Por que e quando me ufano, orgulho-me ou me regozijo? O que é que tem que acontecer para que estados de ânimo tão gostosos ocorram? Temos que ter, pelo menos, uma troca constante de sons e de gestos entre as pessoas que compartilham simultânea e coletivamente as mesmas emoções.
Na solidão, não há regozijo. É na chegada de alguém muito esperado que estouramos de alegria. As celebrações de pertinência e de comunhão são os grandes momentos da vida.
Nos estádios, comemoramos, juntos, os gols que nem fizemos, mas que sentimos como nossos, se são do nosso time. Nas igrejas, oramos, cantamos nossos hinos – juntos. Nos campos de várzea, bate-se bola pelo simples prazer de ser de um time.
Raros são os adultos que não se queixam do número excessivo de horas que as crianças e os jovens ficam diante das telas sem a consciência de tudo de bom que estão perdendo. Os joguinhos não são solitários, mas o enfrentamento é com um ser virtual – que não se emociona.
A TV pode nos emocionar. Ver futebol sozinhos não nos deixa impassíveis, mas com um bando torcendo junto é melhor. Orar antes de dormir é devoção, mas é diferente da experiência coletiva do culto. Fomos sendo privados dos momentos em que nos sentimos parte de um coletivo que nos reconforta. Quando viajamos de carro e nos pomos a cantar, os cinco que lá estamos , a viagem parece mais curta.
Entoar hinos em momentos solenes pode ser uma forma de reencontro com nossos iguais... Quem, estando fora, participou com conterrâneos de comemorações solenes sabe bem como a alma agradece o bálsamo de se sentir em casa sem estar.
A sociedade em geral caiu no conto de que é careta se irmanar em som, ritmo e gesto com os iguais. Que pena!
Não deixarei de falar de como era detestado decorar os hinos oficiais ou sacros, feitos com palavras complicadas, cujos significados nem sempre sabíamos. Mas, assim como para fazer regra de três é preciso saber a tabuada, o regozijo e a ufania têm sua linguagem em comum.
Não é sábio abandonar todos os rituais de congraçamento.
Anna Veronica Mautner,
psicanalista da Sociedade Brasileira
de Psicanálise de São Paulo.
Os momentos na Igreja da Paz são expressão das delícias do estar junto, sempre teremos momentos novos para celebrar a vida e a experiência de pertencer a esta comunidade.