Preparação para o novo (Partilha, justiça, amor e transformação)
Dezembro nos lembra que Advento e fim de ano andam juntos e ambos se apresentam como tempo de preparação ao novo: Natal e Ano Novo. Seria o Lema desse Mês uma proposta sobre como nos prepararmos para o Natal? Seria um desafio de estilo de vida para o novo ano que se aproxima? Seria um convite sobre a forma de nos prepararmos para a segunda e derradeira vinda de Cristo (assunto também refletido neste período do ano)? As perguntas fazem pensar.
Esse mesmo texto é também sugerido como leitura da Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma, outro período de espera e preparação ao novo: a Páscoa. Então, é sempre nesse contexto de jejum e preparação para o novo que o nosso texto se faz presente. Interessante!
Tendo esse pano de fundo, convidamos a nos aprofundar nas entrelinhas deste texto, a partir de suas quatro Ordens de Misericórdia:
1) Repartam a comida com os famintos - A Torá (que são os cinco primeiros livros da Bíblia) não aborda diretamente a questão do jejum por simples jejum. Ela fala sobre o ‘Dia da Expiação’, Yom Kippur, que era um dia para ‘curvar a vida’, fazer penitência e arrepender-se dos pecados, pedir perdão por eles e, então, jejuar (Lv 16.29,31; 23.14,27,32; Nm 29.7). Se alguém quisesse curvar a sua vida/jejuar (vs.3,5), que o fizesse em direção aos que sofrem e não apenas em benefício próprio. De nada adiantaria jejuar sem partilhar a comida com quem tem fome, rasgar as vestes sem reparti-las com quem não as têm ou, ainda, pedir perdão sem ofertá-lo adiante. O jejum que agrada a Deus será aquele que promove partilha, justiça, amor e transformação.
2) Recebam em casa os pobres desabrigados - Por que faltam casa e terra a alguém se a terra é de Deus, Pai de todos nós, que não quer ver nenhum dos seus filhos e das suas filhas desabrigados? Muitas pessoas se encontram nessas condições por diversas desventuras da vida, pela má distribuição entre semelhantes, pela ganância de pessoas que esqueceram a vontade do Criador. O povo de Deus soube na própria pele o que é ficar sem terra, casa, pátria e ser escravizado. Mesmo assim, às vezes, era necessário que o profeta os relembrasse da tarefa do acolhimento.
3) Deem roupas aos que não têm - Aqui se trata de socorro, vestimenta e proteção. Quando um pobre, uma viúva, um órfão ou um estrangeiro se endividava, o último objeto de penhora era o seu manto. A lei ordenava que o manto penhorado lhe fosse devolvido antes do pôr do sol, para protegê-lo do frio (Ex 22.25-26). A crítica vai a quem não enxergava as pessoas desprotegidas e despidas à sua volta. O jejum que agrada a Deus faz olhar adiante e ver a realidade.
4) Nunca deixem de socorrer os seus parentes - A tradução mais adequada para a palavra ‘parentes’, seria ‘sua carne’. Carne pode significar o ser humano ou o povo em geral (Is 40.5; 49.26; 66.16). Todos os seres humanos, mesmo com as suas diferenças, são feitos da mesma matéria. No jejum que agrada a Deus, toda pessoa em necessidade deve ser reconhecida como um ‘parente’ da mesma matéria, feito pelas mãos do mesmo Criador.
Por não praticarem mais o que foi resumido nos quatro pontos acima, tal jejum apenas buscava compensar a prática da partilha que não mais acontecia, do amor que não mais ocorria, da justiça que fora esquecida e da misericórdia que não mais existia. Esse jejum até podia impressionar algumas pessoas, mas não agradava a Deus.
Daí vem o Lema do Mês nos dizer: O jejum que me agrada é que vocês... É assim que somos chamados e chamadas a nos preparar ao novo que está por vir, no Advento, no novo ano, na Quaresma e na vida.
Para encerrar a reflexão, quero dizer que o povo ao qual o profeta fala tinha voltado do exílio e estava recomeçando como povo, nação, Comunidade, Igreja. Será, então, que Isaías quer nos orientar sobre como também nós podemos recomeçar agora?
Colaborou a Teól. Dra. Stéfani Niewöhner
P. Me. Fernando José Matias* | Ministro na Paróquia Barranco, em São Lourenço do Sul/RS