Publicações no âmbito da Igreja



ID: 2957

Os mansos herdarão a terra

Artigo

03/03/2021

 

O país não tem conseguido evitar aglomerações. O coronavírus avança com mutações numa condição extremamente favorável. Para o vírus, claro. Encontra na necessidade de locomoção diária dos que trabalham, e na inquietude de uma parte da população, o melhor meio de propagação.

Nos momentos de grandes ameaças despontam lideranças e estadistas. Neles, aparece a firmeza de propósito e a lealdade do serviço à comunidade. A falta desse compromisso no governante aumenta a fragilidade da população como um todo. O não líder costuma também relativizar a letalidade, alegando que ela ficará circunscrita aos fracos e idosos.

Atitudes ambíguas, que caracterizam ausência de liderança, causam insegurança e induzem reflexões e comportamentos que se voltam contra a integridade da população sem que ela, muitas vezes, perceba suas reais consequências.

Desconfortos, contrariedades e um cansaço generalizado provocados pela pandemia, evocam um sentimento de desgaste e rendição na população. O cerceamento das liberdades, do ir e vir, somados ao prolongamento da pandemia aumentam ainda mais esse desgaste e levam a aceitação do fato de que nada mais efetivo, no país, pode ser feito contra o vírus e suas consequências.

A desenvoltura e o comportamento inconsequente nos encontros nas ruas, praias, bares e cafés lembram as repetidas justificativas de Chicó, na brilhante e triste descrição de Ariano Suassuna, no Auto da Compadecida: Só sei que foi assim, concluía ele com um sorriso debochado diante das coisas da vida que se sucedem e sobre as quais ele se sente impotente para modificá-las.

Mais uma vez, a história contribui com as crônicas evidências que continuam entre nós: relevar, não comparecer de fato, diante do enorme e assustador desafio, faz com que insistamos em entregar o jogo para o adversário que hoje se chama coronavírus.

Para os inquietos e apressados é chegada a hora de se dispor a pagar para ver, enfrentando de forma voluntariosa o vírus. Ao estado psicológico acaba se somando um delicado fator religioso que catalisa um desejo inconsciente: Ao passar logo por essa doença, terei, enfim, a comprovação de que sou um predestinado. Passei no teste e fui eleito! Puro engano.

A esperança hoje reside na volta ao bom senso, à racionalidade e reverência diante da vida, sua fragilidade, encanto e beleza.

Bem-aventurados os cuidadosos e humildes, pois eles herdarão a Terra”. (Conforme Mateus, capítulo 5
 


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