Meditação - Natal em Junho

Convém que ele cresça e que eu diminua. João 3.30

01/07/2012

A maior festa popular com raízes religiosas provavelmente não é o carnaval mas sim, o São João. Aqui em São Paulo chamamos de festa junina que acontece mais nas escolas, clubes e comunidades.

As comemorações são onipresentes ao longo do mês de junho. Em outras partes do Brasil, principalmente no Nordeste, é uma grande festa popular tanto com grandes eventos como em cada família.

De longe supera em importância a festa de Natal que só ganhou mais visibilidade a partir do apelo ao consumismo pelas propagandas.

Historicamente o São João ocupa o espaço que nos países europeus é da festa do nascimento de Jesus.

Pode ser observado um efeito prático: As pessoas simples procuram fazer alguma roupa nova duas vezes por ano: No Natal e no São João. Quando a situação não permite desistem da roupa do Natal primeiro e por último da do São João.

O que tem por detrás desta inversão no calendário litúrgico? O São João adquire ares de Natal e o Natal fica meio esquecido. Podemos somente adivinhar o que provocou esta troca.

Quando o Brasil foi colonizado muitas coisas foram introduzidas a força. A terra ficou na mão de poucos que deixaram os muitos com muito pouco. O que existia aqui era desprezado, somente o que vinha de fora tinha valor.

Assim também fez a igreja: Entre outras coisas introduziu o calendário litúrgico europeu com toda sua simbologia ligada ao ciclo da natureza sem observar os efeitos que isto iria provocar num país do hemisfério sul.

A páscoa cujo lugar estava na primavera do renascimento da vida ficou no outono que simboliza o fim, a decadência da coisas. E a festa do Nascimento de Jesus saiu do momento mais escuro do ano quando a luz começa a aumentar, para o momento mais claro no verão com a luz diminuindo.

Pode se levantar a hipótese que o povo sentiu a necessidade de uma festa religiosa forte nos dias escuros e lá deu de cara com São João.

E em torno deste santo um tanto esquisito desenvolveu-se uma espécie de Natal brasileiro. E pode muito bem ser que o personagem do João Batista combinava com o sentimento de vida do povo. Este pregador do deserto pregava uma mensagem de arrependimento profundo para todas as pessoas. Mensagem apropriada para um mundo de grande distorções com poucos ganhadores e muito perdedores.

A frase principal do João Batista esta em João 3,30: “Convém que ele cresça e que eu diminua.” Aplicada a esta nossa terra invertida pode ser lida como um apelo aos fortes para que declinem da sua força para dar espaço aos fracos. E como uma palavra de força aos fracos para acreditarem na sua capacidade de se fortalecer. Assim inverte-se o mundo até ele ficar mais perto do jeito que Deus quis e que é bom para as pessoas.

Até o momento que isto se completa temos a comunidade como a da Capela de Cristo para ensaiarmos esta inversão boa das coisas.

Pastor Guilherme Nordmann


Autor(a): P. Guilherme Nordmann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Vila Campo Grande - São Paulo-SP
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 30
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 16135
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