados por Deus só se completam quando assim os exercitamos em nossas relações, entre iguais.

Lutero, ao falar sobre o quinto pedido do Pai Nosso, reforça o elo entre o perdão dado por Deus e o perdão exercitado em nossas relações e diz: ‘Jesus Cristo prometeu que tudo nos está perdoado, todavia sob a condição que também perdoemos ao nosso próximo, pois, assim como diariamente cometemos muitas faltas contra Deus e Ele, não obstante, tudo perdoa por graça, assim também nós continuamente devemos perdoar ao nosso próximo que nos aflija dano, violência e injustiça ou proceda com maligna astúcia contra nós’ (Obras Selecionadas 7, p. 414).

Você lembra quando foi a última vez que perdoou alguém? Também lembra da última vez que recebeu perdão de alguém?

Você lembra quando foi a última vez que perdoou alguém? Quando foi a última vez que você foi perdoado, perdoada? A sociedade em que vivemos é carente de atitudes de amor, como o perdão. A paz que o perdão pode dar não é a paz que o mundo dá, não. Essa paz que vem do exercício do perdão (perdoar e ser perdoado, perdoada), uma paz diferente daquela que o mundo dá (Jo 14.27), pois tem como fundamento a paz recebida (e compartilhada) de Jesus Cristo, que não é outra senão perdão e reconciliação.

O exercício do perdão talvez não seja tão simples quanto pareça. De fato, não o é. Por outro lado, a vida sem o perdão talvez seja mais difícil ainda. Viver afastado de pessoas especiais por falta de perdão certamente faz o coração doer, por isso sugiro que pensemos na pergunta inicial desse texto, sobre quantas vezes Deus já lhe perdoou, e, conforme for a resposta, assim também a reproduza em seu cotidiano.

Não julguem os outros e Deus não julgará vocês. Não condenem os outros e Deus não condenará vocês. Perdoem os outros e Deus perdoará vocês (Lc 6.37).

Para refletir, leia João 14.27

P. Jonas Zenkner Beier | Pastor Vice-Sinodal do Sínodo Brasil Central e Ministro na Comunidade em Uberlândia/MG

 

Por que perdoar?

Não há dúvidas quanto aos benefícios do perdão. Em artigo na Revista Galileu (novembro/2014), o autor afirma que ‘Perdoar alivia estresse, reduz a pressão arterial e fortalece o sistema imunológico: todo mundo ganha ao fazer as pazes’. O artigo destaca que perdoar pode fazer você viver mais, reduz sentimentos e patologias que trazem prejuízos à saúde, como tensão, depressão ou raiva. Acrescenta ainda que perdoar protege a pessoas do estresse no longo prazo. É muito bom saber tudo isso, não é mesmo?

A partir dessas descobertas da Medicina, podemos afirmar que todas as pessoas são beneficiadas quando perdoam. Certamente, mesmo quem não segue os princípios de Jesus poderia encontrar aí razões suficientes para perdoar.

Como pessoas cristãs, contudo, precisamos ir além dessa percepção médica. As nossas razões para perdoar não estão calcadas somente nos benefícios à saúde física e emocional que o perdão favorece, mesmo que isso seja também importante.

No perdão, existe uma manifestação do agir de Deus muito mais preciosa que a paz que podemos experimentar ou  promover na vida da outra pessoa. Aqui, precisamos resgatar a história da humanidade registrada na Bíblia. Sabemos que o ser humano, na sua rebelião diante de Deus, conforme lemos no livro de Gênesis, decidiu caminhar com as suas próprias pernas, agir por conta própria, desconectando-se do Criador. Esse pecado nos afasta de Deus, nos afasta das pessoas e produz dor, sofrimento, mágoa, raiva e tantas outras mazelas.

Perdoamos não apenas pela nossa paz ou pela paz da outra pessoa, mas, acima de tudo, porque fomos perdoados e perdoadas.

Em Mateus 18.23-35, Jesus nos deixa uma parábola sobre alguém que devia muito dinheiro ao seu senhor. Era uma soma impagável. No entanto, o senhor lhe perdoou essa dívida. Contudo, esse homem não perdoou uma dívida muito menor de um conhecido seu. Quando soube do acontecido, o senhor ficou muito zangado, porque aquele homem havia recebido perdão, mas não quis oferecer perdão.

O nosso pecado diante de Deus é muito maior que o pecado ou as ofensas que pessoas podem cometer contra nós. Mesmo assim, em Cristo Jesus, Deus nos perdoa plenamente (1Jo 1.9). Foi o sacrifício de Cristo na cruz do calvário que nos proporcionou esse perdão, que nos concede saúde e paz, mas, acima de tudo, restaura a nossa relação com Deus. Esse perdão de Deus não apenas pode nos fazer viver mais, mas nos concede a vida eterna.

Sendo assim, compreendemos que a nossa relação com Deus é restaurada por meio do perdão. Comunidade Cristã é Comunidade de pessoas perdoadas. Pessoas que experimentaram esse perdão são pessoas dispostas a perdoar. Paulo afirma que Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós (Cl 3.13b), por isso perdoamos não apenas pela nossa paz ou pela paz da outra pessoa, mas, acima de tudo, porque fomos perdoados e perdoadas.

Para refletir, leia 1João 1.9

P. Valdecir Patzlaff | Pastor Vice-Sinodal do Sínodo Centro-Sul Catarinense e Ministro na Paróquia de Ituporanga/S

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