Entre março e dezembro de 2010, estivemos, Amparo e eu, 21 vezes na Penitenciária Feminina do Carandirú em São Paulo, realizando sessões de Dramaterapia. Nestes encontros, a princípio semanais e depois quinzenais, exercícios corporais, jogos dramáticos e contos, mediaram as relações entre as 2 terapeutas e 12 mulheres detentas, em média.
As participantes de grupo eram pessoas que não conseguiam aprovação no exame criminilógico, e a consequente passagem para o regime semi-aberto. Em sua maioria estavam lá, há mais de 5 anos e carregavam o estigma de terem cometido um crime grave.
Em nosso 1º encontro quando a assistente social perguntou ao grupo, sob que base aquele grupo estava sendo formado, uma delas respondeu: "Nós esperamos uma oportunidade". Nesse momento compreendi que nós, as terapeutas, também esperávamos uma oportunidade.
Na verdade uma grande oportunidade de:
- Olhar para aquelas mulheres e ver além do erro cometido;
- Perceber que assim como todos nós que vivemos nesta época,elas se confrontaram com o mal, e na medida do possível para cada uma, fazem disso um trampolim para se desenvolverem.
- Reconhecer que a solidão é a passagem pelo buraco da agulha para que se chegue em alguma transformação.
- Que o afastamento da família, da casa, da terra, do país, é um fator de profundo desenraizamento e provoca um adoecimento social muito grave.
Parece que o sistema penitenciário atual, nada mais é do que um reflexo de um macro sistema social / economico que privilegia a desigualdade, a não fraternidade,e não recupera ninguém.
Acredito que o que cura, o que pode salvar, são as milhares de pequenas ações sustentadas pelos encontros humanos genuínos.
O que resultou destes encontros? Todas fomos tocadas, afetadas pela humanidade uma das outras.
Angela Maria Quinto
psicóloga