O culto na missão da Igreja
Em obediência ao mandamento do Senhor, a IECLB assume como sua missão: propagar o Evangelho de Jesus Cristo; estimular a vivência evangélica pessoal, familiar e comunitária; promover a paz, a justiça e o amor na sociedade; participar do testemunho do Evangelho no País e no mundo (Constituição da IECLB).
De que maneira esta missão se relaciona com o culto da Comunidade?
Por intermédio do Evangelho de Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo, Deus se aproxima e chama as pessoas à vida e à salvação, transformando-as, por meio do Batismo, em Comunidade. Diante desse Deus, que chama e congrega, a Comunidade se apresenta para o culto, aceitando a sua vocação de ‘povo eleito’, ‘corpo de Cristo’ que vive sob a Palavra e a orientação do Evangelho.
A reunião da Comunidade em culto é obra do Espírito Santo, como aprendemos de Lutero na explicação do 3º Artigo: O Espírito Santo cria, chama e congrega a Igreja cristã. Ao reunir as pessoas, ao formar Comunidade, o Espírito Santo coloca a Igreja no caminho da contracultura, especialmente porque vivemos em um contexto de cultura pós-moderna caracterizada não pela reunião, não pela congregação, não pelo comunitário, mas pela fragmentação e pela individualização.
Esse sistema de fragmentação, ao mesmo tempo em que leva as pessoas a se acomodarem no seu próprio mundo, em busca da satisfação dos próprios desejos, gera inquietação, medo, angústia, fragilidade, insegurança, depressão, relações superficiais e sentimento de não pertencimento.
Nesta situação, a Igreja é chamada a assumir a sua missão de propagar o Evangelho de Jesus Cristo, estimulando a vivência evangélica pessoal, familiar e comunitária, promovendo a paz, a justiça e o amor na sociedade e participando do testemunho do Evangelho no País e no mundo.
Sendo o culto um espaço de resistência ao que impera no mundo, onde cada qual vive, como indivíduo, em busca daquilo que lhe interessa, a missão da Igreja, por incumbência de Deus, é zelar pelo culto, evento a partir do qual se edifi ca Comunidade, o corpo comunitário.
Como pessoas batizadas que formam a Igreja, somos vigias de Deus, seus sacerdotes e suas sacerdotisas, que cuidam para que a visão de corpo, que é a marca registrada da Igreja de Cristo (cf 1Co 12), seja fortalecida no culto.
A função da liturgia no culto
A liturgia do culto, herdada desde o nascimento da Igreja cristã, possui uma admirável estrutura que ajuda a Igreja a preservar aquilo que é central para a sua vida e missão. Para manter os princípios do culto evangélico, a estrutura litúrgica se baseia na pregação da Palavra e na administração dos Sacramentos, meios da graça divina. Além disso, ela preserva aqueles elementos que ajudam a Comunidade a responder à ação de Deus e a apresentar os seus anseios, como, por exemplo:
O badalar dos sinos, no início do culto, é um sinal do chamado de Deus para que as pessoas se congreguem, saiam de si mesmas, superem a fragmentação, o isolamento e busquem a comunhão.
A acolhida inicial é um abraço de Deus, que aceita as pessoas sem impor condições.
A confissão de pecados como parte do culto cristão tem grande valor no contexto de mundo fragmentado a que já nos referimos. Ainda que crentes, somos parte do mundo caído, mas, como pessoas batizadas, damos um testemunho de fé, quando reconhecemos que o afogar e o ressurgir do velho ser humano é um processo diário, é vivência do nosso Batismo, é busca por uma convivência solidária.
Na sua Palavra, seja na forma da pregação, seja na comunhão de mesa da Ceia do Senhor, Deus mostra-nos todo o seu amor, oferecendo, na graça, vida e salvação para todas as pessoas, contrariando, desta forma, as relações humanas baseadas na meritocracia.
Nas orações de graças e intercessão, lembramos não só das nossas próprias necessidades, mas oramos pelo mundo, intercedemos pelas autoridades civis e religiosas e incluímos as necessidades de quem sofre, de longe e de perto. Pela oração, unimos forças em um mundo dividido e de exclusão.
A Bênção, na despedida, é o grande sinal de que não vivemos no dia a dia, a sós, na fragmentaridade. Com ela, Deus diz que nos acompanha e nos enche de poder e força para enfrentar a vida diária. O Envio, no final do culto, é dirigido à Comunidade. Saímos do culto como Comunidade comprometida com o testemunho da missão de Deus no mundo: vão e sirvam!
Livros litúrgicos: instrumentos de missão
A Igreja cristã tem na liturgia não só as marcas da sua identidade, como também possui nela um rico instrumento de unidade. Nenhuma Igreja cristã forja a sua liturgia. Liturgia é herança e confessionalidade, mas as suas raízes são bíblicas, a sua centralidade vem do Evangelho e os seus sinais são promessa e mandatos do Senhor da Igreja: Ide,... batizai,... ensinai... (Mt 28.18s); ...Isto é o meu corpo ...; fazei isto em memória de mim ...(1Co11.24); ...porque onde dois ou três estiverem reunidos..., ali estou... (Mt 18.20).
Nenhuma Igreja cristã forja a sua liturgia |
Pessoas unidas pela mesma fé sabem expressar, em conjunto, a adoração e o louvor a Deus, sabem orar em conjunto, cantar em conjunto, fazer gestos articulados em conjunto e fazem uso dos símbolos que representam essa mesma fé. Conhecer bem a liturgia da Igreja e saber usá-la com responsabilidade e conhecimento teológico são sinais do compromisso eclesial que visa à unidade e à paixão pela Missão de Deus.
Como compromisso com esta tarefa missionária, a IECLB se empenha pela formação litúrgica. Esta é importante não só nos Centros de Formação Teológica como também em nível comunitário. Neste contexto, livros e manuais litúrgicos são instrumentos imprescindíveis para a edificação comunitária e eclesial.
Em atendimento a este compromisso, a IECLB tem dedicado atenção ao suprimento de materiais litúrgicos. Desde a década de 1980, o assunto é trabalhado pela Comissão de Liturgia (COLI), criada em 1982, chegando às pautas dos Concílios. Como resultado, chegamos às seguintes publicações: Livro de Culto (2003), Lecionário comum Revisado (2007), Livro de Batismo (2008), Manual de Bênção Matrimonial (2009), Manual para o Funeral Cristão (2010), Manual de Ordenação e Instalação (2011) Manual de Dedicação (2011).
Ao lado dos hinários e dos catecismos e tendo como centralidade a Bíblia como livro da fé, os livros litúrgicos são ferramentas da Igreja na vivência e no testemunho da sua missão.
Cat. Dra. Erli Mansk, graduada em Teologia, com ênfase no Pastorado e em Educação Cristã, com Mestrado Profissionalizante em Liturgia e Doutorado em Teologia Prática (A ritualização das passagens da vida: desafi os para a prática litúrgica da Igreja), todos pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, é Coordenadora de Liturgia da IECLB