Ele é branco. Tem cabelos loiros. Olhos azuis. O sobrenome é alemão. Num encontro por acaso contou que de repente ficara doente e o médico decidiu interná-lo no hospital. Colocaram-no num quarto com duas camas, junto com outro paciente que já estava ali há alguns dias, negro, bem negro, e tinha nome luso.
Disse que não conseguiu evitar um susto. Nunca tinha se considerado racista. Nunca tinha sentido desprezo contra pessoas negras. Mas agora, ficar no mesmo quarto, não sabia por quanto tempo, ao lado de uma pessoa negra! E quando chegavam os familiares, uma, três, cinco pessoas negras, de repente o preconceito contra a cor negra ameaçava ganhar Força.
Teve que travar uma acirrada luta interior para manter a cabeça lúcida. Com pessoas negras, mais ou menos longe, ele achava que nunca tinha tido problemas. Mas esta proximidade inesperada mudara as coisas.
Mas aos poucos a boa educação, a fé, um bom dia de manhã, um boa noite, foram ganhando espaço e aos poucos a conversa começou a ficar mais livre. E logo um gesto de ajuda mútua facilitava a vida para os dois lados. Um amor ao próximo mais forte que o preconceito começou a ganhar liberdade crescente.
E quando, alguns dias depois, os dois ganharam alta do hospital e puderam voltar para casa, eles não estavam curados apenas no aspecto físico. O interior deles, a alma deles, tinha ganhado muito maior maturidade. Na verdade, os dois tinham passado por uma profunda experiência: o amadurecimento.
De longe nós dizemos com muita Facilidade que não temos preconceito, mas de perto e lá no fundo as coisas não são tão simples assim. Às vezes, só uma experiência concreta, às vezes até traumática, nos concede a oportunidade de ganhar maior pureza de sentimentos e ação.
Não faz muito tempo nós festejamos o nascimento do Filho de Deus. Ele nos dá a visão, e a capacidade de agir de acordo, de que perante Deus todas as pessoas têm valor igual. O apóstolo Paulo diz em Gálatas, capítulo 3, versículo 4, que quem foi batizado e está revestido de Cristo não Faz e não tem diferença de valor entre judeu, grego, escravo, liberto, homem, mulher.
Se nós atualizarmos isso para nossos dias e nossa sociedade, especialmente também para nossas igrejas cristãs, vão acontecer coisas tão ou mais bonitas como aquela daquele quarto de hospital. Brancos e negros, e outros grupos diferentes, vão aprender a conversar, a conviver e a se ajudar uns e umas a outros e outras.
P. em. Wilfrid Buchweitz
Fonte: Anuário Evangélico, 2019