Natal sem medo
Uma mulher branca e bem-arrumada faz a limpeza da cozinha. Um homem branco cuida do jardim da casa. Um homem com terno e gravata caminha na rua. Perguntados por uma equipe de entrevistadores sobre quem são estas pessoas. As respostas foram claras: ‘A mulher é a dona da casa’, ‘O homem é o dono da casa’ e ‘A pessoa com terno e gravata é um empresário’. Com as mesmas roupas e nas mesmas situações, pessoas negras são colocadas no lugar daquelas brancas. Vejam o resultado: ‘A mulher negra é uma doméstica’, ‘O homem negro que cuida do jardim é um empregado’ e ‘O homem negro com terno é uma vigilante de um shopping’.
Esta pesquisa, feita por um órgão do Governo do Paraná, não deixa dúvida que o racismo está encravado nas nossas vidas. Em outra oportunidade, um canal de televisão simulou um homem pobre e negro desmaiado na rua. As pessoas passavam ao largo, assim como o fizeram o levita e o sacerdote diante do homem assaltado. O mesmo ator, mas barbeado e com terno e gravata, simula um desmaio na rua. Logo é atendido.
Somente estes dados já justificam o Dia da Consciência Negra, data celebrada no Brasil no dia 20 de novembro e incluída na Semana da Consciência Negra, quando escrevo este artigo já em ‘clima’ antecipado de Natal em lojas das nossas cidades.
A vinda do Messias coloca por terra o preconceito |
Esses casos revelam uma sociedade de maioria que se diz cristã e faz Ceia de Natal, mas marcada pelo medo de quem é diferente, pelo preconceito racial. Cabe sempre se perguntar: Como é possível festejar o Natal com medo do outro, especialmente do pobre, do migrante, do estranho? Quem deve ter medo de quem? Será que o outro que não cabe em nosso mundo também não está com medo da gente?
Entre os antepassados de Jesus, estão pessoas que, hoje, seriam criticadas e não fariam parte da nossa Ceia. Mateus abre o Evangelho falando sobre os antecedentes de Jesus. Tem gente importante, como Abraão, Davi e Salomão, mas há mulheres suspeitas por suas condutas e por serem estrangeiras, como Tamar, Raabe e Batseba. Por fim, José, um carpinteiro, e Maria, uma jovem sem referência social. Excluindo Abraão e os reis, as demais pessoas da genealogia de Jesus poderiam tomar o lugar daquelas pessoas negras do início da história.
A genealogia de Jesus (Mateus 1.1-17) prenuncia a vinda do Messias, que torna o convívio sem medo entre as pessoas diferentes e coloca por terra o preconceito.