A maior festa popular com raízes religiosas provavelmente não é o carnaval mas sim, o São João. Aqui em São Paulo chamamos de festa junina que acontece mais nas escolas, clubes e comunidades.
As comemorações são onipresentes ao longo do mês de junho. Em outras partes do Brasil, principalmente no Nordeste, é uma grande festa popular tanto com grandes eventos como em cada família.
De longe supera em importância a festa de Natal que só ganhou mais visibilidade a partir do apelo ao consumismo pelas propagandas.
Historicamente o São João ocupa o espaço que nos países europeus é da festa do nascimento de Jesus.
Pode ser observado um efeito prático: As pessoas simples procuram fazer alguma roupa nova duas vezes por ano: No Natal e no São João. Quando a situação não permite desistem da roupa do Natal primeiro e por último da do São João.
O que tem por detrás desta inversão no calendário litúrgico? O São João adquire ares de Natal e o Natal fica meio esquecido. Podemos somente adivinhar o que provocou esta troca.
Quando o Brasil foi colonizado muitas coisas foram introduzidas a força. A terra ficou na mão de poucos que deixaram os muitos com muito pouco. O que existia aqui era desprezado, somente o que vinha de fora tinha valor.
Assim também fez a igreja: Entre outras coisas introduziu o calendário litúrgico europeu com toda sua simbologia ligada ao ciclo da natureza sem observar os efeitos que isto iria provocar num país do hemisfério sul.
A páscoa cujo lugar estava na primavera do renascimento da vida ficou no outono que simboliza o fim, a decadência da coisas. E a festa do Nascimento de Jesus saiu do momento mais escuro do ano quando a luz começa a aumentar, para o momento mais claro no verão com a luz diminuindo.
Pode se levantar a hipótese que o povo sentiu a necessidade de uma festa religiosa forte nos dias escuros e lá deu de cara com São João.
E em torno deste santo um tanto esquisito desenvolveu-se uma espécie de Natal brasileiro. E pode muito bem ser que o personagem do João Batista combinava com o sentimento de vida do povo. Este pregador do deserto pregava uma mensagem de arrependimento profundo para todas as pessoas. Mensagem apropriada para um mundo de grande distorções com poucos ganhadores e muito perdedores.
A frase principal do João Batista esta em João 3,30: “Convém que ele cresça e que eu diminua.” Aplicada a esta nossa terra invertida pode ser lida como um apelo aos fortes para que declinem da sua força para dar espaço aos fracos. E como uma palavra de força aos fracos para acreditarem na sua capacidade de se fortalecer. Assim inverte-se o mundo até ele ficar mais perto do jeito que Deus quis e que é bom para as pessoas.
Até o momento que isto se completa temos a comunidade como a da Capela de Cristo para ensaiarmos esta inversão boa das coisas.
Pastor Guilherme Nordmann