Do púlpito ao palanque
A grande aceitação da sua candidatura pela comunidade luterana foi o que mais marcou o pastor Hélio Schaidhauer Pacheco em sua primeira experiência num processo eleitoral. Pacheco foi eleito com 1.301 votos para ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Novo Hamburgo (RS) nas últimas eleições municipais, em 1996. Minha votação foi maciça na Comunidade Evangélica de Canudos, concluiu. Canudos é o mais populoso bairro de Novo Hamburgo, e Pacheco foi o mais votado naquele bairro. Nascido em Camaquã (RS), em 1957, ele é casado com a pastora Regina Bohrz, tem duas filhas e um filho. Formou-se na Faculdade de Teologia da IECLB em 1983 e atuou em duas paróquias ao longo de seus 14 anos de pastorado: em São Sepé (RS) e Novo Hamburgo (RS).
Anuário: O que levou você a candidatar-se a vereança em Novo Hamburgo?
Pacheco: Minha fé e confiança no projeto de vida que Deus tem para com seu povo e minha visão de Igreja e sociedade motivaram-me a encarar unia candidatura política. Também influenciou o descontentamento com a política que se faz hoje. Meu sonho era que as pessoas da nossa comunidade se engajassem mais nas lutas sociais da cidade. Mas ninguém quis encarar um cargo político. De tanto eu empurrar os outros, eu próprio acabei sendo empurrado para uma candidatura. Meu nome foi lançado por um grupo de cristãos evangélicos e católicos de Canudos. Hoje, estamos juntos num projeto comunitário e participativo de fazer política, que quer uma vida mais digna para as pessoas de nossa cidade.
Anuário: Por que você optou pelo Partido dos Trabalhadores?
Pacheco: A história política do PT combina mais com o projeto de Reino que Deus tem. O partido é caracterizado por princípios comunitários, participativos. O PT é uma das reservas éticas e morais da sociedade brasileira, comparado aos outros partidos políticos. E a agremiação político-partidária que mais tem contribuído para o resgate da cidadania dentro do quadro atual.
Anuário: Como foi a reação dos membros de sua comunidade à sua opção?
Pacheco: Eles reagiram de uma forma surpreendente para mim. Pensei que haveria muitas reações contrárias. Mas não houve em nenhum momento. Foi uma candidatura participativa. Tudo foi tratado com muita transparência, e assim continua. Hoje as pessoas da comunidade estão mais abertas para um projeto político similar do que a própria Igreja como instituição.
Anuário: Quais são os seus planos na Câmara Municipal?
Pacheco: Eu busco aproximar o pensamento político do religioso em âmbito municipal. Essa visão deve entrar dentro das políticas sociais. Neste sentido, temos projetos específicos. Minhas prioridades estão nas áreas de saúde, do transporte coletivo, da educação e da moradia. Procuro ser um político diferente, que parte dos princípios cristãos. Quero usar a função de vereador para fazer as pessoas compreenderem que, enquanto houver desigualdade social, somos cúmplices dessa realidade.
Anuário: Pensa em fazer carreira política?
Pacheco: Gosto muito do que faço e amo a minha Igreja. Não pensei jamais em deixar de ser pastor e largar a Igreja. A minha formação teológica me capacitou para atuar a nível político. Não me passa pela cabeça fazer carreira política.
Anuário: Como está o seu vínculo com a Igreja?
Pacheco: Não estou licenciado do pastorado. Continuo atuando como pastor na comunidade de Canudos. Esta quer continuar contando comigo como seu pastor. O meu projeto político também envolve a comunidade. Mas não penso em dasacatar a direção da Igreja, caso seja exigido o meu licenciamento. Quero frisar que não houve e não há resistência das outras comunidades de Novo Hamburgo à minha condição de vereador, pois até sou convidado a dirigir cultos em seus templos.
Anuário: O que mais marcou você nessa experiência?
Pacheco: Muito marcante foi a grande aceitação da comunidade de Canudos ao meu projeto político. Eu não esperava tanto. Senti o resultado das urnas como uma valorização do meu trabalho pastoral. Minha votação foi maciça dentro da comunidade. Foi significativo também o apoio de cristãos católicos à minha candidatura.
Entrevista realizada por Rui J. Bender, em maio de 1997
Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998